Volta para a capa
Crônica canina

                  Nós e o cão Lobo

                                                                              Vania Fernades Pesce

Minha história com o cão Lobo não é uma fábula, mas sim uma parte de minha infância. Convivemos com o Lobo em casa, embora a animal não nos pertencesse. Mas, devido as filmagens ele ficava muito conosco.

Sou filha do Ary Fernandes, criador e diretor do seriado que começou exatamente na época em que nasci: 1961.

Tanto eu como meu irmão nunca víamos o Lobo como um cão famoso, uma estrela. Para nós era somente o nosso estimado cão.

Lembro-me que várias vezes iam buscá-lo em casa para entrar em cena. Ficávamos tristes, pois como toda criança queríamos perto de nós. Estranhávamos também o assédio de adultos e de outras crianças ao vê-Io. Eles ficavam emocionados, e nós enciumados. Lembro-me também que meus pais nos levavam juntamente com o Carlinhos caracterizado como o personagem acompanhado do Lobo em alguns eventos, e as pessoas ficavam deslumbradas ao vê-los. Eu não entendia a fascinação das pessoas ao vê-los frente à frente. Quando viajávamos para o Rio de Janeiro, ele ficava hospedado no hotel junto conosco em nosso quarto. Eu e o Fernando adorávamos, afinal éramos crianças.

Outro fato interessante é que meu pai o levava para casa de seu verdadeiro dono (se não me engano chamava-se Luis). Porém, como havia acostumado conosco, ele fugia e voltava para nossa casa. Vinha da Vila Maria onde morava até Santana farejando o caminho.

Passamos alguns dias nesse vai e vem com o Lobo. Recordo-me que passados alguns dias, eu e meu irmão estranhávamos sua falta. Naquela época, para não nos chocar, meus pais contaram que ele havia adoecido. Infelizmente em uma dessas escapadas de volta para nossa casa, ele fora atropelado e encontrado já sem vida. Hoje eu entendo o que aquele nosso amigo de quatro patas, que para nós era apenas o Lobo, representou na história daquela época romântica, a qual vivi tão de perto e nunca imaginava a importância da obra que meu pai havia criado. Da minha infância, lembro-me de ver nosso pai passar noite após noite, andando pela casa, fumando e escrevendo novos episódios. Quando fecho os olhos, escuto o ruído do teclado da velha máquina de escrever.

O que escrevi aqui é um pouco do outro lado da história; são os bastidores vividos por duas crianças que guardaram com carinho até os dias de hoje, a lembrança sempre viva do nosso grande e estimado amigo, o cão Lobo.

___________

Fonte: Seção Histórias no site www.vidadecao.com.br