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Contos

            Sob o fio da navalha

                                                                                          Fernando Scaff

                Não pensem mal de Levelin, ele não pensaria assim de vocês. Aquela facada, por deus, existe como explicar esse incidente? Devíamos pensar: Ele quis enfiá-la no corpo de outra pessoa? Ele quis tirar sua vida?  Sujar suas mãos de sangue?

              Que ser humano provido de tais faculdades mentais, como Levelin possui, tomaria parte em tal atrocidade? Nós, humanos, que nascemos e morremos, vivemos cada dia como se fosse o ultimo, mataríamos?

              Levelin é um humano como nós, e jovem. Aquela senhora estava em seus últimos momentos de vida, e não digo últimos por se ter findo a sua existência naquela lamina, mas por já estar encaminhada, teve, somente, seu prévio fim antecipado. Da lenta fatalidade, para a fatalidade súbita. Creio que isso se chama piedade, misericórdia.

              A crueldade que dizem o acusadores, são as crueldades dos julgadores. Julgar, rotular, não seria um pré-conceito? Julgar um homem por quem ele é não torna errado também julgar suas atitudes?

              Somo escravos de nossas emoções, nossos impulsos, e estes são nossos limites. Como contê-los? Tendo em mãos o incentivo final, a arma, que dita o poder e nos escraviza ainda mais?

              Nisso, se temos de achar culpado, então culpemos as hordas a proclamar “assassino” nas ruas. Culpar esses que julgam e, assim, com violência criam mais violência, fugindo do principio de ser um humano melhor, e tornar melhor nossa sociedade.

               Um caso, senhores, de redenção e maturidade, de alguém que, ao viver, vive intensamente. Cumprindo seu papel como individuo em uma sociedade que segue, a passos largos, rumo ao progresso, como nós que rumamos da vida para a morte, tendo como martírio e sacrifício, viver sob a condição humana.

              Disse o advogado, e o pai de Levelin concordou, e a mãe de Levelin concordou, e o saguão ficou em silencio, e no mundo calado ecoou o martelo da liberdade.

              O sol se escondeu em um eclipse.

              Até quando?

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Fernando Scaff Moura é

um dos promissores alunos da Oficina Literária de Isabel Furini, em Curitiba, e colaborador do Tiro de Letra.

 

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