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Dicionário e Filosofia de                                 Mario Ferreira dos Santos
INSTINTO

    Do latim obsoleto instinguo, de in e stinguo, do gr. stizô, que significa impulso, ímpeto em alguma coisa, para alguma coisa.
    Todo organismo realiza uma série de movimentos que não são provocados por excitações exteriores, e que são julgados sem finalidade, por não terem sido ainda devidamente compreendidos em suas relações com outros fatos psicológicos.
    Para distingui-los das reações, são intitulados de espontâneos ou fortuitos, como chamaram alguns. Todo movimento que fazemos, dirigido pela vontade, é um movimento que já fizemos antes espontaneamente. Precisamos antes conhecê-lo para depois querê-lo. Se resolvemos dar um salto para passar uma barreira é que sabemos antes que, saltando, podemos atravessá-la. E se o tentamos, é porque já fizemos algumas experiências anteriores, mesmo não dirigidas pela vontade. (Note-se este ponto, que é importante).
    Classificam os psicólogos em geral esses movimentos mecânicos em reflexos, tropismos, e alguns modernos, em tactismos, que é uma espécie de tropismo ou a ele se assemelha, e, segundo alguns, os instintos.
    «O reflexo é uma reação motriz invariável, que responde a um estímulo preciso e que se produz, desde a primeira vez, completo e seguro», define Roustan, exemplificando com a tosse, o espirro, etc.
    São os tropismos fenômenos de orientação, como, na botânica, a orientação dos vegetais sob uma influência momentânea, como a da luz. A planta, num quarto, inclina-se para a janela, de onde vem a luz; na zoologia também são observados tropismos, como o chamado anemotropismo dos insetos, que se colocam sempre de face para o vento.
    Os tatismos (termo contemporaneamente mais usado) diferenciam-se dos tropismos. São excitacões fisicas ou químicas, que determinam a progressão automática de um animal em certo sentido.
    Procuram os psicólogos distinguir o tatismo do tropismo, considerando este apenas mecânico, e quanto àquele consideram precipitado considerá-lo assim. A ação dos necróforos, que se dirigem ao cadáver de um rato, não pode ser explicada apenas por um automatismo mecânico. Jennings reconhece diferenças entre certos fenômenos de um simples tropismo, como os do paramécio, que procura a parte acidulada da água.
    Se fosse uma ação meramente mecânica, a marcha que empreende para alcançar essa região, seria apenas sujeita às leis da mecânica. Entretanto tal não se dá. O paramécio ora se aproxima, ora se afasta, vai, cai, torna, retorna, procura aqui e ali, até que, ao tocar a região acidulada, pára, mantém-se aí onde parece manifestar certo prazer.
    A explicação mecanicista de Loeb dos fenômenos do tropismo não satisfaz a todos os biólogos. E nós sabemos bem por que.
    Porque toda explicação mecanicista é uma explicação extensista, apenas abstratista. Como, na natureza, os fatos são regidos por um dualismo antinômico, de intensidade e extensidade, toda e qualquer interpretação que se construa, fundada numa, com a exclusão da outra, não pode satisfazer, por visualizar apenas uma dos aspectos da realidade. A vida não pode ser explicada apenas pela ordem dinâmica da extensidade como é a da mecânica, porque, na vida, há a predominância da ordem dinâmica da intensidade.
    O fato dos biólogos modernos não se encerrarem na concepção do tropismo, e criarem a do tatismo, em contraposição, é já o producto da má colocação do problema. Uma explicação que atualiza um dos aspectos para virtualizar o outro, é uma interpretação meramente abstratista.
    Sabem todos que os animais procedem diferentemente. A variedade animal mostra-nos também uma variedade riquíssima de atuações diferentes, dispares, diversas, mas também de ações que se assemelham e que são até constitutivas e peculiares a todos os seres vivos, com distinções menores.
    Piéron define o instinto como «a tendência inata a umas categorias de atos específicos, que alcançam, de pronto, e sem experiência prévia, sua máxima perfeição, que se desenvolvem em certas condições de meio e que apresentam uma dependência relativa ante as circunstâncias, mas demasiado rígidos, se não nos pormenores, pelo menos nas grandes linhas, para permitir uma adaptação plástica a fatores novos».
    A definição peca por ser longa, mas permite que distingamos o ato instintivo do ato reflexo. No instinto, há um tender para um fim útil sem consciência desse fim. O reflexo é inflexível. Um espirro provocado virá, inflexivelmente, sem que se possa impedi-lo.
    Por outro lado os reflexos podem ser úteis ou não, enquanto o instinto é sempre útil. Ao realizar o ato instintivo pode haver modificações na execução, o que é importante.
    A aranha construirá a teia diferentemente, segundo as circunstâncias e o lugar que disponha. O castor constrói diferentemente, segundo a corrente da água, o nível da mesma ou a presença dos homens.
    Tais fatos já mostram complexidade, que o conceito comum de instinto, como mero impulso simples, não basta para explicar.
    Os reflexos são estimulados por um processo externo, enquanto o instinto pode ser provocado por um estimulo externo, mas é sempre o desdobramento de uma ação interna.
    Driesch fez experiências interessantes e, aproveitando outras, realizadas por Lloyd Morgan, concluiu que o instinto entra em jogo sob a ação de um estimulo, que ele chamou de «individualizado», isto é, um estimulo que não intervém como agente físico, mas como uma imagem mental. Vejamos os exemplos: pintos, logo saídos da casca, foram colocados ante diversos corpos pequenos, entre eles, os alimentos. De inicio bicavam tudo, mas a pouco a pouco aprenderam a escolher, preferindo o alimento. Dizem que os pintos temem instintivamente os falcões. Morgan provou que eles temem todo corpo volumoso em movimento, e todo flom agudo. Então diz Driesch: «se supomos que um ser vivo se vê obrigado a desencadear um instinto à simples visão de outro ser, por exemplo, de um ser da mesma espécie, mas de sexo diferente e com idêntico resultado, e ainda que o veja por detrás, de lado, etc., não seria a prova de que o animal se comporta aqui de modo diferente ao de uma máquina, porque uma máquina só poderia estar disposta a reacionar a um número limitado de estímulos».
    Inteligência e instinto: Procuram os psicólogos realizar uma tarefa difícil: a de distinguir a inteligência de o instinto. O que logo ressalta nessa distinção é que a inteligência é flexível, muito mais que o instinto.
    A inteligência tem a seu favor o passado, as experiências que ela coordena, e que aproveita para o exame das novas situações, como também para estruturar novas atitudes. A inteligência tem assim uma atuação progressiva, criadora.
    O instinto é cego. Tal é verificável nos animais: o cão, mesmo quando domesticado, pisoteia o lugar onde vai dormir, como se devesse dormir sobre a erva. O gato faz o gesto de tapar seus excrementos, mesmo quando os deposita sobre pedras (Driesch). O instinto guia o animal com regularidade, como tem certa especialidade porque é próprio de cada espécie de animal, é imutável e perfeito desde que nasce, o que é combatido, em parte, pelos transformistas.
    Aceitam os psicólogos em geral que, no instinto, há ausência de aprendizagem e perfeição do resultado. Assim, há filósofos que identificam o instinto à inteligência, e outros que a tal se opõem totalmente. É fácil vermos quanto há de unilateral em qualquer das duas atitudes.
     Alguns filósofos, como Condillac, Wallace e Bain reduzem-no ao hábito, sustentando, assim, que ele não é inato. No entanto, é fácil verificar-se que há instintos que antecedem a toda educação, e é bastante verificá-lo individualmente em cada animal.
    Já Lamarck e Spencer aceitam que é hereditário, isto é, transmissível de individuo ascendente para individuo descendente. Os hábitos, que deram lugar à origem dos instintos, foram costumes ativos e não passivos.
    O animal compreendeu o útil de tal ação e a exercita voluntàriamente, até torná-la automática e perfeita. Assim penetram nele atos voluntários e reflexivos, operações, portanto intelectuais, e a herança desses hábitos adquiridos. Dessa forma, o instinto é apenas uma inteligência degradada (“pased intelligence”).
    Tal opinião é combatida por muitos. É preciso que se note que, neste tema, tamanhas são as discussões, que não é possível sintetizá-las, pois as experiências sucedem-se umas às outras, e ainda não se acham suficientemente amparados os biólogos para estabelecer uma norma capaz de levá-los a uma solução que satisfaça a todos, porque todos procedem atualizando certos aspectos e virtualizando outros, que desconsideram.
    Verifica-se, por exemplo, que os instintos são mais poderosamente desenvolvidos em animais que demonstram menos inteligência, como os insetos, enquanto, no homem, são eles menos desenvolvidos.
     Propõe Perrier uma teoria, fundada na era que poderíamos chamar de era de ouro dos insetos. Durante o periodo primárío do nosso globo, dadas as suas condições, os insetos representavam os seres predominantes.
    A temperatura era suave e gozavam eles de um desenvolvimento extraordinário e tinham uma vida mais longa. Nessa época. eram os insetos de extraordinário desenvolvimento e também devem ter tido um grande desenvolvimento da inteligência. O que resta hoje, nos de vida curta, anual em geral, são apenas reminiscências daquela época, e essa a razão dos instintos tão desenvolvidos que neles encontramos.
    Os neo-darwinistas discordam da teoria de Lamarck e consideram o instinto como um «reflexo composto».
   É ele considerado como uma soma de diferenças acidentais, conservadas pela seleção natural.
    Não podendo os psicólogos resolver o problema do instinto, procuraram reduzi-lo ou à inteligência ou a simples reflexos, como já vimos, temerosos de admitir uma irredutibilidade a mais.
    Em face das inúmeras observações e experiências feitas pelos entomologistas e biólogos, vemos que elas corroboram suas teorias, as quais outras experiências e observações vêm destruir e refutar. Tal estado de coisas coloca o problema do instinto dentro de uma das maiores controvérsias que surgiram nos debates da Filosofia e da Biologia, ainda longe de terminar.
    Alguns fatos observados, que já salientamos, podem ser acrescentados a outros, tais como a verificação de que os tropismos são mais evidentes nos animais inferiores. À proporção que descemos na escala animal, vemos que o tropismo domina, pois, ai, a heterogeneização é menor, por estar bloqueada, o que não se verifica nos animais superiores, onde os atos instintivos são mais heterogêneos, mais diferenciados, isto é, um animal não repete com a mesma homogeneidade o ato instintivo de outro. Há diferenciações no ato, como também há maior heterogeneização no campo de atividade, no tempo vital dos mesmos.
    Nos animais inferiores, o campo da evolução é restringido, a heterogeneização é reduzida e o tropismo é mais exato, como mais pobres os reflexos em matizes diferenciadores.
    Já nos animais superiores, e isso foi o que nos mostrou Pavlov, os reflexos simples são substituídos em grande parte pelos reflexos condicionados. Estes já não têm o caráter bruto daqueles, pois, como salienta, há aqui diferenciações importantíssimas, variações de individuo para individuo. Verificou ele que os animais superiores procedem opositivamente em sua atividade nervosa. Ao lado dos analizadores nervosos (que apreendem o diferente), que são os sentidos, que selecionam os estímulos, há uma atividade sintetizadora nervosa dos hemisférios cerebrais (que apreende o semelhante).
    Um ser vivo é uma entidade sintética que se defende, é um todo que defende sua homogeneidade, embora seja composto de partes (heterogêneas portanto), uma entidade que reage no e contra o mundo exterior. Explicar o ser vivo apenas como um conjunto de fatos naturais, como uma realidade físico-química, num meio ambiente físíco-químico, sem considerar nesse ser vivo uma interioridade sintética e uma exterioridade analítica em suma, como um ser em antagonismo interior, complexo e antinômico, e em antagonismo exterior, com reciprocidades também complexas e antinômicas, é querer colocar a vida no simples campo da matéria bruta.
    Os fatos físico-químicos obedecem a uma homogeneização progressiva, enquanto o mundo vivo manifesta um devir contrário, uma heterogeneização ascendente. Os fatos físicos tendem a simplificar-se, enquanto a vida tende a complicar-se.
    A evolução verificada na vida é diferente de qualquer «evolução» que se possa descobrir ou afirmar nos fatos da Físicoquímica.
    Uma tende à identidade, enquanto outra tende à diferenciação.
    A vida contém os mesmos dinamismos antinômicos do universo físico, mas atualiza ela o que aquele virtualiza.
    O instinto não é algo que se ajunta à vida, é algo que a ela pertence: é a vida.
    Explicar o instinto é explicar a vida, como explicar a vida é explicar o instinto. Não se deveria tratar do instinto de uma espécie isoladamente, abstratamente. Ele é a vida manifestada.
    Examinar a manifestação instintiva de um animal e querer explicá-la dentro do campo da sua espécie, seria o mesmo que explicar a vida, pela vida dos felinos, ou dos canídeos, etc.. Não busca a Biologia explicar uma manifestação da vida, mas a vida. Assim também quanto ao instinto. Essa a razão porque erram tanto os psicólogos quando, baseados apenas num fato, que o revela, querem, sobre ele, construir uma teoria. Outros fatos (diferentes naturalmente) acabam por refutar a teoria esboçada.
    Vamos partir dos fatos isolados para, após coordená-los, podermos construir uma teoria geral do instinto, que, depois, deverá ser aplicada aos fatos novos, para ver se com eles se coaduna.
    Há a nosso ver demasiada precipitação por parte de certos psicólogos, quando afirmam ou negam o instinto, quando o reduzem a outra atividade ou não, porque em todos há o mesmo pecado: atualizar demais o que interessa, e virtualizar o resto, cuja importância não percebem, mas que, posteriormente, vai servir para refutar as suas teorias.
    Se o mundo físico-químico atua por ações e reações, essas não desaparecem no mundo orgânico, porque este, como já vimos, «é» também inorgânico. No mundo inorgânico predominam os fatores de extensidade sobre os de intensidade; no mundo orgânico, o dinamismo é inverso, e a relação entre uns e outros é variável.
    É natural, portanto, que surjam nos fenômenos vivos, os fenômenos físico-químicos. Mas querer explicar a vida apenas por estes é atualizá-los, virtualizando os outros. Assim, em toda manifestação instintiva, há manifestações fisico-químicas, porque em toda atividade animal há dessas manifestações. Há complementaridade, portanto.
   Não há vida orgânica sem corpo orgânico, sem matéria orgânica. Contudo, não há matéria orgânica sem elementos inorgânicos Mas identificar uma à outra, foi o erro dos materialistas.
    Como o ser vivo apresenta uma ordem dinâmica diferente, ele forma um ser à parte no meio físico-químico. Ele opõe-se e sente a oposição exterior. A reciprocidade, que se forma entre a ação do meio exterior e o ser orgânico, gera um antagonismo. O ser vivo, para conservar-se como tal, e para nós o mistério da vida está apontado nessa inversão do dinamismo, necessita captar do ambiente o que lhe convém e defender-se do que lhe é prejudicial. Seus órgãos analisadores, toda a função biológica, em suma, é uma marcha à homologia, ao igual, ao mesmo, ao semelhante à sua esquemática.
    Procura, no ambiente, o que lhe é afim, e repele o que lhe é prejudicial. A função vital, biológica, é seletiva, utilitária.
    Não haveria vida se assim não se processasse o fenômeno biológico. Este fato é importante salientar, porque a evidência da vida é uma prova da diferenciação, da necessidade de defesa; senão a vida já teria desaparecido. Nessa ação, em busca dos afins, o ser vivo heterogeneiza-se.
    Os seres vivos mais inferiores, ao buscar o que lhes é conveniente, igual, semelhante, que lhes permita conservarem-se, diferenciam-se, heterogeneízam-se.
    Eis a antinomia da atividade vital. Acrescenta experiências às
experiências. Os seres vivos conhecem estados agradáveis, fáceis, favoráveis e desagradáveis, difíceis e desfavoráveis. Se atuam sobre o ambiente, sofrem do ambiente sua atuação também.
   Há uma reciprocidade dos contrários. Buscando o semelhante, o homogêneo, a vida se heterogeneíza.
    Onde separaremos a vida de o instinto em toda essa ação?
     São instinto e vida a mesma coisa? Permanecem o mesmo sempre.
    Com o desenvolvimento do ser vivo, o que parecia apenas reflexivo, toma caracteres de diferenciação cada vez maior. Foi o que vimos, quando salientamos que todos os psicólogos reconhecem que há maior estabilidade entre os reflexos do que entre os tropismos, e quando estes se tornam mais heterogêneos, eis os tactismos, que, sendo mais complexos, são os reflexos condicionados, e mais complexos ainda, são alguns considerá-los como atos inteligentes.
    A heterogeneidade da vida: Na vida, há heterogeneização crescente, e com ela heterogeneízam-se aqueles fenômenos, que têm o nome geral de instintos.
   Mas a heterogeneização é o produto da reciprocidade dos fatores antinômicos:
    a) do antagonismo das duas ordens dinâmicas entre o orgânico e o inorgânico, na entidade processual sintética, que é o indivíduo vivo;
     b) do antagonismo entre a entidade viva e o meio ambiente;
     c) do antagonismo na constituição do próprio ser vivo, entre o sistema nervoso e o resto do organismo;
     d) do antagonismo provocado pela própria heterogeneização
que sedimenta a «inteligência», que reponta bruxoleante nos animais inferiores, até atingir o homo sapiens, sem querermos afirmar que a inteligência humana seja um produto da Biologia e da Fisiologia.
    Não param ai os antagonismos, provocados pelas antinomias. Mas saliente-se apenas este aspecto: a diferenciação provocada pelo desenvolvimento do ser vivo, em sua reciprocidade com o mundo ambiente, cria a heterogeneização de suas atividades.
    A vida é mais complexa e, ao lado dessa complexidade, surge a complexidade do instinto. Nos insetos, onde a simplificação (a homogeneização das funções) é maior que nos seres vivos superiores, o instinto também é mais homogêneo, exato.
    A heterogeneização do ser vivo obriga a novas experiências, mas essas, também, à maior heterogeneização.
    Todo ser vivo é um quantum em dinamismo interno e externo, em recíproca atuação com o meio exterior. E cada espécie de quantum vivo tem seus instintos correspondentes. Quanto mais complexo, heterogêneo, é esse quantum vivo, mais complexos os seus instintos. Mas que se observa aqui?
    Observa-se uma modificação da ordem. A proporção que o ser vivo alcança a heterogeneidade, diferencíam-se também os atos chamados instintivos.
    Uma função intelectiva manifesta-se; uma função dialética, que diferencia e que assemelha: a inteligência se manifesta e avança.
    Os atos instintivos, que pareciam apenas reflexos, tornam-se diferenciados, diversos. E quanto mais elevado é o animal na escala, mais se intercala ao instinto a inteligência, até atingir o homem, onde a inteligência prepondera, em muitos aspectos, sobre aqueles, que a inteligência supre e o substitui até.
    No instinto, como impulso, não há consciência, e já vimos, desde início, qual a razão. Mas a inteligência e a sua base, a consciência, revelam-nos uma diferenciação da tensão nervosa, que retorna sobre si mesma; consciência é ciência com, um saber sobre si mesmo, um ponderar de si mesmo. Quando se dá esse retorno (na consciência há sempre memória) num ato qualquer, numa modificação qualquer do ser vivo, há consciência.
    Impulso vital é a tendência conservativa de homogeneização sintética do ser vivo, o conservar-se em oposição ao que o nega.
    Vimos que, na intensidade, há uma tensão que se concentra. A vida é sobretudo intensidade; é, por isso, concentração. Toda intensidade é centrípeta, como toda extensidade se estende, é centrífuga.
    A vida revela uma intensidade centrípeta quando atinge um grau de sintetização elevado, e separa-se do meio exterior, mais extensista.
    Em suma: O instinto é uma operação de ordem psicofisiológica, com uma origem complexa e com uma tendência também complexa, sem consciência por parte do animal, para o qual ela se exerce. É uma operação que decorre da própria vida em sua forma especifica.
    É claramente manifesto nos animais e num grau menor no ser humano, embora não totalmente ausente, como pretendem alguns, que afirmam que há neste apenas um instinto: o de sucção, que surge nos primeiros dias, e que, não atendido, desaparece para sempre. Tal concepção decorre da distinção e da separação feita entre o instinto e a vida. O instinto não é uma faculdade mas um ímpeto instantâeo uniforme, sem cognição do fim, que tende para o que é conveniente à natureza da espécie
    E como tal se manifesta no homem sob diversos aspectos, como em o podem notar os psicólogos mais atentos. Vide Inteligência
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