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Café Literário

 

Gilbert Sinoué

“Saindo bruscamente de seus pensamentos, Nadia propôs

-O senhor toma  um café?

-Se não for muito abuso, gostaria

E precisou com um sorriso cumplice:

-Mazboat. Nos primeiros tempos, confesso que achava o seu café muito – ele pareceu procurar a palavra – pesado. Agora acho-o delicioso.

Xerazade fez menção de se levantar, mas sua mãe a reteve com um gesto

-Deixe filha, Eu vou. Você sabe que nunca conseguiu fazer um bom café. Além do mais, precisa descansar.

 

Fonte: SINOUÉ, Gilbert. A egípcia. São Paulo: Siciliano.  

 

Joel Silveira

“Para cada pergunta minha o Presidente fazia três ou quatro, principalmente a respeito do Brasil, que conhecera na juventude – só o Rio e São Paulo – e que pretendia visitar mas demoradamente logo se livrasse daquele emprego chatíssimo. O emprego chatíssimo era a Presidência. No meio da conversa o Presidente levantou-se, bateu palmas, como se estivesse a aplaudir um orador ou concertista invisível, e gritou na sua voz de barítono: - Juan. Um cafecito para nosotros. E veio um rapaz com sua bandeja e nos serviu o café. E depois um jerez. E depois mais um cafezinho”.

 

Fonte: SILVEIRA, Joel. O presidente no jardim. Encontros com a civilização brasileira, nº 6, dezembro de 1978, p. 160-162. (Crônica referente a uma visita ao Presidente da Costa Rica, Don Mario Echandi Jiménez.)  

 

Orígenes Lessa

Não é que seja exigente demais, mas – que diabo! – a gente, quando paga, quer ser bem servido... Para isso a gente paga... E o gerente foi o primeiro a concordar... pediu até desculpas...

- Sim, porque o café era uma zurrapa... Aquilo nunca foi café! Eu expliquei: eu sou brasileiro, eu sei o que é café... Tudo era droga. Você lembra da omelete?

 

Fonte: LESSA, Orígenes. Omelete em Bombaim. In: 10 contos escolhidos. Brasília: Horizonte; INL, 1984.

 

 

- Vou tomar um café. Se me chamarem, volto em 15 minutos. Já no corredor, o tilintar enervante. Audiência na quinta vara,  às dezesseis horas... De novo, rumo ao elevador. Esse o telefone chamasse nesse meio tempo? E se a sua audiência parecesse, para o outro lado da linha, um apelo ao  bom senso,  à prudência, como se a voz do destino aconselhasse alguém a não chamar outra vez?

- Desistiu do café, doutor?

- Sim. Estou com muito trabalho...

- Quer que peça pelo telefone?

- Esqueça o telefone. Café anda me irritando os nervos...     

 

Fonte: LESSA, Orígenes. Um número de telefone. In: 10 contos escolhidos. Brasília: Horizonte; INL, 1984.

 

 

 

Sônia Coutinho

Depois de quase uma semana reclusa, no feriado ela decide sair, afinal, para ir ao supermercado. Mesmo porque isto já se tornou inevitável, não tem mais nada em casa para comer. Todo esse tempo preferiu evitar a rua com medo de tiroteios entre policiais e traficantes em fuga das favelas próximas, ocupadas. Como não tem estoque de comida, ficou até sem leite nem pão. Não há como preparar sequer o café da manhã. E, sem café, ela não funciona.

 

Fonte: COUTINHO. Sònia. Um dia notável. Conto publicado no blog da autora http://jornalsidarta.blogspot.com.br/ (10/11/2012)

 

 

José J. Veiga

 Vicente descansa a colher no pires, não de qualquer jeito, mas estudadamente: não convém que ela resvale para o centro do pires quando a xícara for levantada. Agora já pode beber, e ele bebe a sério, sem atropelo, como se estivesse provando pela primeira vez uma bebida desconhecida chamada café

  

Fonte: VEIGA, José J. Os melhores contos de José J. Veiga. São Paulo: Global, 2000. (p. 109 – Os noivos) 

 

 

 

Antonio Muñoz Molina

 

“Aos domingos eu me levantava tarde e tomava cerveja, porque tinha vergonha de pedir um pouco de café com leite ao meio dia em um bar”

Fonte:  MOLINA, Antonio Muñoz.  El invierno en Lisboa (cap. IV)

 

Truman Capote

 

“Sou um escritor essencialmente horizontal. Não posso pensar mais do que quando estou encostado, com um cigarro nos lábios e uma xícara de café ao alcance da mão. A xícara de café pode ser trocada por um copo de vodka, não há por que ser maníaco”.

 

 

Fonte: Entrevista do autor na revista  Crisis (Buenos Aires), de julho de 1988.

 

Julio Cortázar

-Como vais fazer o café na escuridão?
-Não sei – disse a Maga, removendo umas xícaras  -. Antes havia um pouco de luz.
-Acende, Ronald  - disse Oliveira - .Está debaixo de tua cadeira. Tens que fazer girar o botão, é o sistema clássico.
Tudo isso é uma idiotice  - disse Ronald, sem que ninguém soubesse se ele referia-se a  maneira de acender a lámpada. A luz adqiriu cores violetas, e Oliveira começou a gostar mais do cigarro. Agora estava realmente bem, fazia calor, foram tomar café.
- Chega mais - disse Oliveira a Ronald. Vais ficar melhor nesta cadeira, que tem uma espécie de pico no meio que se enfia no cu. Wong a incluiría na sua coleção pekinesa, estou seguro.
-Estou muito bem aquí - disse Ronald - ainda que se preste a mal entendidos.
-Estás muito mal. Vem. Vejamos se esse café sai de uma vez

Fonte: Cortázar, Julio.  Rayuela

 

Naguib Mahfuz

"Ia aos cafés quando era jovem para escutar os relatos do poeta popular, porque a arte do romance nos chegava de lá. Quando queríamos ver os amigos, tínhmaos que ficar nos cafés, pois não podiamos ir a uma de nossas casas, pois éramos mais de vinte. A vantagem que tínhamos é que se podia reunir todos os amigos num só lugar. Todos iamos à mesma escola, estávamos juntos. Por isso o café era nosso lugar de encontro como qualquer clube de hoje.

Fonte: intramuros, nº 28, verão de 2008.

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