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Biografia Profissional

Antecedentes

Cícero da Mata

             Meu primeiro emprego formal se deu aos 12 anos, numa grande algodoeira do Nordeste: Indústrias Costa Herculano Ltda. Ficava em Garanhuns (PE) ao lado dos trilhos da Great Western, próximo da Estação Ferroviária. Naquela época (1962), quando se dava a colheita do algodão, era um trânsito intenso de vagões de trem levando os fardos de algodão para Recife e Maceió. Uma vez por ano a empresa fazia um mutirão de contratações para desencaroçar e embalar algodão. O mutirão incluía todo tipo de gente disposta a trabalhar, inclusive crianças de 12 anos. Dizem que a nossa memória é seletiva, e minhas lembranças desse trabalho confirmam, pois só me lembro de dois momentos aprazíveis em todo o período, que não foi longo.
            A primeira lembrança é de um parque de diversões, onde eu gostava de escorregar do alto das montanhas de algodão ladeira a baixo, de uns 20 metros de altura. Atingindo o chão, meu trabalho consistia em subir de novo para voltar a pular, talvez, de um ponto mais alto. Não guardo lembrança alguma do outro trabalho exceto este. Sei que ali tirava-se o caroço do algodão, que depois era prensado formando grandes fardos. E eu, certamente, fazia esse trabalho, porque passei 15 dias nesse emprego. Mas não guardo lembrança alguma disso. O que ficou marcado mesmo foram as escorregadas nas montanhas de algodão.
            Com certeza isso explica o fato de eu ter permanecido apenas 15 dias naquele “trabalho”. Fui mandado embora por uma causa justa, pois ali não era um parque de diversões. Foi o comentário que ouvi do chefe. A outra lembrança não era menos prazeirosa. Aos sábados era feito o pagamento. Num dos galpões formava-se uma grande fila de operários diante de um guichê, onde recebia-se o pagamento: Os adultos recebiam 14 cruzeiros por semana; as crianças recebiam apenas 9 cruzeiros. Melhor dito eram 9 mil-réis, que mesmo ajudando no orçamento familiar, ainda sobrava alguns trocados para fazer a festa no domingo: ir ao cinema no centro da cidade, comer tanajura, chupar picolé e tomar vitamina de banana.
             Este foi o primeiro emprego formal, porque antes e depois eu já tinha alguma experiência no mercado de trabalho informal. Dos 10 aos 14 anos trabalhei como mascate de diversos produtos; caixa de fósforos, flores, velas (em dia de finados), cocada e água fresca (a água fresca não era vendida, era oferecida à quem comprasse a cocada. O trabalho era feito em dupla: eu e meu irmão João) e, particularmente, doces, balas e chocolates, onde permaneci por mais tempo. Eu e meu irmão Luis tínhamos um ponto no centro da cidade. Um ponto quer dizer um carrinho de madeira, cuja tampa uma vez aberta servia de mostruário exibindo os chocolates Diamante Nego, Sonho de Valsa e Dizioli; os drops Dulcora e bombons, caramelos e balas de todo tipo. O emprego formal propriamente dito, isto é, registrado em Carteira Profissional se deu aos 14 anos, em São Paulo, como se verá a seguir.

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