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Breve história da comunicação visual
do Metrô de São Paulo

Vagner de Almeida

     O Projeto de comunicação visual do Metrô de São Paulo foi proposto pelo escritório dos arquitetos Ludovico Martino e João Carlos Cauduro Arquitetos Associados, a partir de estudo realizado em outros metrôs internacionais, mas a implantação baseou-se em proposta elaborada pela empresa Unimark International, tendo sido preservada a marca-símbolo anteriomente proposta, com apenas uma única alteração, uma correção visual procedente por ter conferido à marca melhor definição dos pontos de encontro das linhas-parte de seu design.


     O conceito da marca foi definido como sendo a representação de movimento de lá para cá, sobe e desce, leva e traz etc.


    As primeiras peças de CV elaboradas na oportunidade das inaugurações das primeiras estações da linha Norte-Sul, que passou depois a chamar-se linha Santana-Jabaquara e ultimamente linha 1-Azul, foram elaboradas em material de boa qualidade para que a apresentação fosse boa, apesar da fragilidade, contando com prontas reposições conforme especificações de projeto.


      Base de cartão Schöeller alemão com textos com aplicação/decalque de letras e/ou películas adesivas recortadas a mão com estilete, sobre marcação a lápis na base branca do suporte.


      O primeiro sistema de letras e películas utilizado foi o Mecanorma com películas adesivas Normacolor, decalques Normafix etc, de procedência francesa que após algum tempo foi substituído pelo sistema Letraset, composto por alfabetos em vários tamanhos e algumas cores e os derivados Letrafilm, películas adesivas em muitas e bonitas cores, Letratone, películas transparentes com diferentes grafismos e retículas com grande variedade de granulações para efeitos e definição de planos simples ou por meio de superposições. Enfim, relíquias que a era da informática levou como o vento e nos possibilitou e continua a possibilitar ilimitados e preciosos recursos gráficos, principalmente.


      A primeira cor institucional, uma espécie de RG colorido do Metrô de São Paulo foi o Azul 202/202 da película translúcida Normacolor que só pode ser imaginado hoje, com algum esforço, pois ele era originalmente composto pela aplicação da película adesiva na cor 202, sobre outra película idêntica, o que explica o 202 sobre 202.


      Na verdade o resultado era um azul bem mais claro do que o azul institucional de hoje, Reflex Blue do sistema Pantone, informatizado e referência presente na composição de tintas automotivas e para pintura de paredes etc.


      Como o material original pode ser muito difícil de se conseguir, a não ser esquecido em alguma gaveta, possivelmente já alterado pela ação do tempo, poderíamos imaginá-lo como próximo do azul hoje utilizado para representar as sinalizações referentes à acessibilidade, sem o brilho e com um tom ligeiramente acinzentado.

 
      As primeiras "assinaturas" institucionais do Metrô apresentavam a marca-símbolo azul à esquerda ou acima do logotipo Metro, já na letra do tipo helvética, assim mesmo em Caixas alta e baixa e sem o acento circunflexo no o, acrescentado depois de algum tempo de utilização. O tipo helvética foi adotado por apresentar clareza/facilidade de leitura, razão pela qual foi adotada para a maioria dos grandes ambientes públicos de todo o mundo, como aeroportos, estações de transporte etc, criada por um suiço em 1957, inicialmente com o nome de Haas-Grotesk. Brilhou durante as primeiras décadas de sua criação e continua a ser respeitadíssima até hoje apesar de decorridos tantos anos!


      A marca de então era composta somente pela associação das duas setas de haste comum, mas sem o atual fundo quadrado, versão criada em 1981, com o advento do Manual de Identidade Visual do Metrô de São Paulo e válida até hoje.


      Lamentavelmente, não se sabe o por quê de a maioria absoluta das pessoas, incluindo os vários profissionais das áreas responsáveis pela identidade visual da Companhia. não terem apreendido a forma correta, ou seja, com o desenho das setas obrigatoriamente centralizado no quadrado.


      A comprovação está presente em todos os painéis de destino dos ônibus cujas linhas passam por estações de metrô, em circulação pela cidade, em placas de inauguração, afixadas em estações mesmo tendo sido inauguradas após dez anos da alteração da marca, na maioria das versões de timbres de documentos internos, nos marcos identificativos das estações, na sinalização do Pátio do Jabaquara etc... Tudo sem a observância do Manual.


      As sinalizações das estações sempre foram feitas com a letra oficial helvética e, somente agora, ao fazer 35 anos de prestação de serviços, a companhia está testando, na estação Paraíso, uma nova versão de comunicação visual, tendo como diferenciais, nova versão da letra helvética, desta vez com cantos arredondados e criada em 1980, chamada helvética Rounded, a incorporação de informações dos outros modais da rede de transportes metropolitanos e também as informações referentes à segurança e emergência em consonância com as normas brasileiras.


      O processo de elaboração de todas as primeiras peças de comunicação visual do Metrô, nasceu no OMT, com uma equipe de deixar saudade, encabeçada pelo nosso querido e competente colega, uma espécie de meu pai de então, o grande, querido e leal amigo Takao Sunaga, com análises, estudos e projetos operacionais das estações a cargo do querido Pedro Ogawa, o sensato de ouro da equipe e estudos de suportes a cargo do nosso diplomata de plantão, sobriedade pura e muito charme, Ricardo F. do Nascimento, na verdade, o possível responsável/inspirador de um apelido que a área de arquitetura e comunicação visual tinha na época: Ala Nobre do Metrô. E, lógico, muito bem apoiados por desenhistas como Koichi, Kayoko, Fumie, além de grande e diversa quantidade de estagiários de boa cepa. Inteligentes e leais pra dedéu!

     Saindo desse núcleo, são relembrados os colegas do OMT como o nosso querido e respeitado chefe Seishun, Gilberto, Brito, Vagner Lopez, Cidinha, Bete etc... todos com quem era rotina a entabulação de deliciosas conversas, técnicas ou não, que sempre representarão agradáveis a cada lembrança.

     Nem me esforçando muito, não consigo me lembrar de uma só pessoa com quem não me sentira à vontade para tratar de qualquer questão referente ao nosso trabalho, que hoje se mistura com experiência, vivência e que permanece qual uma tatuagem de que ainda gosto muito de ostentar. Talvez este parágrafo possa servir de álibi pela omissão dos nomes da nossa grande família OMT.


      Agradeço o gentil pedido pelo site Tiro de Letra para escrever algo sobre a comunicação visual do Metrô, que, além de relembrar uma fase profissional prazerosa, trouxe-me a satisfação de poder adjetivar amigos tão caros e com quem certamente eu estava em débito.
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Vagner de Almeida é
Arquiteto Especialista em Comunicação Visual da Gerência de Operações do Metrô de São Paulo, onde trabalhou de 1973 a 1976 e trabalha desde 1988.

- Os métodos operacionais
- OMT: orgware do Metrô