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Cinema
Jorge Fons

"Li El callejón de los milagros e vi que a trama se adaptava muito bem à realidade mexicana. Comprei os direitos autorais e realizamos o filme, que alcançou sucesso sem par na minha carreira e tornou-se uma das maiores bilheterias da história do cinema de meu país... (Naguib Mahfouz aprovou e gostou muito da adaptação) Ele ficou tão satisfeito que me convidou para sua festa de 85 anos, realizada no Cairo. Mahfouz conhecia as facilidades e as dificuldades que tive para aclimatar seu romance à realidade mexicana. Temos semelhanças com a cultura egípcia. Somos, ambas, culturas antigas, passamos pelo mesmo sofrimento de submissão a domínios coloniais, convivemos com pobreza gritante, imensas desigualdades sociais, carregamos a marca do subdesenvolvimento típico dos países do Terceiro Mundo. A diferença mais significativa, para mim, está no fato de nós, mexicanos, sermos católicos, enquanto os egípcios são muçulmanos. Do ponto de vista dramático, encontramos elementos muito semelhantes. Um deles é a necessidade de imigração, tormento de nossos povos. Os egípcios – o livro de Mahfouz se passa na década de 1940 – estavam envolvidos com os colonizadores ingleses. Nós, mexicanos, com os EUA. Desde a Segunda Grande Guerra que vivemos uma relação de complexa dependência com nossos vizinhos do Norte. Temos três mil km de fronteira a nos separar dos EUA. Temos uma Guarda Nacional atenta e pronta para maltratar os que fogem, ilegalmente".

Fonte: CAETANO, Maria do Rosário. Cineastas latino-americanos: entrevistas e filmes. São Paulo: Estação Liberdade, 1997.

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