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Dicionário de Filosofia de Mario Ferreira dos Santos

Determinismo

     a) Doutrina que se opõe ao indeterminismo. Determinismo, doutrinariamente considerado, afirma que todos os fatos do universo são guiados inteiramaente por determinantes, segundo certas leis. Assim, no atomismo de Demócrito de Abdera, os átomos são determinados por causas mecânicas.


      b) O determinismo em geral, no campo psicológico, afirma que todas as direções da nossa vontade estão determinados de modo unívoco por um conjunto de motivos atuantes. A doutrina indeterminista, levada aos seus exageros, defendeu a liberdade da vontade como uma força dirigida a um querer sem causa nem motivo. Esse indeterminismo exagerado provocou a reação da doutrina determinista. O determinismo invoca sempre a lei da causalidade, sem contudo, exigir para essa uma causa suficiente

     Para essa concepção, todo fato está univocamente predeterminado em sua causa.


       Para as concepções deterministas na psicologia, a consciência da liberdade é apenas uma ilusão, por desconhecer as tendências determinantes, os móveis inconscientes. Entretanto, esquecem que os defensores mais legítimos da liberdade da vontade não negam tais processos inconscientes, nem tampouco afirmam um querer sem causa nem motivo. Os deterministas dizem que, no estudo mais aprofundado que o homem possa fazer de sua vida psíquica, encontraria ele uma regularidade, que revelaria as leis que operam em seus atos. Entretanto, os defensores da liberdade sabem que não há nenhum querer sem motivo. São deterministas o materialismo, o panteísmo, o positivismo, o pragmatismo, o racionalismo, o biologismo etc.

      Análise: Não vamos aqui expor a longa polêmica entre os deterministas e os livre-arbitristas. Esse problema se desloca desde o momento que compreendamos que o momento que o determinismo é um conceito da razão, e a idéia de liberdade nos é dada pela intuição, pela intuição direta, que cada um de nós tem de sua própria experiência.

     Goblot, em seu Vocabulário define: “Determinismo. Doutrina segundo a qual todo fenômeno é determinado pelas circunstâncias nas quais ele se produz, de forma que, dado um estado de coisas, o estado de coisas lhe segue, dele resulta necessariamente”.

      A fórmula do determinismo é causa aequat effectum, causa = efeito, ou efeito = causa, ou ainda: a soma dos antecedentes = conseqüente , ou conseqüente = soma dos antecedentes. Mas a causa e efeito sucedem no tempo, e eis aqui um elemento importante que modifica tudo:

     Causa + tempo = efeito; ou soma dos antecedentes + tempo = conseqüente.

     Já não podemos reverter a fórmula porque o tempo é irreversível, porque o tempo não é um elemento estático, transportável.

     Deste modo, não há semelhança qualiitativa entre causa e efeito, mas apenas uma semelhança quantitativa. Ora, como a razão dos racionalistas prefere sempre a quantidade, e quer reduzir tudo a esta, julga que pode reduzir o efeito à causa, igualando-as. Mas essa igualização é apenas abstrata, porque, se examinarmos bem, também não procede, porque há mutação qualitativa.

     Se dissermos: H2 + O = H2O (água), realmente parece estar no segundo termo tudo quanto continha o primeiro. Tudo que tinha no antecedente está no conseqüente, mas sucede que o conseqüente é qualitativamente diferente. Dois átomos de hidrogênio, com um de oxigênio, formam uma molécula de água. Mas a água é especificamente diferente. O efeito é igual à causa apenas quantitativamente.

     Clausius enunciou este axioma: “O calor passa de um corpo quente a um corpo frio e não em sentido inverso”. Toda a natureza nos mostra a irreversibilidade dos fenômenos. A mudança se faz numa única direção. Não podemos reverter a história, e esse é o sentido que hoje toma toda a ciência e todo o saber: o reconhecimento da historicidade de tudo quanto sucede.

      A noção de causa e efeito é dado pela experiência, mas a sua ligação necessária é dada pela razão, através do princípio de razão suficiente, que determina o mundo lógico. O princípio de identidade, aplicado ao tempo, gerou o princípio de causalidade.

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