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Ensaio

 

O CARISMA DE

BARACK OBAMA

 

          Cícero da Mata

Carisma é uma coisa que ninguém sabe direito o que é, e quem nos diz isso é o “Aurelião” em duas acepções: 1-  Força divina conferida a uma pessoa, mas em vista da necessidade ou utilidade da comunidade religiosa. 2- Atribuições a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excepcional.  O que nos define isto? 

 

Revela uma coisa importante: nos diz que carisma também pode ser uma coisa diabólica, pois é comum tomar o carisma como uma coisa sempre boa, do bem. Outra definição embutida é que se trata de um fenômeno eminentemente político-social, revelado no emprego dos termos “comunidade” e “liderança”.  Vejamos se é possível saber  um pouco mais sobre esse “dom”, averiguando quem foram os grandes carismáticos que conhecemos a partir do século passado, quando surgiu o que chamamos hoje “mídia”,  Aí a coisa se complica mais ainda.  Pois só podemos falar dos grandes carismáticos a partir do surgimento da “mídia”. Antes disso são apenas grandes personalidades da história.

 

Assim, o primeiro nome seria Lênin, que não chegamos a conhecer melhor sua imagem para dizermos se era carismático ou não. De qualquer modo, foi uma figura relevante até a queda do muro de Berlim, e seu rosto foi estampado em muitas camisetas nos anos 60 e 70. Depois disso até mesmo sua estátua, em Moscou, foi literalmente tombada; perdeu o carisma e foi relegado ao ostracismo. Vemos com isto que carisma também é uma coisa fabricada pela mídia; que existe num momento e deixa de existir noutro.  Em seguida veio Stalin, um carisma bem fabricado e mantido pelo estado totalitário. Temos, também, Hitler, um outro tipo de carisma imposto à uma sociedade em frangalhos. Se hoje Hitler é o protótipo do carisma do mal, os alemães não podiam dizer o mesmo na época em que ele alçado ao poder. Em âmbito nacional surgiram diversos grandes carismáticos: Franco, Perón, Mao Tse Tung, Fidel Castro, Getúlio Vargas. Em tempos mais recentes tivemos Juscelino Kubitschek, Kennedy, Martin Luther King, De Gaule, e o maior dos carismáticos: Che Guevara.

 

Está visto que o termo carisma se aplica apenas em duas áreas: a política e a religiosa. Em outras áreas o sujeito tem talento, conhecimento, sabedoria etc. Isto não significa que nestas áreas o carisma não existe. Todo mundo tem carisma, uns mais e outros menos. Uns mais para o mal e outros mais para o bem e, ainda, outros que tanto pendem para o mal como para o bem. Mas, o fato é que quando nos referimos ao carisma estamos falando de algum político ou religioso, normalmente mais àquele do que à este. E na política verifica-se a existência de grandes carismáticos tanto na direita como na esquerda. Outra constatação é que grandes carismas políticos desapareceram há mais de 40 anos. Se forçarmos a memória para encontrar alguns nomes, esbarraremos nos nomes acima citados, desaparecidos há mais de 40 anos. Poderia se dizer que Fidel Castro é uma exceção, caso ele mantivesse o carisma que detinha nos anos 60. Mas, sua importância hoje está longe de uma unanimidade até mesmo na América Latina. De modo que, em termos políticos, vivemos já há algum tempo, um verdadeiro deserto de líderes carismáticos.

 

Neste deserto, forçando a barra, dá para assinalar duas exceções. Uma em âmbito internacional: Gorbatchov, nos anos 90, pelo fato de ter consumado o império soviético e desacreditado o comunismo como regime político. Outra em âmbito nacional: Lula, o presidente operário que passou a governar o Brasil a partir de 2002. No entanto estes nomes não dispõem de uma força carismática que possa se igualar aos antigos líderes já citados. Pode ser que o conceito de líder carismático tenha sofrido algumas mudanças nos últimos anos, o que vem justificar o dito popular: “Já não se fazem líderes como antes”.  

 

Pois bem, chegamos até aqui e temos sobrevivido sem a existência de uma liderança carismática em termos mundiais por mais de 40 anos. Temos um mundo dividido em blocos econômicos; o poderio político-econômico mundial já não é mais bipolar, e o país mais poderoso do mundo recebeu um golpe fatal com o ataque ás torres gêmeas em 2001. Desde essa época temos vivido sob a ameaça concreta de uma terceira guerra mundial de proporções nunca antes vista: uma guerra entre o ocidente e o oriente, sem uma liderança capaz de refrear os ânimos de cada lado.  

 

Mas no final da primeira década do novo milênio e no bojo de uma crise econômica mundial sem precedentes surge, finalmente, um grande carisma trazendo uma esperança à todo o mundo e,  particularmente, ao império econômico fragilizado pela crise: os Estados Unidos. O surgimento desse líder - Barack Obama - acontece de um modo inesperado e surpreendente em diversos aspectos: jovem, negro, de origem pobre e nome aparentemente mulçumano.  Os festejos ocorridos com este surgimento mostraram um face dos EUA pouco conhecida. Parece até que os norte-americanos haviam acordado de um longo pesadelo. O que é bem verdade, considerando a política dos dois governos anteriores.

 

Mas o aspecto predominante desse novo carisma, não sabemos ainda. Sabemos apenas que é diferente. Depois de quase meio século sobrevivendo num deserto de carismas, nos apegamos a este como o remédio curador de todos os males. As esperanças depositadas nos ombros de Barack Obama não são poucas nem são apenas norte-americanas. A festa para recepcioná-lo está ocorrendo nos EUA, mas o mundo todo está participando da festividade, torcendo para que sua  chegada simbolize a luz no fim do túnel.

O homem de quem estamos falando, até o momento, é talhado para a tarefa. O discurso de posse foi o testemunho e, como se não bastasse, seu  esquisito nome traz mais de um significado:

BARACK = Esse é o cara

HUSSEIN = Abençoado

OBAMA = Desambiguo

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