Volta para a capa
Futebol & Literatua

Bibliografia:

Resenha

MANGAS, Francisco Duarte et all. Fora de jogo: 7 contos inéditos sobre futebol. Évora, Portugal: Caminho das Palavras, 2011.

António Simões

       SETE (grandes) escritores: Francisco Duarte Mangas, Jacinto Lucas Pires, João Tordo, Manuel Jorge Marmelo, Moacyr Scliar, Patrícia Portela e Sérgio Almeida. Sete (inéditos) contos: Azul como uma laranja, A maldição de Charles Negrão, Memórias de um Jornalista Desportivo na Reforma, Natch, A Copa do Mundo É Nossa, O Jogo e Paraíso Futebol Clube. Assim se faz (sublime) este Fora de Jogo, editado pela Caminho das Palavras.

       O futebol passa (enleante) por todas as suas páginas. De vez em quando também está lá A Bola - a abrir a linha aos golpes de génio que se vão descobrindo, encantadores, pelo caminho, por exemplo, quando Duarte Mangas escreve:

       Borges, se voltasse ao mundo dos vivos e da luz, talvez lhe destinasse um poema. Nos olhos de Di Maria foge tristeza longínqua. Épica.

       A regra é a surpresa - que pode ser Lucas Pires a embrulhar-se (deslumbradamente) no tom e no toque brasileiro com que conta a maldição de Negrão, começando-a assim:

        Minha tentação é falar que não fui eu não, foi o meu corpo...

        E não muitos parágrafos passados escapa a revelação:

       Da Minha rotina fazia parte um jogo, um divertimento, vá lá, uma brincadeira ocasional (duas, três vezes por semana) com um grupinho de quatro, cinco meninas, funcionárias de um serviço chamado Seis Seis Seis Sensualidade & Ternura Ilimitada. Uma pequena-média empresa que apontou ao mercado do amor rápido...

        O que acontece depois? O melhor é ler - para crer...

      Há memória (romanceada) de Tordo, «jornalista desportivo na reforma», o olhar (desconcertante) pelos bastidores e por um certo mundo-cão - e entre várias outras, a história (deliciosa) de Gabriela Hortênsia que é Amâncio a marcar um golo ao Benfica:

       A minha mulher disse-me que os jornalistas desportivos - e os comentadores e os treinadores, e os homens em geral - eram todos cegos ou estúpidos ou mesmo cegos e estúpidos, por não serem capaz de perceber que Amâncio era, na realidade, uma mulher. (...) Olhou-me com desprezo, apontou para o ecrã e disse: «Olha-me aquelas pernas. Achas que são pernas de homem?». Olhei para o ecrã e titubeei. «E vê-se mesmo que está a usar um espartilho para esconder as mamas!». Na verdade ela estava certa e estava também errada. (...) Acabei por descobrir que Amânsio tinha, realmente, sido uma mulher - e das bonitas. Descobri também que trabalhara num bar de alterne em Águeda e que, depois de uma operação ao sexo ter sido «desmamada» (foi esta a expressão usada por um certo repórter do jornal O Crime para a operação de redução mamária - e, a esse respeito, a minha mulher enganara-se), fora integrada na equipa de futebol do Beira-Mar...

(...)

       É preciso revelar mais - para se ficar com a ideia do que se pode descobrir nestas 144 páginas?!...

____

Fonte: http://coquetteintelectual.blogs.sapo.pt/30944.html (26/04/2012)

- Link1
- Link2
- Link3