Um dos “papas” do jornalismo literário – Gay Talese – declarou, em Paraty na semana passada, que “seja qual for a razão que o legista der para a morte, não vai fazer diferença, Ele começou a morrer quando as acusações ganharam as manchetes. Em conluio com os acusadores, estava a mídia americana... A imprensa deve desculpas a Michael Jackson”. (Folha de São Paulo, 2/7/09). Por uma ironia da história a 2ª morte do astro foi cometida pelo jornalismo literário. A revista que melhor representa esse tipo de jornalismo entre nós – Piauí – estampou no canto superior direito uma tarja preta com três linhas bem destacadas: “EXCLUSIVO! Nenhuma linha sobre Michael Jackson”.

Os editores da revista não se contentaram em não publicar nada sobre o assunto. Quiseram deixar bem claro aos seus leitores e ao público em geral que o assunto não é digno das páginas de um veículo moderno, intelectual, sério como a Piauí. Mais interessante ainda é que as declarações de Gay Talese foram feitas ao diretor da revista Mario Sergio Conti, quando a revista já estava nas bancas. Não sabemos se Talese falou isto à pessoa certa já sabendo do que a revista fez ou se foi apenas uma providencial coincidência. De qualquer modo, poucas vezes já se viu situação tão constrangedora para o nosso jornalismo literário. Isto é o que se pode chamar de “saia justa”.

Anos atrás, quando os “Mamonas Assassinas” morreram, houve comoção nacional e um dos nossos brilhantes jornalistas - Elio Gaspari – foi destacado para escrever sobre o assunto n’O Estado de São Paulo. Ele esteve no velório, conversou com diversos fãs, com seus familiares, viu o choro da multidão e daí saiu um comovente texto publicado nas primeiras páginas do jornal. Assim, a pergunta que não quer calar é: Por que a Piauí, uma revista tão “descontraída”, tão moderna, não apenas se recusou a pautar o assunto, mas promoveu uma segunda morte do astro, ignorando totalmente o acontecimento e se vangloriando desse feito?

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Euclides Dourado é                                                                              Jornalista sem diploma