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Grandes entrevistas

 

Marcos Vinícius

Nosso colaborador concedeu, direto de Luminárias das Minas Gerais, a entrevista abaixo ao blog "Lúcido Pessimismo", por ocasião do lançamento de seu primeiro romance.

No dia 27 de junho de 2009, um sábado, as 19:30, recebi Marcos Vinícius Lima de Almeida no meu MSN (pra variar). Nesta ocasião foi realizada a entrevista que se segue. Pra quem não sabe, Marcos Vinícius de Almeida é de Luminárias (Minas Gerais), uma cidadezinha – quase cidade – localizada perto de Lavras, que fica perto da Fernão Dias (a rodovia que liga São Paulo a Belo Horizonte). É em Lavras que fica uma das fábricas da Cofap. Marcos Vinícius, como nos revela nessa entrevista, escreve desde menino – porém só agora lança seu livro, Inércia, pela Editora Multifoco. Estudante de Filosofia, funcionário público e "caipira", Marcos Vinicius lançará seu livro dia 18 de julho numa festividade em sua cidade. Nesta entrevista ele nos fala sobre literatura, filosofia, blogs e muito mais. Confiram!

Lúcido Pessimismo: Bom, Marcos, cá estamos para a entrevista. Antes de mais nada, eu queria avisar aos leitores interessados em suas respostas que esta entrevista está sendo realizada através do msn e de uma maneira um tanto quanto informal. E pode ficar despreocupado, não teremos perguntas pessoais aqui. Ah, e antes de mais nada, desculpe-me pelo uso excessivo de "ques". Espero que isso não fira sua sensibilidade estética.

Marcos Vinícius: Sem problemas, e minha sensibilidade estética nem é tão afetada assim.

Lúcido Pessimismo: Depois não diga que eu não avisei... Enfim, vamos a primeira pergunta. Seu livro Inércia em menos de um mês será lançado, qual é a sensação de ver seu livro impresso em uma Editora "de verdade"? Você sente que algo mudou na sua vida? eza a lenda que Dostoievski quando recebeu a notícia, através de um amigo, de que um editor estava interessado em lançar o seu primeiro livro, chorou a revelia, gritando pela janela da sua casa. Você também tem desses rompantes?

Marcos Vinícius: Bom... Eu recebi a notícia num típico domingo de tédio, mais banal impossível... A primeira sensação foi de perplexidade. Achei que era algum tipo de trote, dei dois tragos no cigarro e andei pela casa meio sem rumo. Fiquei matutando se era trote ou não; depois conclui que era comigo mesmo que estava acontecendo... Quando era moleque, era muito mais pretensioso que hoje, e uma vez mandei um romance policial pra análise da "Nova Fronteira", achando que era uma espécie de gênio... Claro que recusaram... Pretensão de adolescente metido a besta. Mas com o Inércia, quando a notícia chegou, foi difícil deixar a ficha cair... Nem sei se caiu ainda... Estou feliz, não posso negar. Mas também estou com certa vergonha, porque sei das limitações do meu livro, por maior que tenha sido meu esforço.

Lúcido Pessimismo: E, mesmo com essas limitações, ou melhor, apesar dessas limitações, você acha que dá para publicar. Sendo assim, o quê te motiva mais no intuito de publicar seu livro?

Marcos Vinícius: O que me motiva a publicar, pergunta complicada... Talvez seja uma espécie de vaidade: porque desde que comecei a rascunhar meus primeiros escritos, me via como "escritor", como esses sujeitos mortos que ficam aqui na minha estante. Imitá-los? Talvez... Ou talvez seja porque eu sempre tive os braços finos: sempre tive preguiça de fazer exercícios. O Inércia foi e voltou da gaveta durante quase cinco anos. E um grande amigo sempre me dizia que ele tinha qualidade. Às vezes eu via essa qualidade, outras não... Mas escritor de gaveta não é escritor. Nem escritor de um livro só... Nem tudo que se escreve deve ser publicado, deve-se ter algo a dizer. Acho que ali tem alguma coisa a ser dita, apesar das limitações inerentes a minha falta de talento.

Lúcido Pessimismo: Mas, então, você foi aceito e será publicado. Conte-nos como se passaram as coisas até que você conseguisse ser aprovado por uma Editora. Como se deu essa história?

Marcos Vinícius: Minha relação com livros vem de longe. As primeiras coisas que eu escrevi foram poemas pra namoradas, cartas. Aliás, teve uma carta que escrevi para uma moça uma vez, que serviu de modelo para muitos amigos meus: os caras só trocavam o nome da menina. A primeira história que eu escrevi foi um conto policial bem chinfrim, motivado pela leitura de Agatha Christie. Passei minha adolescência lendo essas coisas e os livros espíritas da minha mãe. Depois ganhei uma máquina de escrever de meu treinador de futebol e comecei a escrever uma história grande. Eu nem dominava o português direito, aliás, até hoje me acho muito limitado quanto à língua, mas tinha muitas idéias e essa necessidade estranha de colocar as coisas no papel. Fui entrar em contato com a grande literatura no fim do ensino médio. O baque foi gigantesco. Me apaixonei pela Capitu (sim eu tenho uma queda por meninas más, e amores platônicos sempre foram comuns na minha vida). Me angustiei muito com o 1984. E depois, na faculdade, a coisa foi só piorando (no bom sentido), Camus, Kafka, Luiz Vilela e o Angústia do Graciliano Ramos, me deixaram meio apavorado. Nunca poderia escrever uma coisa assim. Então minha pretensão foi meio que estancada, e isso foi bom. Porque eu passei a escrever sobre a vida: a parte dela que me tocava... Acho que essa necessidade de escrever vem dessa sensação de pequenez diante das coisas: isso me sufoca. O Inércia foi escrito com sangue, se me permite o termo. A primeira versão, com humildes 47 páginas, foi meio que psicografada em três meses. Ali não havia imitação, pelo menos não intencional, como no caso das histórias policiais que escrevi quando moleque. Era outra coisa... Uma coisa mais pretensiosa ainda, talvez... Meu grande amigo Morris, depois que abandonei o curso de filosofia na UFSJ, manteve contato comigo pela internet. O Inércia estava aqui, jogado às traças. E certamente estaria até hoje se não fosse por ele. Num dia depois de um longo período sem nos comunicarmos, ele apareceu no msn e me chamou na "chinxa". Disse que tínhamos abandonando nossos sonhos, as coisas com as quais nos identificávamos, e que sem isso não éramos nada. Foi como abrir uma ferida no meu peito, porque era exatamente isso que eu sentia. A partir daí comecei a correr atrás, e acabei encontrando a Multifoco.

Lúcido Pessimismo: E quanto ao assédio? As pessoas passaram a te tratar de maneira diferente depois do anúncio do lançamento do seu livro? Como você se sente quanto a isso?

Marcos Vinícius: Eu acho isso ridículo, mas é natural. Coisas de gente, e gente é trem muito esquisito (no mau sentido). Mas é uma boa maneira de ver quem são as pessoas que importam na sua vida. Eu passei por um período difícil, e foram só uns poucos com quem pude contar. Evito fazer julgamentos, mas que os sorrisos e tapinhas nas costas aumentaram, aumentaram... Mesmo porque eu sou de uma cidadezinha minúscula. Não é todo dia que alguém publica um livro por aqui.

Lúcido Pessimismo: É, você está certo! Bom, você já respondeu essa pergunta aqui por alto, mas não custa reafirmar. Quanto tempo você demorou para escrever o Inércia? Já era um projeto antigo seu? Como surgiu essa idéia?

Marcos Vinícius: A idéia surgiu da coisa mais absurda... Eu e o Morris ficávamos trocando manuscritos e idéias no pátio da UFSJ. Num belo dia, o Morris me fala de escrever uma história onde o cara ficasse excitado com um pão de padaria. Nós rimos muito, e naquele dia quando cheguei em casa, escrevi o que seria o primeiro capítulo do Inércia, um cara que seguia a namorada, a via com outro na cama, e pra mostrar pra si mesmo que não estava nem aí, se masturbava. Idéia sem cabimento. Mas foi o começo. Depois veio a estética do livro. Era pra ser todo escrito sem vírgulas e com frases miúdas. Algumas só com uma palavra. Esse elemento continua na versão que vai ser publicada, mas de maneira bem equilibrada. Esse capítulo não está mais no livro... cortei na primeira versão. (risos)

Lúcido Pessimismo: No embalo do que você disse ai, nota-se em seu livro algumas alternâncias no modo de descrever certas cenas, chegando mesmo a em alguns pontos você utilizar apenas substantivos seguidos por pontos finais. Isso teria algo a ver com a linguagem cinematográfica, como se uma câmera enquadrasse aqueles objetos? Qual é a relevância do uso de tal estilo narrativo?

Marcos Vinícius: Isso tem relação direta com a proposta estética que engendra a temática do livro. As palavras, por si só, são coisas soltas, isoladas: inertes. Não se movem. O movimento está no olhar do leitor. Quanto à linguagem cinematográfica, se existe é totalmente sem intenção.

Lúcido Pessimismo: Ao lermos seu livro Inércia, sentimos que o personagem e a ambientação têm muito de você. Pode-se dizer que este livro é autobiográfico? Qual o limiar entre autobiografia e literatura, já que, é claro, sempre escrevemos aquilo que (em parte) somos e vivemos?

Marcos Vinícius: Não diria que é autobiográfico como Miller ou Bukowsky. A inspiração vem da vida: Juan vive as minhas lembranças, anda nos meus lugares, veste as minhas roupas, pega as minhas idéias, minhas frustrações, beija minhas mulheres, mas eu não sou ele. Discordamos em muitas coisas, na maioria delas, aliás. Não é um livro de memórias, mesmo porque a memória é sempre um recorte intencional que leva a ficção. Mesmo que os personagens sejam inspirados em pessoas que conheci, a partir do momento que história é construída, eles tomam vida própria. É uma coisa esquisita, não sei explicar muito bem isso... As personagens femininas, principalmente, acabam crescendo demais, ficam assanhadinhas de tudo. O limiar entre autobiografia e literatura, está na diferença entre um retrato de uma câmera digital, e uma pintura. Talvez, não sou crítico literário.

Lúcido Pessimismo: Isso acho que nem os críticos sabem... Fale-nos um pouco sobre seu processo de criação. Como você escreve, no papel ou no computador? Você tem as idéias primeiro, traça um plano e depois passa a escrevê-las? Ou vai escrevendo ao sabor das idéias?

Marcos Vinícius: Escrevo direto no computador. Já tive épocas de escrever a mão e depois passar a limpo, mas depois abandonei isso. O Inércia mesmo tem toda a primeira versão num caderno azul aqui em casa. Quanto às idéias, ou planos... Bem, são mais imagens. Cenas. Uma conversa que ouço. Um caso. Uma experiência que passo. Idéias vêm de todas as partes. Mas na hora de passar para papel (ou tela do cpu), eu sou uma verdadeira tartaruga. Fico semanas numa página. Um dia todo numa frase. Meu "molambo da língua paralítica" é muito atacado.

Lúcido Pessimismo: Dizem que toda forma de arte, em certo sentido, é uma maneira de responder a uma interrogação. Qual seria a pergunta que sua literatura tenta responder?

Marcos Vinícius: Uma vez, eu li que a arte era uma forma de reconstruir o mundo. Como se fossemos afetados por uma "Náusea", e as relações entre as coisas se perdessem por completo. A arte seria essa religação. Mas não acredito mais nessa idéia. Não sei o quê minha literatura tenta responder, quando eu descobrir a pergunta talvez eu descubra a resposta.

Lúcido Pessimismo: Um autor russo (se não me engano) afirmou que arte era 90% transpiração e 10% inspiração. Arte, inspiração ou técnica? Pelo visto a resposta já está meio que evidente...

Marcos Vinícius: É mais fácil um bom técnico da língua se tornar um autor relevante, do quê um hiponga inspirado com o canto dos passarinhos. Escrever é como dar marretadas em aço puro. E dificilmente esse metal se dobra.

Lúcido Pessimismo: Você percebe alguma influência mais forte de algum autor (ou autores) neste seu livro? Em tempo, quais são suas principais influências para a escrita em geral e quais os seus autores preferidos?

Marcos Vinícius: Gosto muito do Luiz Vilela, Henry Miller, Camus, apesar de lido pouco do Camus... Gosto muito do Angústia, do Graciliano Ramos, outro autor que deveria ler mais. Li a obra literária do Sartre quase toda... Mas acho que no Inércia está um pouco do Clube da Luta de Chuck Palaniuk e dos Novos de Luiz Vilela... Não sei como essas influências se dão... Mas é a impressão que tenho... Um professor me disse que o tipo de composição das frases lembra Camus, confesso que caí na risada... Não sei achar essas influências nas minhas próprias coisas. Aliás, gosto bastante do Kafka, principalmente pelas imagens estranhas que ele provoca na gente.

Lúcido Pessimismo: Bom, se permite um pitaco, também acho que o Inércia tem algumas coisas que lembram O Estrangeiro, do Camus. Você procura influenciar-se por outras "mídias" artísticas como o cinema, a música, a pintura, etc? Se sim, de quê forma você canaliza estas influências?

Marcos Vinícius: Eu gosto de cinema, de bons filmes, Kubrick principalmente... Gosto de música também, mas não sei como um Paranoid Android do Radiohead é canalizada na hora de escrever... Se é canalizada é de maneira não intencional.

Lúcido Pessimismo: Voltando para literatura, o quê você acha da literatura brasileira contemporânea? Você lê algum autor contemporâneo brasileiro, tem preferência por algum em particular? Luis Vilela você já citou...

Marcos Vinícius: Fora o Luiz Vilela, acho que os autores que eu leio estão todos mortos... Mas acho que isso é uma coisa natural na literatura. Os contemporâneos ficam meio que invisíveis. Mas, enfim, as grandes editoras estão preocupadas com os best sellers, com aquilo que é consumido rápido, com o descartável ou então com os monstros já consagrados. Mas apesar de toda a porcaria que se tem publicado por aí, existe gente fazendo literatura de verdade, ou pelo menos, tentando... Mas isso só a peneirada do tempo pode mostrar.

Lúcido Pessimismo: De que maneira você acha que seu livro se insere no panorama literário brasileiro?

Marcos Vinícius: Não sei, isso é coisa pros críticos dizerem. E mesmo que minha mineiradade seja explícita, meu objeto literário é o universal. Pelo menos essa é a tentativa

Lúcido Pessimismo: Antes que eu me esqueça, o quê você anda lendo ultimamente?

Marcos Vinícius: Li recentemente "Uma Carta por Benjamin" da gaúcha Jana Lauxen. Estou lendo O Castelo do Kafka, e ainda agorinha estava me aventurando com Alice no País das Maravilhas do Lewis Carrol.

Lúcido Pessimismo: Falando em Jana Lauxen, o quê você acha da popularização da escrita "literária" que se deu com o avanço da web 2.0? Blogs, sites "literários", Orkut, twitter, etc, são uma contribuição ou uma maldição? Muitos editores dizem que vivemos uma época onde nunca tantos publicaram seus textos, porém, ao mesmo tempo, o número de leitores cai drasticamente. Você acha que o quê temos hoje são muitos autores presos ao seu círculo de leitores que lêem a si mesmos?

Marcos Vinícius: Arte é arte, ou uma tentativa honesta de arte. A troca de afetos entre blogueiros é uma coisa muito engraçada, diga-se de passagem. Mas os livros não vão morrer. A Arte não vai morrer. Essa tempestade de textos é um feitiço que virou contra o feiticeiro e tornou-se uma verdadeira "maldição" como você disse. Bom, mas eu tenho um blog e tenho tido experiências interessantes com ele. Acho interessante um texto com expressões tipicamente luminarenses, afetar uma moça lá do outro lado do Brasil, a ponto dela me deixar um desabafo pessoal. E estranho, não sei como lidar com isso...

Lúcido Pessimismo: Ainda no tema da pergunta anterior, muito se diz que hoje os autores têm a oportunidade de tirar seus textos da gaveta (ou do Word) e publicaram através da internet. Você acha que estes textos realmente são lidosou apenas mudaram de necrotério; da gaveta do armário direto para um blog lido apenas pelos amigos mais próximos?Pela sua resposta anterior já da pra imaginar a sua resposta...

Marcos Vinícius: Mudaram de necrotério... Essa tara por publicação ilude muita gente... Vão mofar do mesmo jeito

Lúcido Pessimismo: Você consegue imaginar grandes autores como Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, Luis Vilella... escrevendo em blogs? O quê acharia disso?

Marcos Vinícius: Seria engraçado... Imagine o Graciliano Ramos postando aquilo que ele comeu no café da manhã via twiter? (risos) O Paulo Coelho tem um blog... Mas Paulo Coelho... Mas o blog por si só não é mau... É um produto da época. A mediocridade que é um problema... como li esses dias por aí, essa inclusão digital tem levado muitas pessoas que não tem nada a dizer, a se sentirem obrigadas a arrotar perfume por aí.

Lúcido Pessimismo: É verdade. Agora, mudando de assunto, Marcos, você mudou de cidade para estudar filosofia em uma Universidade Federal. De quê forma você acha que sair de suas raízes e encarar uma realidade diferente da que estava acostumado influiu em sua literatura? Esta mudança foi importante?

Marcos Vinícius: Foi sim. Eu sou um típico caipira. Um mineiro provinciano. Acostumado a dormir com a porta de casa destrancada, e saber da vida de todo mundo. Quando eu fui pra UFSJ, mesmo que São João não seja lá uma grande metrópole, cabem muitas Luminárias lá dentro. Mas o que mais influenciou nessa mudança foram as pessoas que eu conheci...

Lúcido Pessimismo: Qual a sua impressão relativa ás Universidades Federais, tomando de base a UFSJ?

Marcos Vinícius: Prefiro não responder essa pergunta

Lúcido Pessimismo: Tudo bem! Vamos à próxima. Você já está quase se formando em filosofia. Pretende tornar-se filosofo, além de escritor? Aliás, pra você é possível que alguém decida se tornar filósofo?

Marcos Vinícius: Eu tenho uma relação esquisita com a Filosofia: amor e ódio literalmente. Tem textos que até me arrepiam, outros... Enfim, não tenho essa pretensão. Não tenho o caquoete de filósofo... Acho que filosofia, assim como literatura, depende de muito esforço, de muita transpiração... Mas tem que ter um pulo do gato, que eu não sei da onde que vem... esse gato.

Lúcido Pessimismo: De que forma você sente que o estudo de filosofia influenciou sua literatura? Se é que influenciou...

Marcos Vinícius: Influenciou sim. Porque a leitura da Filosofia, de certa forma, destila a alma da gente (exagerei no lirismo)... mas é bem isso mesmo. Uma coisa é você ler a composição química do dióxido de sódio, outra é ler, por exemplo, a frase do Heidegger: "Por que existem os seres e não antes o nada?". Não gosto desse cara, mas essa frase é foda.

Lúcido Pessimismo: É verdade, essa frase pega bem aquilo que conversávamos outro dia (ontem?), sobre pegar o, como era mesmo? "esse estranho viver". (risos) Etilismos a parte... É isso ai. Ainda sobre filosofia, amigos que estudaram com você na UFSJ afirmam que os trabalhos feitos por você para a disciplina História da Filosofia Medieval têm verdadeiras pérolas e são muito bem escritos. Você não tem interesse em divulgar este material?

Marcos Vinícius: AHHAHHA... Divulgar? Só se for pra ajudar algum coitado que deixou o trabalho sobre Dum Scoto pra última hora, e precisa de nota... (risos)

Lúcido Pessimismo: Que nada... Eu tenho essas pérolas aqui em mãos e posso te garantir que tem muita coisa boa, sério mesmo. Não é lorota.

Marcos Vinícius: Se você diz, não ponho minha mão no fogo... (risos)

Lúcido Pessimismo: Um dia eu scaneio essas coisas e te passo. Quem sabe você não se anima a divulgar? O comentário do João Bosco (professor) você até postou no orkut... Enfim... Albert Camus certa vez afirmou, em concordância com Graciliano, que é impossível uma "literatura de tese"; porém, que uma boa literatura sempre esconde uma moral, uma tese, subentendida – que muitas vezes escapa ao autor. Você concorda com esta afirmação?

Marcos Vinícius: Concordo plenamente. A boa literatura sempre diz alguma coisa, sem precisar recorrer a silogismos.

Lúcido Pessimismo: Sendo assim, que "tese" ou "moral" você acha que podemos tirar do seu livro? Se é que pode ser possível tirarmos algo deste tipo dele.

Marcos Vinícius: Terão que ler pra descobrir.

Lúcido Pessimismo: Você de bobo não tem nada... Não sei se o pessoal aqui sabe, mas você ainda continua com seu projeto musical The Walkie Talkie? É difícil conciliar a criação artística musical com a literária?

Marcos Vinícius: A música pra mim é um passatempo, não tenho pretensão nenhuma com música... Só umas brincadeiras de noites de tédio e vadiagem com Reason e Acid Pro.

Lúcido Pessimismo: Como os raps que você fazia antigamente... "Tira a carteira do cimento, no pensamento"... Bom, como considerações finais, deixo aqui o espaço para você deixar um recado, falar qualquer coisa mesmo. Conselhos pra quem quer começar, divulgar seus vídeos do youtube, o lançamento... O quê quiser. E, desde já, muito obrigado por nos conceder esta entrevista.

Marcos Vinícius: Eu quem agradeço. O lançamento será dia 18 de julho em Luminárias, no auditório da Escola Municipal "Francisco Diniz", às duas horas da tarde. E a única coisa que tenho a dizer: a realidade é infinitamente maior do que qualquer coisa que eu possa imaginar. Um grande abraço.

Lúcido Pessimismo: Poxa vida, tenho que delimitar aqui senão a entrevista vara noite adentro. Espero que não tenha sido muito chato passar quase duas horas e meia (!) respondendo essas chatices!

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