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Memória

Encontros com Darcy Ribeiro

Julián Suquivilde


       Foi um homem inacreditável. De aspeto indígena, baixinho, nervoso e extremamente inteligente, ele foi o meu melhor professor. As suas aulas de antropologia cultural foram apaixonantes. Começavam com uma tela vazia e enquanto falava deixava a tela cheia de esquemas os quais abarcavam a história da humanidade toda. Tinha mais ou menos 200 alunos como eu absolutamente hipnotizados pelos conhecimentos que transmitia.
     Tive a oportunidade de conhecê-lo mais pessoalmente quando participei de um projeto de pesquisa. Ele coordenava esse projeto. Lá, éramos somente 6 ou 7 estudantes trabalhando e pesquisando diretamente com ele. Muitas vezes estive no seu apartamento no bairro de Pocitos. Foi uma oportunidade única de aprendizagem com uma pessoa de uma grande experiência. Muito sensível, apaixonado pelo seu país, pelos indígenas com quem ele morou e estudou. Estive com ele nos momentos que estava escrevendo o manuscrito de um de seus textos fundamentais: “O Processo civilizatório – Etapas da evolução sócio-cultural” do ano de 1968.
      Também tive oportunidade de falar com ele sobre as transformações das universidades. Trabalhou num processo de mudanças da nossa universidade nos anos de 1968 e 1969. Para mim, estudante de sociologia e antropologia, com apenas 21 anos, foi um encontro absolutamente transcendente na minha vida.
      Seu comprometimento social, político e intelectual, além de sua enorme inteligência aplicada aos problemas de toda a América Latina e especialmente do Brasil, marcaram para sempre meu caminho como sociólogo e pesquisador.
        Antes de nosso encontro, ele ocupou o cargo de Etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios e dedicou os primeiros anos de vida profissional (1947-56) ao estudo dos índios do Mato Grosso, Amazonas, Brasil Central, Paraná e Santa Catarina.
        Nessa etapa de sua vida ele desenvolveu as principais idéias sobre a revalorização dos indígenas, as formas de pesquisa antropológica, etc.
Ele criou e foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília. Foi ministro do educação no governo de Jânio Quadros em 1961.
        Com o golpe militar de 64, teve os direitos políticos cassados e foi exilado. Ele morou no Uruguai nos anos de 1966 a 1969. Depois do Uruguai, foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru, principalmente em reformas universitárias.
        Em 1976 retornou ao Brasil, sendo anistiado em 1980. Voltou a dedicar-se à educação e à política. Participando do PDT com Leonel Brizola, foi eleito vice-governador do Estado de Rio de Janeiro em 1992. Ocupou diversos cargos políticos no estado. Em 1992 foi eleito senador da República. Morreu em 1997.

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Julián Suquilvide - Aluno da Casa do Brasil

Fonte: www.casadobrasil.com.uy/docs/newsletter/OProfesso%20DarcyRibeiro.doc

 

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