(Do latim Intellectus, de inter e lec, de escolher entre, ou de intus e lec, de escolher dentro, como o preferem outros).
A inteligência é a função intelectiva, a que realiza as operações intelectuais, que são as cognoscitivas da vida racional, que constituem as apreensões, a intelecção, a compreensão, a captação da espécie, a idéia, os conceitos, as comparações, o juízo, o raciocínio, a cogitação, a inspiração, etc. (vide tais termos). De qualquer forma, é mister distinguir, na inteligência, uma função ativa e uma passiva, pois realiza ela operações abstrativas de gradação heterogênea, e imprime, em representações, imagens e esquemas (papel passivo), os conteúdos obtidos, através dessas operações, sobre os quais, posteriormente, opera.
Aristóteles falava num intelecto ativo (nous poietikôs) e num intelecto passivo (nous pathetikôs), que os escolásticos chamavam intellectus agens e intellectus passivus.
A inteligência revela, contudo, graus, e na criança até o adulto feito, esses graus sucedem-se rigorosamente, atualizando-se os estágios, que passam a funcionar como potências ativas.
São essas atualizações coordenadas pela cooperação dos fatores, que nos explicam a formação dos esquemas psíquicos e a sua variabilidade:
1) inteligência primária: a imitativa;
2) inteligência secundária: a que distingue meios de fins;
3) inteligência terciária: a inovadora.
Essas três inteligências fundam-se nas fases intuitivas:
a) a intuição (vide) em função dos reflexos;
b)a intuição em função de base médulo-espinhal (intuição sensível);
c) intuição em função cérebro-espinhal (sensibilidade analítico-sintética, com a diferenciação dos nervos analisadores e sintetizadores, estudados por Pavlov);
d) a intuição intelectual (distinção do semelhante e do diferente);
e) intuição intelectual, com a formação dos ante-conceitos (racionalidade pre-lógica);
f) intuição intelectual, com distinção de causalidade e finalidade, com a formação dos conceitos (racionalidade lógica);
g) intuição eidética (husserliana). A razão é lógicamente estruturada, e capaz da síntese dialéctica.
Fundadas nessas intuições, que já estruturaram o que chamamos de intelectualidade e afetividade, surgem outros graus da inteligência, como:
4) Inteligência adivinhatória, como a do médico, a do engenheiro, mas que exige uma aprendizagem prévia, que estrutura esquemas, que atuam na consciência, mas por intencionalidade subconsciente.
5) Inteligência premonitória, que é um grau mais elevado, que nos dá certa presciência do que acontecerá, mas cujas captações se processam pelas estruturações esquemáticas, que precipitam a intelecção subconsciente. É rara, e surge em alguns momentos, mas dela quase todos participam.
6) Inteligência do gênio. Todas as inteligências anteriores se formam pela adaptação psicológica (acomodação e assimilação), segundo os esquemas prévios. O gênio tem a capacidade de criar esquemas imediatos aos fatos novos, e permitir, em certos instantes, uma assimilação, que é simultânea ao fato. O esquema é criado simultaneamente para assimilar o fato. Nesses casos, não tem necessidade da aprendizagem prévia.
7) Inteligência carismática é uma visio do ainda não experimentado, que não tem esquemas de prévia formação, que surge num grau elevado da genialidade, em profetas, santos, místicos, grandes legisladores.
A intuição dá-se pela acomodação dos esquemas ao fato que é singular, com a assimilação proporcional.
Mas a intuição dialética, que implica as anteriores, alcança uma forma:
I) em que se processa imanentemente no fato, mas tange a sua transcendência. É um captar da simbolizado, através do símbolo. Mas é o simbolizado mais profundo, que ultrapassa o quaternário;
II) essa intuição se processa por uma dialética transcendental analítica, que, captando o transcendente, analisa-o, e, finalmente, capta a síntese transcendental, último grau da intuição. Essas intuições só a têm os grandes místicos, os bem-aventurados.
São elas que permitem estruturar a
8) Inteligência dos bem aventurados (um grau de beatitude, o boddhisatva dos hindus). É a contemplação do transcendente, para o qual não há esquemas com fundo experimental fático. É o espírito (o atman dos hindus), penetrando em sua atualidade pura, fundido em si mesmo (fronese espiritual).
Os homens conhecem esses graus de inteligência, e são eles as grandes possibilidades do espírito.
O espírito, assim, em sua pureza primitiva, é a grande emergência pura do psiquismo, como a vida é a emergência pura do somático. O espírito atua segundo a predisponência, e as suas formas estão condicionadas pela atualização dos esquemas, sem que o espírito sofra qualquer diminuição do seu poder pelas atualizações, como a vida não sofre, por sua vez, nenhuma diminuição, pelas atualizações somáticas.
Eis por que, em suma, a sensibilidade e a afetividade não podiam, como não podem, ser explicadas pela mecânica do corpóreo .
Há, assim, um sensível puro e um afetivo puro (sensibilidade pura e afetividade pura), que a predisponência dos esquemas permite surjam para nós em formas diversas, sem que eles sofram qualquer modificação em si mesmos, como o fogo é sempre fogo, apesar das figuras em que faticamente se apresente. Vide Instinto e Intuição.
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