SESSÃO

Margarete Hülsendeger

     É noite de sessão.

     O tambor já começou a tocar: tum-tum, tum-tum, tum-tum-tum...

Todos estão a postos. Tensos e relaxados. Ansiosos e alegres. Brancos, negros e mulatos. As vozes se fazem presentes e o ponto começa a ser cantado. A vibração aumenta e as bocas se abrem e fecham buscando o ritmo, buscando a sintonia.

     Tudo vibra. O tambor bate, as vozes se elevam e o ponto segue: puxando, segurando e firmando.

     Os filhos-da-casa aguardam, pois sabem que não tarda. Todos sentem.

     De repente, um corpo gira ao som do tambor e de todas aquelas vozes. Um “outro” invisível segura e sustenta o corpo que rodopia, dominado por uma força que ninguém consegue ver, mas todos conseguem sentir. O invisível começa a tornar-se visível.

     A roda se abre e o corpo roda com mais vontade, acompanhando o ritmo da música e deixando-se envolver pela energia que inunda o ambiente. O corpo gira, vibra e parece se expandir.

     Tudo naquele espaço torna-se diferente. Algo difícil de descrever se faz presente. O tambor e as vozes não param, ajudando a iluminar o caminho que esse “outro” está prestes a trilhar. O que ocupa o corpo deve ser convencido a sair, para que o “outro” possa se manifestar. Ele precisa chegar. Ele precisa se firmar. Ele é espírito, mas agora, também, matéria. O tambor e as vozes cumprem a sua missão: atrair energia para que o “outro” possa fazer-se presente ocupando uma matéria que não é dele.

     E quando todos menos esperam o “outro” está, o “outro” é. Ele se firma manipulando a energia que está a sua disposição. Ele ouve o tambor e dele extrai a sua força. Ele ouve as vozes dos filhos e nelas encontra segurança para se saber bem-vindo. Seu grito é ouvido, por todos, dando o sinal de que a sessão está prestes a começar.

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Margarete Hülsendeger
Cronista e contista gaúcha, autora de E todavia se move (Epur se muove) publicado em 2011 pela ediPUCRS. Colabora regularmente com as revistas "Entretextos", "Virtual Partes"; os sites "Argumento. Net", "Portal Literal" e "Tiro de Letra