Volta para a capa
Conto canino
Boa de garfo

Luiz Vilela

     “Bom-dia” foi, naturalmente, a primeira coisa que meu pai disse ao homem.
      A segunda, só podia ser aquela “E essa fera aí?”
      A fera, que estava junto ao homem, era um cachorro fila, rajado, de um tamanho que eu nunca tinha vista na vida; um cachorro enorme. A gente ficava frio só de olhar para ele – aquela cabeçona com as beiçorras dependuradas.
      Mas o homem disse que não precisávamos ter medo, não tinha perigo.
       “O senhor tem certeza que não morde?” Perguntou meu pai.
       “É ela”, disse o homem, com um sorriso meio envergonhado.
       “Ela ou ele, a mordida dói do mesmo jeito”, disse meu pai.
       “O senhor pode ficar tranqüilo”, disse o homem: “Ela, quando não gosta de uma pessoa, vai logo avançando”.
       “É?”, disse meu pai, “Quer dizer se ela não tivesse gostado de mim, ela já tinha avançado...”
       “Tranquilamente”, disse o homem.
       “Tranqüilamente”, repetiu meu pai.
       “Mas eu sabia que ela não ia avançar”, disse o homem: “Eu sei o tipo de gente que ela não gosta: Bêbado, por exemplo, ela não pode nem sentir o cheiro”.
       “Ainda bem que eu não bebo”, disse meu pai com alívio.
      “O senhor pode ficar tranqüilo”, tornou a dizer o homem, “ela é mansinha...”
       Acho que meu pai não ficou tão tranqüilo, mas precisava continuar a conversa e convidou o homem a sentar-se numa das cadeiras do alpendre: o homem sentou-se. Depois meu pai sentou-se. Eu continuei em pé, no canto, olhando. A cachorra foi ficar ao lado do homem e sentou-se nas pernas de trás.
       O homem era miúdo, franzino. Era mulato, e tinha um bigodinho ralo e achinesado. Sua roupa estava com remendos, mas muito limpa – o que era bom sinal. Meu pai dizia “Se o sujeito não tem cuidado nem com a própria roupa, como eu posso esperar que ele tenha cuidado com o serviço? Meu pai devia ter gostado daquilo.
      O de que meu pai visivelmente não estava gostando era aquele animalzão parado ali, na frente, de olhos fixos nele. Mas a cachorra não parecia estar vigiando-o: parecia ser apenas curiosidade – como se ela também estivesse interessada na conversa. Mesmo assim, meu pai falou:
      “Escuta, será que ela não gostaria de dar umas voltinhas por aí enquanto a gente conversa? Tem muito passarinho ai: ela não gosta de pegar?”
       “Gostar, até que ela gosta, mas...”. o homem pareceu sem jeito de dizer:”é que não se afasta de mim por nada desse mundo; ela é muito apegada...” Olhou então para a cachorra e fez um carinho na cabeça dela: a cachorra retribuiu com um latido que fez tremer o ar no alpendre.       “Ela é muito afetuosa...”
      “É”, disse meu pai, um tanto quanto assustado, “eu estou vendo...”
Tentando esquecer a cachorra – o que não era muito fácil – meu pai prosseguiu a conversa:
     “Bom, como o senhor já sabe, meu negócio é hortaliça; comecei há pouco tempo e estou precisando de uma pessoa com bastante prática.”
O homem sacudiu a cabeça. A cachorra, quieta, olhava para meu pai.
     “Eu tive boas informações sobre o senhor, fiquei sabendo de seu trabalho... Agora nós precisamos conversar, ver se a gente combina; são várias coisas...”
      Ao falar assim, meu pai olhou para a cachorra; não sei se foi intencional, querendo dizer que a cachorra era uma das “coisas”, mas estava claro que ela o preocupava. Quando ele mandou o recado para o homem vir ao nosso sitio, ele não sabia que o homem viria acompanhado daquele cachorrão – o mais certo seria dizer o cachorrão acompanhando aquele homem - e, era evidente agora que a cachorra tinha de ser levada em conta na combinação deles.
      Houve uma pausa.
      O homem tirou do bolso da camisa um cigarro de palha, já começado, e acendeu em densas baforadas; Depois ficou olhando para fora, a espera de que meu pai prosseguisse.
      “Bem”, meu pai prosseguiu: “por quanto o senhor viria?”
      “Quanto de chão tem aqui?”
       “É o que o senhor está vendo, mais o pedaço atrás da casa, que vai até o córrego. É pouca coisa”, disse meu pai, com astúcia.
       “É, o senhor tem um sitio bem ajeitado...” o homem disse balançando a cabeça devagar; ele não era menos vivo. “O senhor planta o quê? Couve, alface, repolho...”
       “E os tomates. A maior área é a de tomate; está lá atrás, no fundo”.
       “Tomate é que é mais encrencado.”
       “É; eu tenho tido azar com os meus. Soube que o senhor é muito bom para mexer com tomate.”
       “A gente entende alguma coisa.”
       “Bom, a casa: a casa é aquela que está ali, no fundo, o senhor deve ter visto...”
        “Eu vi; parece uma casinha até boa.”
        “É, ela é muito boa”, disse meu pai, animado com o andamento da conversa; “é uma casa nova”.
        “O senhor sabe que dá até pra morar uma família ali?”
        “Dá, perfeitamente”, disse me pai. “Mas o senhor é solteiro...”
        “Sou, pela graça de Deus.”
        Meu pai riu:
        “É, às vezes ser solteiro é mesmo uma graça...”
        O homem riu também.
        Então os dois ficaram sérios de novo para prosseguirem a conversa.
        “A bóia”, perguntou o homem: “como que é?”
        “A bóia é por conta do empregado”, disse meu pai.
        “Sei”, o homem balançou a cabeça concordando.
        Houve uma pausa.
        “Então”, perguntou meu pai: “por quanto o senhor viria?”.
        O homem olhou para o cigarro e limpou com o dedo a cinza na ponta; pareceu refletir. Então olhou para meu pai:
        “Por quinhentos eu viria.”
        “Quinhentos?”, meu pai quase caiu da cadeira.
        Um outro empregado, em que ele estava também interessado e que aparecera lá em casa poucos dias atrás, pedira trezentos e cinqüenta, e parecia tão bom quanto aquele, senão melhor – pelo menos, era bem mais forte.
      “O senhor está querendo demais”, disse meu pai; “o senhor vê que a área é pequena, a variedade dos produtos pouca, a casa boa...”
      “Quanto a isso não há dúvida”, disse o homem.
      “Eu soube que o senhor trabalha bem”, continuou meu pai; “tive muito boas informações. Mas por esse preço, sinceramente... o senhor há de reconhecer que é demais...”.
       “Eu reconheço”, disse o homem.
       “Então?”
     “A questão é que...”, o homem se mexeu na cadeira, meio incomodado. “Eu vou dizer pro senhor: cobrar caro pelo meu serviço, eu até que não cobro não. E vou dizer por quê: porque meu gasto é pequeno. Beber, eu não bebo; não sou enredado em saia; de vício, eu só tenho mesmo o cigarrinho. O senhor vê que é pouca coisa. A questão é que... A questão é a Bebé.”
       “Bebé? Quem é a Bebé?”
       “A cachorra”.
       “Ah, a cachorra; quer dizer que ela chama Bebé...”
       “Bom, o nome mesmo não e esse; Bebé é apelido”.
       “E qual é o nome?”
       “Elizabete.”
      “Elizabete?...”, meu pai arregalou os olhos. “É um nome bastante original para cachorro... Confesso que eu nunca tinha visto uma cachorra com esse nome...”
       “Era o nome da madrinha”, disse o homem.
       “Madrinha da...”
       “Minha madrinha”
      “Ah”, disse meu pai. “Ela deve ter ficado muito contente; sua madrinha...”
       “Não, ela não chegou a conhecer a cachorra não; ela morreu antes, que Deus a tenha”, e o homem ergueu respeitosamente o chapéu. “Foi ela que me criou, minha madrinha. Era uma Santa mulher. Devo muita gratidão a ela. E então falei que quando nascesse meu primeiro filho, se fosse mulher, eu ia batizar com o nome dela. Mas eu não casei; e aí,como eu gostava tanto dessa cachorra como de um filho, resolvi por o nome nela.”
       “Compreendo”, disse meu pai.
       “Muita gente acha que isso é abuso. Eu não acho. Segui meu coração, e, pra mim, tudo o que vem do coração é certo”.
O homem olhou para a cachorra, depois para o cigarro, depois, novamente para meu pai.
      “Mas, como eu ia dizendo pro senhor, a questão é a cachorra: ela come muito.”
      “Quantos quilos ela come por dia?”
      “Quilos? Não sei, mas ela é boa de garfo.”
      “Boa de garfo? O senhor quer dizer que... que ela come muito; ou...”
      “É; ela come pra danar.”
      “O senhor pode dar ração pra ela.”
      “Ração? Ela não come: ela só come carne.”
      “O senhor dá carne pra ela todo dia?”
      “Dou; quer dizer, dava, quando eu estava no emprego, quando eu tinha dinheiro. Agora... O senhor vê que ela está magra...”
       “É”, disse meu pai, olhando para a cachorra, que continuava olhando para ele: “gorda ela não está mesmo não”.
       “Pois é...”
       “E como o senhor tem feito?”
       “Tem feito?”
       “O que o senhor tem dado para ela?”
       “Tenho dado abacate.”
       “Abacate? Ela come?”
       “Come. Mas tem que ser do liso; do cascudo ela não come não. Essa cachorra tem umas coisas que... eu vou dizer pro senhor: ela tem umas coisas em que ela é igualzinha a gente...”
       “Realmente”, disse meu pai. “Até hoje eu nunca tinha ouvido falar que cachorro come abacate.”
       “Não sei se é qualquer cachorro; essa come. Ela é compreensiva; eu expliquei pra ela que não tinha mais carne, e aí ela aceitou comer abacate. Foi a sorte, sorte minha e dela, porque lá no rancho de meu irmão, onde eu estou agora, tem um pé de abacate, e ele fica tão carregado, que eu posso dar abacate pra ela o dia inteiro. Mas, não sei, acho que abacate não é comida de cachorro...”
       “É o que eu sempre pensei”, disse meu pai.
       “Acho que ela já anda com saudade duma boa carninha...”
       “Por que o senhor não arranja um cachorro menor?”
      “Um cachorro menor?... Eu vou explicar pro senhor: essa aí, quando eu peguei ela pra criar, era desse tamaninho; eu não sabia que ela ia ficar tão grande. Eu achei ela abandonada numa estrada e fiquei com dó; não sabia quem tinha abandonado, que raça que era, nem nada. Depois é que fui vendo; o bicho foi só crescendo, não parava mais de crescer, era aquela coisa. Quando vi, já era tarde. Quer dizer, eu já estava gostando dela. Aí...”
       Meu pai sacudiu a cabeça.
      “E ela não parou de   crescer ainda não”, continuou o homem. “O    senhor que pensa: ela é criança ainda, ela só tem um ano”.
       “Ela é bem crescidinha para a idade, hem?”
       “É... Mas também só tem tamanho essa danadona”, e o homem fez outro carinho na cabeça da cachorra.
      “O senhor algum dia já pensou no tanto que o senhor já gastou de carne com ela?”
       “Não, não pensei não, mas deve ter sido um despropósito.”
       “E se o senhor, em vez de dar carne para ela, tivesse comido essa carne?”
        “Eu?”
       “É; se, em vez de dar pra ela, o senhor tivesse comido essa carne?...”
        “É verdade”, o homem baixou o olhar, parecendo refletir; então olhou novamente para meu pai: “Mas e ela, quê que ela ia comer?”
         Meu pai não soube o que responder.
        “E depois”, disse o homem, “eu não tenho problema: eu como pouco. Pra mim, tendo arroz, feijão e farinha de mandioca, não precisa de mais nada; de vez em quando um ovinho frito. Ela é que é comilona. Come por três de mim essa cachorra. É por isso que eu peço esse ordenado. O senhor sabe que a carne não está brincadeira.”
       “É, mas esse preço... O senhor não vai encontrar emprego fácil não...”
       "Eu sei”, disse o homem baixando a cabeça, “eu sei disso; mas...” e olhou para o lado, para a cachorra.
       “O senhor não podia deixar a cachorra com alguém?”, perguntou meu pai. “Com seu irmão, por exemplo...”
        O homem fez uma expressão desolada:
       “Só se fosse pra ela ficar comendo abacate todo dia...”
       “É...”
       “Mas também não ia adiantar: ela não fia longe de mim; uma vez ela ficou uma semana e quase morreu de tristeza.”
       Meu pai passou a mão pelos cabelos:
      “Se o senhor aceitasse por menos... Quinhentos é demais para mim; eu estou começando, luto com muita dificuldade... O senhor vê aí, quanta coisa ainda há por fazer...”
      “É verdade”, disse o homem, de cabeça baixa, “isso eu não nego...” depois olhou para meu pai: “Mas também vou dizer uma coisa pro senhor: a Bebé sabe ajudar, não é só comer não; pra campear gado não tem cachorro igual no mundo.”
      “Mas eu não tenho gado”, disse meu pai, já meio irritado.
      “Às vezes o senhor ainda pode ter.”
      “Não, não penso em ter gado não”.
      “Se o senhor tivesse, o senhor ia ver o tanto que ela boa pra campear.”
      “Pode ser, mas eu nunca pensei em ter gado, nem estou pensando nisso.”
       Meu pai olhou para a cachorra, quieta no mesmo lugar e sempre de olhos nele. Diabo, ele deve ter pensado, se não fosse aquela cachorra, tudo já estaria resolvido...
       Nessa hora minha mãe o chamou lá de dentro; ele pediu licença e foi. Eu fui junto.
      “Eu estava escutando a conversa”, disse minha mãe. “Quê que você ainda espera? Será que você está pensando em pegar esse sujeito? Onde você está com a cabeça? O outro pediu trezentos e cinqüenta: são cento e cinqüenta cruzeiros de diferença; quanta coisa a gente não pode fazer com esse dinheiro, a gente que vive no aperto? E, além do mais, o outro homem é muito mais forte; quê que esse tampinha aí agüenta?”
      Ele é mais competente”
     “Mais competente... Você tem hora que me dá uma raiva... Você acredita em tudo o que os outros falam... Você está acreditando nessa conversa mole? E ele ainda vem com essa história de cachorro...”
      “Essa raça come mito mesmo”
      “Que coma, que coma até uma tonelada: você acha que é para isso que ele quer o dinheiro: Ele está te levando na conversa, fazendo você de bobo. E,depois, já pensou agente com um cachorro desses por perto? Ele é capaz de comer até a gente.”
      “É ela”, disse meu pai, imitando o homem, enquanto abria a garrafa térmica para tomar uma xícara de café.
      “Despache ele logo”, disse minha mãe, “senão ele vai ficar aí até tarde, ensebando, e você ainda precisa consertar o moinho. Eu vou à cidade agora, fazer as compras”.
      Meu pai e eu voltamos ao alpendre. O homem e a cachorra estavam lá, na mesma posição, e olharam ao mesmo tempo para nós.
      Meu pai sentou-se, franziu a testa, passou a mão na cabeça:
      Quer dizer que o senhor só viria mesmo por quinhentos...”
      “É”, disse o homem; “infelizmente... É como expliquei pro senhor...”
     Minha mãe então veio e passou pelo alpendre: cumprimentou secamente o homem e olhou de um jeito nada amistoso para meu pai. Quando ela ficava com raiva, andava reta e dura como uma tábua. Lá fora, ela caminhou até o carro, entrou e, sem dar tiau, arrancou numa zangada nuvem de poeira. Nós ficamos olhando, até o carro desaparecer na curva, por trás do milharal.
     Eu já conhecia bem meu pai para saber que, quando o carro desapareceu, ele teve uma sensação de alívio. Ficou então olhando para a cachorra, e num tom em que não falara até aquela hora, disse:
      “Ela não desprega os olhos de mim...”
      “Ela gostou do senhor”, disse o homem.
      “Será?...” disse meu pai.
      Para ver, ele se curvou um pouco para frente e estralou os dedos: num segundo, com uma rapidez incrível, a cachorra estava sobre ele, as patas no seu peito, a língua lambendo-lhe o rosto, ele sumindo o quanto podia na cadeira.
     “Cá, Bebé, cá”, o homem chamou, e a cachorra obedeceu. “Eu não falei? Ela gostou do senhor...”
      “É”, disse meu pai branco de susto.
      “Ela é muito carinhosa”
      “Eu vi”, disse meu pai.
      A cachorra olhava para ele – os olhos brilhantes, o rabo abanando fortemente -, querendo se aproximar e só esperando que meu pai estralasse outra vez os dedos, o que, evidentemente, ele não fez.
       “Sua cachorrinha é pesada...”
       “É...”
       “Que dirá quando ela está bem alimentada...”
       “Ah, o senhor precisa ver:aí ela fica uma beleza; fica parecendo uma leoa.”
       “Eu imagino”, disse meu pai.
       "Fica parecendo uma daquelas leoas de circo.”
       “Eu imagino...”
       Estávamos agora os três olhando para a cachorra, que continuava alegre, abanando o rabo, os olhos brilhantes.
      “Uma pergunta”, disse meu pai, sério de novo, e o homem olhou com atenção para ele: “o senhor não acha que ela poderia pisar nos canteiros?”
     “Canteiros?... Não, ela é bem-comportada; é só a gente falar, que ela obedece. O senhor pode ficar tranqüilo.”
      “Outra coisa: e se ela gostar de tomate?”
      “Tomate?, o homem ficou olhando meio confuso para meu pai; depois, vendo que ele ria, riu também: “O senhor está é brincando, né?
      “Não sei. Ela não gosta de abacate? Quem me dirá que ela não goste também de tomate?...”
      "Não, de tomate ela não gosta não, o senhor pode ficar tranqüilo...” o homem disse, rindo contente.
      “O senhor me garante?”
      “Garanto, o senhor pode ficar tranqüilo...”
      “Bom, disse meu pai, “nesse caso, então, o senhor pode vir”.
      “Sim senhor”, disse o homem. “Quando?”
      “Amanhã mesmo, se o senhor puder.”
      “Eu posso; amanhã o senhor pode me esperar, que eu venho”.
      “Combinado”, disse meu pai.
       Ficaram um momento em silêncio, o homem olhando com ternura para a cachorra, e meu pai olhando para os dois.
       O homem então se levantou:
       “Vamos Bebé?”
       Olhou para meu pai:
       “O senhor pode ficar tranqüilo; o senhor não vai se arrepender.”
       “Assim espero”, disse meu pai.
       O homem despediu-se dele, depois despediu-se de mim, chamando-me de “mocinho”. E então foi andando para a estrada, a cachorra a seu lado. Pareciam ter um gingado alegre no andar. Eu disse isso para meu pai.
      “É”, ele concordou, “eles são alegres, todos dois”.
      “Estão...”
      “Você acha que ele me fez de bobo?”, meu pai me perguntou.
      “Não”, eu disse.
      “Eu também acho que não”, disse meu pai; “tenho certeza”.
      “Eu também tenho certeza”, eu disse.
      “Sua mãe é que não vai gostar.”
      “Ih!... Ela vai ficar uma fera com o senhor...”
       "Se vai...”, disse me pai, rindo. “Eu não quero nem saber...”
       Ele me pôs a mão no ombro:
      “Vamos lá, consertar o moinho?”
     “Vamos”, eu disse.                                                             ___________

Extraído da coletânea do autor: Lindas pernas (1979)

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