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Como escreve?
Mario Vargas Llosa

"Sou um escritor compulsivo, deixo as idéias virem cegamente e no começo trabalho com intuição, depois entra a razão. Então reescrevo várias vezes e levo tempo trabalhando no livro... Só termino quando sei que ou acabo com o livro ou ele acaba comigo. Conversas na catedral e Guerra do fim do mundo tomaram três anos. Quando me perguntam de que livro gosto mais, tendo a achar que foram esses, pelo trabalho – mas não atraiçôo nenhum. Outros levaram um ano, um ano e meio. Nenhum tempo é demais, porque escrever mais do que uma atividade, é uma maneira de viver... Não é uma atividade normal: escrever é reorganizar internamente a vida a serviço da imaginação. Escritor não escreve para viver. Vive para escrever. É a entrega total a essa coisa efêmera, a palavra... Só (uso computador) na segunda etapa. A primeira é um ritual artesanal, com papel, cadernos, tinta. No começo, tudo é difícil e lento, torturante. Só quando a história flui posso relaxar, porque sei por onde vou. Espantei-me quando Cortázar disse que escreveu Jogo da amarelinha dia a dia sem saber no que ia dar. Meu processo é desordenado no princípio, mas depois é de um rigor absoluto. Emoções, fantasias, sentimentos não valem nada a um escritor sem ritmo, adestramento, domínio sobre a técnica, organização do tempo."

Fonte: O Estado de S.Paulo, 15 de novembro de 1997- Norma Couri.

"Em meu caso, guiar-me pela espontaneidade, pela intuição, pelo que se chamou em certo tempo a inspiração, na qual eu não creio, seria fatal. Comprovei que o que escrevo sem revisão, sem paciência, sem muita obstinação, resulta sempre caótico, incoerente; que as primeira versões são materiais, muito deficientes, são até pouco legíveis; é evidente, pois, que necessito de um método especial para escrever. Necessito, através de várias adaptações dos episódios, descobrir qual é o tratamento que convém mais para cada situação, qual é a técnica apropriada para aproveitar melhor as vivências que cada episódio pode encontrar em si. Por outro lado, penso que o romance em si mesmo exige constância, um rigor mais estrito do que outros gêneros. É compreensível que um poeta escreve guiando-se, às vezes, pela espontaneidade, que não seja laborioso e disciplinado. Todavia, o romance, que é a criação de um mundo mais vasto, exige que o escritor vá de certo modo vivendo este mundo interiormente, vá-se incorporando a ele, vá sendo aceito por este mundo. Creio que isto somente se pode conseguir através de disciplina, constância e pacieência.

Fonte: LORENZ, Gunter W. Diálogo com a América Latina. São Paulo: EPU, 1973.

 

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