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Grandes entrevistas
   

          NICHOLAS SPARKS

Entrevista realizada pela revista Veja online, em 2013, e reproduzida no site http://www.universodosleitores.com, de onde foi extraida em 18/2/2016.


Como explica o sucesso de seus livros?

Os livros falam da condição humana, que é provavelmente a mesma em todo o mundo. São pessoas passando por sofrimentos e desafios, lidando com emoções da vida. Elas se conhecem e se apaixonam, algumas vezes o romance dá certo, outras não. Aí estão alguns dos elementos que compuseram ótimas histórias e que estão presentes na literatura desde o começo.


Os leitores se identificam com os personagens?

Sim, com certeza. Mas isso depende muito do livro e do leitor. Por exemplo, acho que jovens se identificarão mais com A Última Música, Diário de Uma Paixão ou Um Amor para Recordar, enquanto pessoas em seus 40 e 50 anos, provavelmente, gostarão mais de Noites de Tormenta ou O Melhor de Mim. Depende do momento que estão vivendo.

Acredita que as pessoas desejam viver histórias de amor como as dos seus romances?

As pessoas definitivamente querem se apaixonar por alguém especial, que as compreendam. Querem alguém em quem podem confiar, alguém capaz de se comprometer.


As histórias são autobiográficas?

Todos os romances têm elementos autobiográficos. Quase todos meus personagens femininos são baseados na minha esposa, por exemplo. Ela é inteligente, engraçada, leal, amável, forte, com um coração de ouro. Boa parcela dos meus personagens acaba sendo assim também. Mas há influência de outros familiares, como a minha mãe, que tem essas mesmas características. Esse é o tipo de mulher com quem eu cresci e com quem gosto de conviver.


Sua família sugere enredos para seus livros?

Não, isso fica tudo por minha conta, eles ficam longe disso, não querem participar da criação. Na nossa casa, escrever é apenas meu trabalho, é o que faço para nos sustentar.


Por que começou a escrever?

Escrevi meu primeiro romance aos 19 anos e o segundo aos 22, só como teste para saber se eu conseguiria ir até o fim. Aos 28, decidi que eu iria tentar novamente, mas dessa vez levaria a tarefa a sério. Tive a ideia para o romance, mas parte de mim também queria obter um resultado bom o suficiente para, talvez, continuar a escrever, no futuro.


De onde veio a ideia para esse primeiro livro, Diário de Uma Paixão?

Essa história foi inspirada nos avós da minha esposa, é basicamente a vida deles contada nas páginas. Eles se conheceram quando eram crianças, mas a mãe dela não gostava dele e os afastou, levando a menina embora. Ele escrevia-lhe cartas, que não eram entregues pela mãe. Anos mais tarde, ela ficou noiva de outro rapaz, mas decidiu procurar o antigo namorado. Enfim, a maior parte dos elementos dessa história é real. O livro foi vendido à editora por um milhão de dólares. Quando ele finalmente chegou às prateleiras, ficou por mais de um ano na lista de livros mais vendidos do jornal The New York Times. Foi um grande sucesso desde o início.

Por que prefere usar cidades pequenas como cenários para suas histórias?

O caminhar da vida nessas cidades é mais lento. Acho que elas possibilitam a criação de historias mais calmas, em que os personagens consigam conversar sem ter a pressão e a rapidez de uma grande cidade. Simplesmente funciona, é o que sempre faço e os leitores parecem gostar desse ambiente, então continuo escrevendo assim.


Por que a maioria de seus livros trata de morte e redenção?

Para fazer um livro memorável, o mais importante é evocar todas as emoções genuínas. Raiva, traição, amor, frustação, confusão e perda. Se um livro fala sobre todas as emoções, ele faz com que os personagens e os dilemas pareçam reais. Se você ignora uma delas, passa a impressão de ser uma fantasia.


Tem planos de tentar outros gêneros literários ou escrever algo diferente?

Se eu fizer isso, vai ser em outro formato de mídia. Eu tenho uma produtora de televisão e as histórias que crio para a TV não serão todas histórias de amor. Uma delas trata do velho oeste, em 1864, outra é uma releitura moderna de Romeu e Julieta. Na televisão eu exploro diferentes gêneros, mas em literatura estou feliz com o que estou fazendo.


Há um método para se fazer literatura?

Com bastante trabalho, uma pessoa consegue se tornar uma boa escritora, tecnicamente falando, é capaz de aprender a mecânica da escrita de qualidade. Mas isso não significa que ela será capaz de escolher ou desenvolver uma história original. O verdadeiro desafio é criar uma boa história que os leitores e os estúdios de Hollywood vão adorar. É algo muito difícil de se fazer.


E como o senhor faz? Eu não tenho certeza. Eu leio muito e quando termino de ler romances, sempre me pergunto como posso mudá-los e transformá-los em novas histórias. Eu posso ficar com essa pergunta por muito tempo na cabeça, até que as ideias misturadas começarem a fazer sentido. Aí sim, estou pronto para escrever. Isso pode demorar uma semana, mas também pode demorar seis ou sete meses. A ideia de O Casamento demorou três anos para se concretizar em um romance. Pode levar muito tempo até conseguir harmonizar todos os elementos de uma história.


Quais autores são referência para o seu trabalho?

Todos os dias leio os jornais The New York Times, The Wall Street Journal, The Financial Times e o jornal local. Por ano, leio cerca de 125 livros, de thrillers a não-ficção. O autor que mais influenciou meu trabalho e meu estilo de escrita é Ethan Canin, um escritor provavelmente desconhecido no Brasil. E um autor importante para mim em outros aspectos, como na criação de personagens que se assemelham a pessoas reais, surpreendentemente, é Stephen King. É um gênero muito diferente, mas ele faz com que os leitores não consigam parar de virar as páginas.


Como vê a crítica ao seu trabalho?

Não leio uma resenha há uns dez anos, para ser franco. No começo, eu ficava um pouco mais frustrado quando recebia uma crítica negativa, mas, no geral, oito ou nove de dez resenhas são positivas. Estou satisfeito com isso.


O senhor fica ressentido por não ser considerado parte do mainstream literário? De maneira alguma. No fim das contas, a longo prazo, são os leitores que escolhem os clássicos, não os críticos. Olhando para o passado, ninguém gostou de O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, quando foi lançado. Agora é um clássico. Acredito que alguns dos meus livros serão lembrados por muito tempo e lidos muitas vezes, como O Diário de Uma Paixão. Daqui 50 anos, as pessoas ainda vão ler esse livro.


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