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Influência literária
Antonio Carlos Viana

"Se eu fosse escolher uma influência, talvez convocasse Mário de Andrade. Gosto do jeito dele escrever meio como quem não quer nada, como se estivesse contando a história a uma pessoa próxima, sem se preocupar com o estilo. Depois é que a gente vê como ele o trabalha. Há um conto que levou dezessete anos para ser concluído. Por isso que deixou apenas dois livros fundamentais para o conto brasileiro: Contos novos e Contos de Belazarte. Outro que foi um dos motores para eu começar a escrever foi José J. Veiga, hoje infelizmente esquecido. Acho que vem dele o narrador infantil que tanto prezo. O narrador-criança é interessante porque, como ele vê o mundo de certo ângulo, sempre ficam sombras que criam no leitor espaços que devem ser preenchidos pouco a pouco. O universo infantil é todo cheio de mistérios porque a criança não tem pleno entendimento das coisas (como se a gente tivesse...). O terceiro escritor que me impulsionou foi Clarice Lispector, da qual acho que não tenho nada, o que é bom. Quando li Clarice pela primeira vez senti que ela dizia coisas que ninguém até então havia dito para mim e eram tão verdadeiras, mesmo que intangíveis. Laços de família é um livro que todos deviam ler. Aliás, tudo o que ela deixou. A descoberta do mundo, seu livro de crônicas, está sempre ao alcance da minha mão. Fora esses, tem Gabriel Garcia Márquez, mas é só admiração pela facilidade como ele conta uma história, algo que não tenho. Tendemos a preencher com as virtudes do outro aquelas que não temos. Se eu fosse pensar em acidez e humor, pensaria em Nelson Rodrigues. Às vezes acho que tenho algo dele, sobretudo na descida ao que o ser humano tem de mais sórdido, escabroso, escondido.

Fonte: www.carlosribeiroescritor.com.br/especial_revista_antoniocarlosviana

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