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Bibliografia
Política e literatura

1958

AYALA, Francisco. El escritor en la sociedad de masas. Buenos Aires: Editorial Sur, 1958.

O escritor, crítico literário e pensador espanhol reuniu alguns ensaios para registrar a  perplexidade do literato frente ao mundo moderno; qual  posicionamento do escritor ante uma sociedade comprometida com o consumo; que meios dispõe a literatura para continuar sendo o farol da humanidade. Abre o livro com um capítulo intitulado “Para quem nós escrevemos” e fecha com outro que dá título ao livro, sobre o qual repousa este resumo. Está visto no título destes capítulos a importância do escritor na sociedade. “A função do escritor, se não a tomamos em um sentido parcial e superficial, resulta imprescidível para uma sociedade onde já sucumbiu todas as instâncias tradicionais de autoridade espiritual que sustentavam sua cultura”. Reitera esta importância com uma pergunta: “Quem, senão ele, proporá às multidões uma interpretação congruente das realidades circundantes? Quem praticará os ajustes indispensáveis para manter em pé uma idéia do mundo que lhe proporcione um marco comum de referências?”. Para ele está claro que o problema do escritor na sociedade de massas não é um problema apenas seu, enquanto escritor, e sim de “toda a sociedade, que, na falta de um guia intelectual adequado se move sem direção”. Seu presuposto teórico é que as mudanças ocorridas no mundo moderno estão “desplazando”, colocando fora de lugar e privando de sentido o homem de letras. Tal processo teve inicio há algum tempo com a crise da sociedade liberal burguesa. O surgimento de uma nova classe – o proletariado – exigiu uma nova literatura adequada às características desta nova classe. Mas o que se vê na “cultura proletária” ao fim de 40 anos (não esquecer que este livro foi escrito em 1958) é um “mero detrito da esgotada burguesia”. Mesmo a produção soviética no seu inicio e os recursos que o novo regime oferecia permitiu aos intelectuais russos elaborar algumas obras de valor inestimável que, “agora, visto em perspectiva, se nos mostra como resíduo da tradição pré-revolucionária, como um retorno tardio que de maneira alguma poderia considerar-se representativa da arte proletária”. A arte proletária, “se existe, deve identificar-se com o que agora se chama ‘realismo socialista’: pintura putrefacta, novelas chatas e patrioteiras, poesia de propaganda e filmes vulgares e toscos em que se degenerou a soberba cinematografia revolucionária russa”. Desse modo, os escritores soviéticos tornaram-se burocratas privilegiados e mimados a troco de uma total servidão e submissão aos critérios do Estado soviético. Mas voltando ao nosso mundo ocidental, “onde sem revolução proletária, também se extiguiu a burguesia, dissolvida numa sociedade de massas com capitalismo de estado... levada  por critérios que impõem uma seleção inversa, mecanicamente operada pelo número e pela massa”. Neste novo mundo o escritor disfruta de relativa independência. Claro está que se trata de uma autonomia relativa uma vez que depende de gigantescas empresas editoriais, as quais são movidas por uma estética comum, pelo gosto público, que muitas vezes não é caracterizado pela excelência artística. Em tal estrutura, “o trabalhador intelectual deixa de ser o sujeito ativo da comunicação para se reduzir a condição de peça intercambiável, ao serviço do mecanismo, que por sua vez opera muito deliberadamente sobre as massas”. Assim, a exigência de ampliar cada vez mais o público sobre o qual se quer influir com propósitos comerciais, dá lugar “uma incessante seleção inversa na qualidade dos produtos oferecidos para catptar sua atenção”. Aqui entra a publicidade como motor principal do desenvolvimento. E como se amplia este mercado? “ Mediante a apelação aos estímulos mais comuns, com  o abandono paulatino dos graus superiores...O único interesse é ampliar o número de leitores, de espectadores, de ouvintes”. É sabido que o gosto pode ser educado, e nisso consiste o trabalho da cultura. E, também, pode ser “deseducado”, e nisso consiste, de certa forma, o trabalho da publicidade ao nivelar por baixo o gosto do público. “A função de guia que normalmente desempenham na sociedade os órgãos ativos da cultura, e que na época burguesa competiu ao escritor livre, foi deserdada e, atualmente, ninguém a cumpre”. Vivemos, então, numa época onde os escritores do tipo tradicional estão quase desconectados das massas. Diante disto só nos resta, “como sugeriu Sartre no ensaio O que é literatura: o escritor autêntico e dotado do sentido da responsabilidade, deve dirigir-se ás novas técnicas de comunicação (cinema, radio, etc) e forçar seu acesso”. Mas isto não fácil e se Sartre conseguiu alguma coisa neste sentido é porque na França os escritores ainda conservam (não se sabe por quanto tempo) uma grande autoridade social. Para efeito de conclusão e vislumbrar alguma luz no horizonte apresenta-se algumas posssibilidades que devem ser trilhadas no sentido de resgatar o papel social do escritor. Em primeiro lugar é preciso aproveitar a necessidade de renovação propiciada por esta mesma sociedade de massas. “A necessidade de uma certa renovação nos conteúdos abre aqui, pois, certas oportunidades que não devem ser descartadas; pelo contrário, devem ser exploradas a fundo”. Em segundo         

                

1965

CÂNDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: Cia. Ed. Nacional. 1965.

(resumo)

1977

LINS, Osman. O escritor e a política. O Estado de São Paulo (Suplemento Cultural),  03/04/1977

(resumo)

1978

QUEIROZ, Carla de . Ignazio Silone, da política à literatura. O Estado de São Paulo, (Suplemento Cultural), 10/09/1978

Notícia do falecimento de Ignazio Silone e análise de sua trajetória de vida dedicada pimeiramente à política e posteriormente à literatura. Foi um escritor dos mais representativos da Itália, para quem escrever era “uma penosa e solitária continunação de uma luta”. Participou da fundação do Partido Comunista Italiano em 1921 e foi diretor do periódico socialista romano Avanguardia e redator do Lavoratore, de Trieste. Participou ativamente como ativista clandestino junto com Antonio Gramsci, esacapou do tribunal especial por duas vezes, foi exilado e continuou sua luta antifascista. Por diversas vezes representou o movimento coumunista italiano nas reuniões do Komintern, em Moscou, tendo como companheiro Palmiro Togliati. Em 1930, vivendo na Suíça, passou por uma crise política decorrente da impossiblidade de aceitar as diretrizes de Stalin. Afastou-se do comunismo, mas permaneceu na luta contra o fascismo. Tal afastamento aproxima-o definitivamente da literatura, “uma vocação latente desde a adolescência, que só pode manifestar-se com o afastamento do Partido Comunista”. Após a publicação de vários ensaios, tem seu primeiro romance publicado em 1933, em Zurique: Fontamara. O romance teve aceitação imediatata do público e da crítica estrangeira, foi traduzido para várias línguas e projetou no cenário literário europeu um nome já conhecido no campo político. Seguiram-se outras obras, todas escritas no exílio suiço: O fascismo (1934), Pão e vinho (1936), A escola dos ditadores (1938), A semente sob a neve (1942) obras publicadas na Itália só após o término da guerra. Como se pode ver até nos títulos são livros que demonstram sua “oposição a toda forma de totalitarismo e seu empenho em uma revisão sistemática da ideologia partidária”. Em 1944, com a queda do fascismo, voltou à Itália e por um breve período a vocação política uniu-se a do escritor. Reintegrou-se nas fileiras socialistas, foi deputado à Assembléia Constitutinte, dirigiu o periódico Avanti, do Partido Socialista Italiano, e o Europa Socialista. Com a cisão do Partido Socialista, afastou-se da política e dedicou-se inteiramente á literatura. Seu primeiro livro após esse período foi Um punhado de amoras (1952), seguido de O segredo de Luca (1957), A raposa e as camélias ((1960) e Saída de segurança (1965). A partir destes livros, a crítica italiana passou a rever toda a sua obra devido a  “excepcional singularidade de seu mundo poético  a ao sentido sério e profundo da vida, que é a expressão mais verdadeira de sua arte”.      

1983

RIDING, Alan. A revolução e os intelectuais na América Latina. O Estado de São Paulo (Suplemento Cultural) 10/04/1983.

Ampla reportagem destaca que “os escritores latino-americanos estão todos envolvidos, direta ou indiretamente, em questões de ordem política, diante das quais são obrigados, pela fama literária, a tomar posição. Estes intelectuais exercem grande influência política no continente porque são eles que articulam as idéias e formulam as imagens que os latino-americanos têm em relação ao poder”. Gabriel Garcia Márquez e Octávio Paz, ambos laureados com o Prêmio Nobel de Literatura, deixaram de ser amigos chegados devido ao envolvimento político: O primeiro, dito de esquerda, pelo apoio irrestrito à política cubana e amizade pessoal com Fidel Castro e o segundo, dito de direita, pela condenação a ditadura castrista. Trata-se de um retrato extraído de uma análise superficial, pois ambos, apesar de manifestarem seus posicionamentos políticos claramente, não se encontram em lados tão opostos como costumam ser colocados. Garcia Márquez, por exemplo, já admitiu que “os norte-americanos são os gigantes literários do século XX... não há outra maneira de a gente relacionar-se com a vida cultural contemporânea do que ir aos Estados Unidos”. Já o “direitista” Octávio Paz renunciou ao posto de embaixador na Índia, em 1968, em sinal de protesto pela repressão sangrenta, pelo Exército mexicano, de um movimento estudantil contra o governo. Na sua opinão “existe uma diferença enorme entre o que eu faço e o que Garcia Márquez faz. Eu tento pensar e ele repete slogans”. A revolução cubana desencadeou uma renovação de idéias entre os escritores latino-americanos, provocando um apoio unânime aos ideais castristas. Julio Cortázar viajou à Cuba já em 1961 e “quando vi o panorama com todos os seus problemas e todas as suas dificuldades – e contradições – senti-me, de certa maneira, como se tivesse nascido de novo”. Tal sentimento, semelhante a uma conversão, foi expressado claramente pelo padre e poeta Ernesto Cardenal: “Antes eu me via como um revolucionário, mas de idéias confusas. Estava tentando encontrar um terceiro caminho, que era a Revolução do evangelho, mas depois eu vi que Cuba representava o Evangelho transformado em realidade. E somente depois que me converti ao marxismo conseguia escrever poesias religiosas”. A mudança de ânimo de alguns escritores sofreu uma mudança a partir de 1971, com a prisão do poeta Heberto Padilla, motivada por “pontos de vista dissidentes que insistira em manifestar francamente e obrigado, depois, a fazer uma ‘confissão’ humilhante a fim de obter sua libertação”. Com isto Vargas Llosa rompeu com o regime cubano e a maioria dos intelectuais latinos se sentiu obrigada a contra o ato. A tradição religiosas é uma das forças que sempre influenciou os escritores latinos. “Somos os filhos de sociedades eclesiáticas rígidas”, afirma o mexicano Carlos Fuentes. “Este é o fardo da América Latina – ir de uma  igreja para outra, do catolicismo para o marxismo, com todos os seus dogmas e rituais. Sentimo-nos protegidos dessa maneira”. Trata-se de mais um dissidente do regime cubano, que, no entanto, deplora a agressividade da política de Washington, declarando: “No dia em que os EUA deixarem de atacar Cuba, Cuba não mais conseguirá mobilizar a seu favor a opinião dos intelectuais da região”. Outro país, cuja política atraiu o apoio de muitos intelectuais foi a Nicarágua, um país com forte tradição em seguir a liderança política de seus escritores. Vale dizer que “desde o tempo de Rubén Darío, o poeta modernista que tornou seu país famoso mesmo antes da ditadura de Somoza”, a Nicarágua tem sido um país de poetas. Ernesto Cardenal, Pablo Antonio Cuadra e José Coronel Utrecho são conhecidos em todo o continente. Outros menos conhecidos “desfutavam de tanto presigio quanto o médico, o professor ou o padre locais”. Assim, não foi difícil para os Sandinistas atrairem o apoio desse segmento contra o regime de Somoza. Inclusive muitos literatos ocuparam altos cargos após a revolução sandinista, tais como Omar Cabezas, Daniel Ortega Saavedra, Sergio Ramirez Mercado e Tomás Borge Martínez. “Desde a revolução, cercade 50 wokshops de poesias surgiram no Exército, na polícia e nos sindicatos, e até mesmo em organizações camponesas”. O único poeta nicaragüense que se opôs à revolução foi Pablo Antonio Cuadra.     

                 

1984

McCARTHY, Mary. O poder do romance político. O Estado de São Paulo (Suplemento Cultural), 01/04/1984

(resumo)

1985

FUENTES, Carlos. A função estética e social do romance. O Estado de São Paulo (Suplemento Cultural), 23/06/1985

(resumo)

MACSHANE, Frank. O escritor, a literatura e a política. O Estado de São Paulo (suplemento Cultural), 29/9/1985

Artigo publicado antes da morte de Italo Calvino, analisa sua trajetória como escritor bem como sua estética e ética literária, aparentemente desconectada de uma temática política. Devido ao fato de ter sido criado numa família de livres-pensadores, ser militante do Partido Comunista e guerrilheiro combatendo os fascistas, exigia-se dele uma literatura diretamente comprometida com os ideais de liberdade e com forte conteúdo político. E assim foi com seu primeiro livro: O atalho dos ninhos de aranha, romance realista baseado nas suas esperiências enquanto participava da guerilha. O livro foi bem recebido, levando seus amigos a encorajá-lo a escrever um segundo livro do mesmo tipo. Ele bem que tentou, porém percebeu que “o assunto estava muito próximo dele para poder ser usado com sucesso. Por isso, acabou abandonando o projeto”. O Calvino que conhecemos hoje ficou evidenciado quando ele publicou O visconde partido ao meio. Trata-se da história de um cavaleiro medieval cortado ao meio durante um combate. Uma das metades retorna à sua aldeia natal e passa a governá-la com mão de ferro. Enquanto isso, a outra metade se recupera e também volta a mesma aldeia com um espírito benigno que se preocupa com o bem-estar do povo. Esta narrativa fantástica não era o que os leitores esperavam, “não era socialmente ‘engajada’, mas combinava perfeitamente com o crescente amor do ficcionista pela ambigüidade”. A mudança de direção impressionou os amigos e ele continuou com o novo estilo em mais dois livros: O cavaleiro inexistente, a respeito de um dos cruzados de Carlos Magno, que na verdade é uma armadura vazia funcionando apenas através da força de vontade, e O barão rompante, a história de um nobre do século XVIII, que se rebela contra a autoridade dos pais quando criança e passa a viver nas árvores. Mais tarde estes três livros forma publicados num volume intitulado Nossos antepassados. Calvino disse que O cavaleiro inxistente é “em parte, um ataque contra o homem de organização, ao passo que O visconde partido ao meio foi influenciado pela divisão provocada pela Guerra Fria”. Já O barão rompante representa a sua própria posição política, porque o barão sempre permanece nas árvores e nunca desce para se envolver nos detalhaes da vida política e social. Calvino sugere que, “a distância, podemos ver mais claramente do que quando mergulhamos nos detalhes do mundo que nos cerca”. Ele se desligou do Partido Comunista em 1956, depois da revolta húngara, e no mesmo ano se envolveu na edição de uma coletânea intitulada Contos populares italianos. Duarante dois anos se viu imerso num mundo de castelos e castelos encantados e foi sentindo que este mundo não era uma alucinação. “Os contos populares são reais. Eles abordam os destinos potenciais dos homens e mulheres... começando com o nascimento, a partida do lar e, finalmente, através das dificuldades do amadurecimento, abordando a obtenção da maturidade e a prova da humanidade dos homens”, declarou.     

     

2001

PONTES, S. Heloisa. Entrevista com Antonio Cândido. Revista Brasileira de Ciências Sociais. S.Paulo, v. 16, nº 47, out. 2001

(resumo)

2002.

DENIS, Benoit. Literatura e engajamento: de Pascal a Sartre. Florianópolis/Bauru: EDUSC/Editora da Universidade do Sagrado Coração, 2002. 

BURUMA, Ian. Os escritores e a consciencia do mundo. O Estado de São Paulo, 21/04/2002 (Tradução de José dos Santos)

O prestigiado articulista da New York Review of Books analisa as declarações políticas desastrosas de quatro grandes escritores, procurando encontrar alguma razão para tão estapafúrdias opiniões sobre questões que, normalmente, chocam o mundo devido a abrangência de suas repercussões. O primeiro escritor enfocado é José Saramago, que declarou na Cisjordânia: “O que está acontecendo aqui é um crime que pode ser comparado com Auschwitz”. Ele estava participando de uma reunião do Parlamento Inernacional de Escritores (PIE), em Ramallah e fazia referência à campanha militar israelense naquela área. O segundo é Gunther Grass, que disse em 1989 que Auschwitz deveria impedir a reunificação da Alemanha dividida. O terceiro é Gore Vidal, que, durante a Guerra do Golfo, afirmou que Sadam Hussein não era pior do que o departamento de polícia de Los Angeles. Por último, temos a escritora indiana Arundhati Roy, que comparou a construção de uma represa hidrelética em seu país e o conseqüente deslocamento dos moradores ao Holocausto. Tal análise é baseada num ensaio de Hanah Arendt sobre o envolvimento político de Betolt Brecht, onde afirma: “nem sempre os poetas são bons e confiáveis cidadãos”. Verifica-se que “a poesia de Brecht foi negativamente afetada por sua perversidade política. Suas odes elogiando Stalin não apenas particularmente odiosas, mas também poeticamente ruins. No caso de Brecht, a política envenenou sua arte”. Arendt credita a desorientação política de Brecht a sua ligação com o Partido Comunista, ou seja “a sua compaixão pelos pobres e humilhados”, que o autor considera ser verdade neste caso. “Mas eu acho que o engajamento de escritores em outros casos tem sua origem em algo mais sinistro, em sua atração pelo poder – ou pelo seu oposto, ou seja, numa frustração e até mesmo uma sensação de mal-estar por se sentirem excluídos do poder”. Nos regimes democráticos, os escritores são prestigiados mas “não são levados a sério como personalidades políticas, nem deveriam sê-lo”. Os escritores não representam ninguém nem a política é o tema principal da maioria das obras literárias de ficção. Não obstante isto, os “Zolas de nossos dias continuam escrevendo pomposas cartas abertas a dirigentes políticos como se seu talento emprestasse um peso moral particular às suas opiniões”. O outro papel adotado pelos escritores é “o de um clero literário... Se colocam como a consciência pública, como os árbitros do que é bom e do que é mau no mundo”. O autor diz sentir-se chocado em tais situações em que o bem e o mal estão longe de serem coisas bem definidas. Considera que a história que levou à atual violência no Oriente Médio “está saturada de má-fé em todos os lados”. Os palestinos estão sendo oprimidos e humilhados, mas isto não pode justificar a estratégia política apoiada por um Estado de enviar adolescentes a um restaurante para cometer um assassinato em massa. Porém se colocarmos os escritores num lugar infernal, eles farão aquilo que melhor sabem fazer: descrever o que vêm e expressar seus sentimentos. Haveriam de ser insensíveis para não se comover com tamanha tragédia. No entanto, o PIE não esteve na Cisjordânia simplesmente para descrever, não eram repórteres. A reunião foi feita para promover a causa palestina, para tornar-se partidário dessa causa. Foi por isso, supõe o autor, que Saramago recorreu à comparação com Auschiwitz, e o fato de que “um grande escritor tenha sentido necessidade de meter-se nessa perigosa esparrela atesta o caráter tenebroso do que ele viu realmente ao seu redor. O resultado não é apenas má política, mas também má literatura”.                        

2004

SCHEIBE, Fernando. Coisa nenhuma: ensaio sobre literatura e soberania ( na obra de Georges Bataille). Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. Doutorado sob orientação de Raul Antelo. 2004.

A soberania não é NADA". Esta tese busca reconstruir o percurso que levou o escritor francês Georges Bataille (1896-1962) do "baixo materialismo" à soberania. Mas a um conceito de soberania completamente dessubstancializado e depurado de seus vínculos com o poder. Busca ainda pensar a relação deste conceito com a literatura tomada como crise e crítica do regime da representação.   

2005

GINSBURG, Jaime. Literatura, política e violência. In: VII Seminário Internacional: Literatura e Política. PUC/RJ, 29/11/2005OLINTO, Heidrun Krieger. Teorias da literatura e política. Idem SCHOLLHAMER, Karl Erik. O realismo política as a política do realismo. IdemJUNGER, Ernest. Literatura e fascismo. Idem   

  (resumo)  

DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura, política, identidades. B.Horizonte: Ed. da UFMG, 2005

2006

MALARD, Letícia. Literatura e dissidência política. B.Horizonte: Ed. da UFMG, 2006 (Coleção Humanitas)  (resumo) MORGATO, Isabel; GOMES, Renato C. (orgs) Literatura, política, cultura. B.Horizonte: Ed. da UFMG, 2006 (Coleção Humanitas)

  (resumo)

ORWELL. George. Literatura e política: jornalismo em tempos de guerra. São Paulo/Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.

A inclusão deste livro na bibliografia não se deve apenas a importância do autor e de sua reconhecida condição de “escritor engajado”. Foi o escrior político mais influente do século 20 e, segundo o historiador Timothy Garon Ash, sua importância para o século 21 “é fundamental por revelar  como a corrupção da liguagem é parte essencial da corrupção política”. 1984, um de seus livros mais conhecidos e premonitório revela o uso ditatorial da informação para controlar as mentes de toda a sociedade, cujo tirano não é nenhum ditador sanguinário, e sim um sofisticado sistema de controles midiáticos. Temos aqui um amplo painel do pensamento político do autor, constituído por 23 artigos sobre temas diversos, tais como a independência da India, resistência francesa, Alemanha no pós-guerra, guerra civil espanhola, Rússia marxista, ocupação francesa etc. e 37 resenhas analisando obras de Balzac, Eliot, Dostoievski, Julian Huxley, Joseph Conrad etc. Arthur Ituassu, que fez a seleção do material, assinala na introdução: “A arte de Orwell é certamente engajada, mas isso não significa prejuízo para a arte, que assim não obedece ao pensamento político, mas de fato o constitui”.    Todas as matérias foram publicadas no jornal britânico Observer, no período 1942-1948, onde trabalhava como crítico cultural. Ou seja, abrange o final da Segunda Guerra Mundial e o início da guerra fria, um período crucial na história da humanidade.

 

2008

SOUZA, Thana Mara de. Sartre e a literatura engajada: espelho crítico e consciência infeliz. São Paulo; Edusp, 2008.

Literatura e filosofia são dois procedimentos diferentes de elucidação da realidade humana, mas de alguma maneira se atraem e convergem para o mesmo propósito: a compreensão da existência. Neste livro, Thana Mara de Souza mostra que a prosa, em Sartre, não é apenas comunicação de idéias, mas convocação da liberdade do leitor para assumir, tanto quanto o escritor, o compromisso que gerou a obra. Nesse sentido, o imaginário não é um refúgio, mas um lugar privilegiado de onde se podem adotar posições críticas de transformação da realidade. Acentua também o caráter singular da concepção de prosa do filósofo: a imbricação entre estética e ética, ou a forma narrativa na qual se revelam os traços mais originais do processo de constituição da existência, muitas vezes tão paradoxais que somente o movimento da articulação literária logra expressá-los com alguma fidelidade.