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         Dicionário de Filosofia de Mario Ferreira dos Santos
                                   Estética
  Com Alexander Baumgarten (1714-1762), a palavra “Estética” (deriva do grego aisthesis, sensação) tomou o sentido atual de “teoria do belo”.
  Desta forma, a interrogação que surge em primeiro lugar, na Estética, é saber a essência do belo, que é seu objeto.
  Se começarmos pelos gregos, vemos que Platão e Aristóteles identificaram o belo com o bom. Na Idade Média, o belo esteve em plano secundário, e, nesse plano, chegou até Kant.
   Com Baumgarten, ainda, o belo era como uma espécie de perfeição confusamente concebida. Com Kant é que se pode estabelecer a distinção entre estética subjetiva e estética objetiva , cuja divisão marca a predominância da idéia fundamental, como já veremos.
   Para a estética subjetiva, que é uma estética psicológica, o belo está no homem, é o subjetivo. O belo não está nas coisas, está no homem. É ele que o empresta ou dá as coisas. E como a natureza humana é mais ou menos homogênea em todos os homens, estes podem sentir igualmente a beleza, quando a imaginação se harmoniza com o entendimento. Então chamamos esse objeto, que consegue provocar tal estado, de belo.
    É a forma do objeto que o nosso juízo estético se refere, porque é ela que suscita em nós o jogo harmônico do entendimento e da imaginação. Mas essa forma não foi feita com o fim de que a encontremos bela. A forma do objeto não é uma finalidade, pensa Kant.
    É nossa subjetividade que realiza essa harmonia, que permite que o chamemos de belo.
   Depois de Kant, a estética subjetiva concebeu o belo como uma vivência, e nessa posição é a predominante até os dias de hoje.
   No entanto, poder-se-ia fazer a seguinte pergunta: se o belo é um ato objetivo, como se explica que só alguns objetos o provoquem?
   Nesse caso, é preciso admitir que o objeto tem em si alguma coisa que provoca a emoção estética do belo, do contrário todos os objetos seriam capazes de provocar essa vivência. Logo, deve haver, no objeto, alguma coisa. E os que defendem a estética objetiva exclamam: há uma vivência do belo, mas o belo não é uma vivência.
   O que quer dizer que o belo está no objeto.
A estética objetiva já está estabelecida em sua orientação: ela procura o belo fora do sujeito, no objeto, portanto.
  A estética objetiva pode ser estética formal ou estética material. A primeira, esboçada por Herbart, e continuada por Zimermann e ouros, estabelece a existência de certas idéias e certos conceitos gerais que são belos. E quando o objeto concorda com essas idéias, com o formal, é ele belo. Neste caso, belas são as idéias.
   A estética material pode ser apócrifa ou autêntica
   É apócrifa, quando o belo é explicado por dados extra-estéticos.
   Assim procede o religioso, quando afirma que a beleza do mundo está na revelação do Absoluto que o criou, ou Hegel, que, para definir a beleza, parte das idéias absoluta, que são para ele o único real.
   Desta forma, o belo é a manifestação sensível da idéia. A estética material apócrifa põe outra coisa para explicar o belo. Se ele é o revelar-se do Absoluto, então tudo seria belo.
   A estética material autêntica vê no fenômeno do belo algo que é sui generis, que é típico, e que não poder absolutamente derivar de qualquer outra coisa conhecida. Assim, o belo é algo tipicamente belo, Inúmeros autores, tais como Geiger, Dessoir, etc. procuram esse algo original que é a razão do belo. Entretanto, não conseguiram achar a essência desse algo original. Atualmente, no entanto, com Geiger inicia-se uma tendência para considerar o valor como esse algo originário do belo. Surge, assim, uma estética dos valores, como estética material autêntica.
  Quanto a essência do belo, aceita-se que ele é apreendido imediatamente, sem necessidade de um conhecimento, nem de reflexão. Quando achamos uma obra de arte, tomamos o belo, apreendemo-lo sem necessidade de raciocínio,e quando olhamos demoradamente uma obra, que ainda não nos provocou essa emoção, esperamos até que, quando menos se espera, ele nos surja. Por isso o belo se nos apresenta como algo original, como algo de um tipo particular. O belo não é isto nem aquilo; é o belo. Como só algumas coisas nos parecem belas e outras não, há de haver, nele, alguma coisa de objetivo, e não apenas subjetivo. Surge, aqui, um ponto de vista que merece atenção: é o que afirma que o belo é supraindividual. Uma coisa doce é agradável ou não a cada individuo; é relativa a cada indivíduo. O belo não é relativo; é belo. Independente do indívíduo, por isso nem todos entendem dele, e eis por que há os entendidos em belo.
   Não se pode dizer que o belo do quadro esteja nas tintas, nem no pano,nem na moldura. Este algo que é o belo, não está no quadro, é um valor estético. E é chamado valor porque não é um ente físico. As obras de arte têm relações com os valores estéticos. O valor não vale para alguém ou para alguma coisa, o valor vale. Nos intuímos o valor por uma intuição não sensível; portanto, direta. Há termos que expressam valores, tais como: sublime, vivo, trágico, simples, graça, tensão, ritmo, unidade. Multiplicidade, etc., quase todos eles tirados de experiências sensíveis, e expressam valores estéticos.
   Os meios de expressão do belo na obra de artes são diversos, como palavras, sons, cores, etc. Esses meios servem para expressar valores estéticos. E devem se considerados apenas meios. Quando um artista os transforma em fins, temos, então, uma obra de arte inautêntica, o que é muito comum encontrar-se nas obras de arte, até de grandes autores. Por outro lado, o artista deve usá-los adequadamente. Há uma variedad
e imensa de meios de expressão e uma verdadeira ordem entre eles.