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Ensaio

Breve História da

ACUMULAÇÃO DO CONHECIMENTO

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 J.D. Brito

 

Sinopse

 

Por uma ironia do destino, a história inicia com os tabletes de argila e  termina com os “tablets” computadorizados, os suportes da informação e da comunicação. Vejamos como o conceito e a existência de grandes bibliotecas surgiram há mais de dois mil anos antes da existência do livro com Gutemberg há pouco mais de 500 anos. É interessante ver como o conhecimento humano foi se acumulando e se organizando em acervos constituindo as grandes bibliotecas ao longo da História. Em paralelo, vemos a organização político-social constituindo-se a partir da acumulação do conhecimento, cuja aquisição torna-se uma questão de soberania e, muitas vezes, de hegemonia geopolítica. 

 

1-  Antiguidade

 

O suporte da escrita é constituído por tabletes de argila, e são guardados em locais, que seriam melhor denominados de arquivos. Ainda não se pode chamá-los de bibliotecas. É um local para guarda e manuseio do material escrito. Conteúdo da escrita: Contas dos templos, listas comerciais e mais tarde, orações, provérbios, embriões de lendas e da literatura.

 

- Biblioteca de Ninive (ou de Assurbanipal)

É a primeira biblioteca organizada da história e uma das maiores e mais valiosas da antiguidade, surgida no século VII a.c. É uma coleção com cerca de 22 mil tabletes de argila, contendo textos em escrita cuneiforme, alguns em duas línguas (sumério e acádico). Os escritos tratavam sobre vários assuntos (religião, astrologia, matemática, geografia, direito, medicina). Neste acervo encontra-se a famosa Epopeia de Gilgamesh. Tal biblioteca é considerada a primeira da história, foi encontrada no século XIX por arqueólogos ingleses e se acredita ter sido fundada pelo rei assírio Assurbanipal II. Ninive foi a capital do Império Assírio (atual Iraque)

 

- Biblioteca de Alexandria

A Biblioteca de Alexandria foi criada por Ptolomeu no século III a.c e tinha como objetivo reunir os livros de todos os povos da Terra. Era freqüentada por Arquimedes, Galeno,  Euclides e outros sábios da época.  A cidade de Alexandria tornou-se um grande centro de comércio e fabricação de papiros. Chegou a ter 700.000 volumes (rolos de papiros) dispostos em salas de leitura, com uma oficina de copistas e um arquivo para a documentação oficial. Segundo Estrabão, era “um cenáculo erudito destinado aos homens de letras que trabalhavam na biblioteca”.  No ano 30 a.c. foi enriquecida com o espólio da Biblioteca de Pérgamo, doada por Marco Aurélio à Cleópatra. Foi destruída três ou quatro vezes até a última destruição pelos árabes, no século VII d.c.  Os árabes diziam que se todo o conhecimento existente ali já estavam expostos no alcorão (seu livro sagrado), não havia necessidade de sua existência. Por outro lado, se todo esse conhecimento não constava do alcorão, com mais razão ainda deve ser destruído, pois é um conhecimento contrário às leis religiosas. Apenas os trabalhos de Aristóteles foram poupados. Entre os livros destruídos encontravam-se textos sobre contatos com seres extra-terrestres, a fabricação de ouro e prata, fundição de metais e conhecimentos de alquimia. Foi destruída mais de mil anos depois em diversas ocasiões e cuja causa ainda é desconhecida. É sabido que quase todos os sábios e filósofos da antiguidade estiveram ou passaram por Alexandria, e desfrutaram do conhecimento ali armazenado. 

-Biblioteca de Pérgamo                                                          Localizada a noroeste da atual Turquia, floresceu no reinado de Eumênio II (165 a.c), como resposta ao enorme sucesso da Biblioteca de Alexandria. A rivalidade entre as duas leva o Egipto a cortar-lhe o fornecimento de papiro. Este fato dá origem ao surgimento de um novo souporte: o pergaminho e um novo formato: do livro em códice, em folhas presas na lombada ao invés dos rolos de papiros.  O acervo da Biblioteca de Pérgamo era de 200 mil volumes.  Segundo a tradição, os dois mais importantes centros intelectuais do Período Helenístico foram as cidades de Alexandria, no Egito, e Pérgamo, na Ásia Menor. Não por coincidência, essas cidades abrigavam grandes bibliotecas e eram, além de centros culturais, centros políticos, onde viviam os reais patronos das bibliotecas, os reis das dinastias dos Ptolomeus (Alexandria) e dos Atálidas (Pérgamo).

2- Império Romano

 

Efetivação das primeiras bibliotecas públicas (30 d.C. Asinius Pólio “Ele fez do conhecimento, coisa pública, segundo Cícero), utilizadas pelo império como instrumentos de dominação intelectual. O mundo já conta com inúmeras bibliotecas particulares, aliadas à expansão o comércio de livros: fenômeno de moda, símbolo de riqueza e prestígio. Em Roma, entre os ricos, estourara a mania de encher a casa de livros. “Para que servem”, trovejava um filósofo estóico, “coleções inteiras de livros se ao longo da vida o dono mal consegue ler os títulos? Dedica-te a poucos autores, não vagueies entre muitos”. (1) Sêneca, por sua vez, condenava os colecionadores de livros, que admiram o exterior mas não lêem o interior. Pois, os livros eram jóias raras ricamente ilustrados. Pode-se dizer nesta época já havia uma incipiente indústria editorial mantida com cópias de manuscritos  feitas por escravos instruídos.

A partir do século II a.c. o Império Romano se extende ao oriente e domina praticamente todos os reinos helenísticos (gregos). Dessa época em diante não se houve mais falar em grandes bibliotecas. Existiram, embora sem destaque histórico. O destaque agora é a expansão do Império Romano, ou seja a criação do Império Bizantino (Império Romano do Oriente). No inicio da Idade Média, enormes quantidades de rolos de papiro foram levados transferidos para o Ocidente.

 

3- Idade Média

 

Durante a Idade Média ocorreu uma grande dispersão dos acervos bibliográficos, os quais foram alojados nos mosteiros. (veja-se o livro/filme O nome da Rosa, retratando o ano 1327) No séc. XIII: surgem as grandes universidades dotadas de bibliotecas, e as bibliotecas monásticos deixam de ser os únicos centros da vida intelectual. Posteriormente, os livros deixam de ser guardados nos armários e passam a ser acorrentados nas estantes para permitir a consulta local, evitando o roubo. O serviço de cópia e ilustração (iluminuras) de livros era um ramo das artes decorativas. A Idade Media, segundo alguns historiadores, é o período obscuro da humanidade, onde a civilização ficou hibernando até o séc. XV. Foram mil anos, até o fim do Império Romano (1453) e o conhecimento durante essa época ficou restrito sob o domínio dos mosteiros e castelos, ou seja, da igreja, dos senhores feudais e dos reis.    

 

Já no final do séc. XIII havia na Inglaterra um catálogo coletivo com os registros dos acervos das bibliotecas monásticas inglesas, onde cada biblioteca era identificada por um código numérico. Em 1389, a lista de livros do Convento de St. Martin, em Dover, constituía-se no primeiro catálogo visto como tal, pois trazia um nº código de localização e até os assuntos tratados naquele livro. Ainda no séc. XIV surgem as grandes bibliotecas universitárias

 

 

5- Idade Moderna

 

Com o invento da imprensa, Gutemberg (1455) revolucionou a industria editorial. O livro deixou de ser um produto raro comercializado no mercado. Surgem as primeiras bibliotecas senhoriais e reais (séc. XIV/XVI) e as bibliotecas passam, novamente, a se constituir como símbolo de riqueza, poder e prestígio. As bibliotecas reais, inicialmente de caráter privado, ficam primeiro acessíveis aos sábios e só a partir do séc. XVII se tornam “públicas” e em seguida se transformam em bibliotecas nacionais. Por volta de 1643, Luis Jacob utiliza o termo “bibliografia” para designar uma relação de livros sobre determinado assunto. Para se ter uma idéia do enorme progresso na área editorial, surge na Inglaterra, uma lei para proteger e garantir a autoria de uma obra, a lei de direito autoral, que veio aparecer em 1709.

 

Vê-se, então, que foi a partir do século XV e XVI que se desenvolveram as  idéias sobre a necessidade das bibliotecas serem locais de estudo e reflexão e terem, para além de livros, um ambiente propício ao desenvolvimento de atividades intelectuais. É a partir daí também que surgem as primeiras bibliotecas universitárias, que se alastram pela Europa e se mantêm até hoje, como a  Bodleian Library, na Universidade de Oxford, criada em meados de 1550 e aberta aos alunos em 1602. Menos de 20 anos depois já contava com um catálogo de 675 páginas (1620).  A Biblioteca da Cambridge University surge ainda antes, em 1416. Ao mesmo tempo começam a surgir as bibliotecas nacionais na França (1480), Baviera (1558), Prussia (1661), Dinamarca (1664) Espanha (1712), Inglaterra (1753) etc.

 

É evidente que com a invenção da imprensa, o número de livros cresceu exponencialmente em todo o mundo, particularmente com o surgimento das primeiras editoras a partir do século XVI. Não por acaso as grandes edtoras do mundo surgem logo em seguida: A Elsevier (Holanda) surgiu em 1580, como impressora e encadernadora, e em 1880 já é uma das mairoes editoras do mundo; no âmbito das editoras universitárias surge a University of Cambridge Press, em 1584. Hoje apenas estas duas editoras concentram boa parte da indústria editorial do mundo científico.

 

6- Iluminismo

 

É sabido que a Era Moderna só foi consolidada 200 anos depois com o Iluminismo. É por isso que o século XVII é conhecido como o “século das luzes”. Foi um movimento filosófico, religioso, científico e político que provocou um abalo na mentalidade medieval, em todas as áreas do pensamento e até na geografia, com a descoberta da China como uma monarquia sem feudalismo e uma religião sem dogmas, bem como a descoberta de novos continentes e o assentamento do mundo em países plenamente constituídos. O mundo cristão e aristotélico entra em convulsão e logo é transferido do centro (Roma) para o norte europeu (Inglaterra e Holanda). Estão lançadas as bases para outra grande mudança na história da humanidade: a eclosão da Revolução Industrial, que deu uma moldura ao mundo atual.

 

Em termos científico-culturais, o que vemos nessa época?: Shakespeare (1600), Galileu (1609), Cervantes (1615), Descartes (1637), Thomas Hobbes (1651), Moliére (1664), Isaac Newton (1687) e Thomas Savery (1698), o inventor do motor a vapor. No século seguinte temos o primeiro piano (1707) na Itália; Bach e o surgimento da música sinfônica, em meados de 1750. E na área editorial, que se alastra como o vento, o que vemos? Uma verdadeira revolução no mundo do conhecimento: o surgimento da Enciclopédia, em 1747. A partir daí todo o conhecimento acumulado pela humanidade encontra-se acessível à todos. Em 1772 tinham sido editados 17 volumes de texto e 11 de pranchas de ilustração. Diderot diz na apresentação que “O objetivo de uma enciclopédia é o de reunir os conhecimentos esparsos na superfície da Terra, expor o seu sistema geral aos homens com que vivemos, a fim de que nossos descendentes, tornando-se mais instruídos, tornem-se ao mesmo tempo mais virtuosos de mais felizes”. Quem são os autores, além de Diderot e d’Alembert, os editores?: Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Condilac, Condorcet, Buffon, Quesnay, Turgot, Holbach e mais 160 colaboradores, os mais célebres em todas as áreas do conhecimento.

 

Não é apenas a Enciclopédia Francesa que provoca uma revolução na divulgação do conhecimento. Temos, também, a Britânica, publicada em apenas três anos (1768-1771) e suplantou sua colega francesa em popularidade e tamanho. Sua 3ª edição, de 1801, continha 20 volumes; e na  última edição (15ª) contava com 30 volumes e deixou de ser impressa em papel em março de 2012. Foi a primeira enciclopédia a adotar o sistema de revisão contínua, atualizando os verbetes regularmente. Não por acaso, a era do Iluminismo é também chamada de “Enciclopledismo”. 

Juntamente com o desenvolvimento do livro, a indústria gráfica passa por outra revolução: a proliferação de revistas e jornais. O primeiro jornal surgiu em princípios do século XVI, na Itália, com as “Fogli d’Avvisi”, mais tarde chamada de gazeta. O primeiro jornal semanal – Gazzete de France - surgiu em 1631, não por acaso, em Paris, que veio a se tornar a capital mundial da literatura. Neste ponto, é preciso esclarecer que o aumento da informação determina o aumento da procura de mais e mais fontes de informações. Com este fato, as publicações periódicas passaram a contar, a partir do século XX, com mais leitores do que o livro tradicional. 

 

 

7- Idade Contemporânea

 

E assim entramos na Idade Contemporânea, com a Revolução Francesa e o estabelecimento da República como forma política. Em termos políticos, passamos aqui por outra revolução: É decretada a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”. Naquela época “cidadão” era o indivíduo que podia votar, porque tinha bens (propriedade). Posteriormente é que o “homem” virou sinônimo de “cidadão”. Por esta época o mundo atual já está mais ou menos consolidado e dividido nos atuais países com suas bibliotecas nacionais, que cresceram muito rapidamente com a instituição da Lei do “depósito legal”, vindo na sequência. A partir daí todas as editoras são obrigadas a enviar alguns exemplares do livro à biblioteca nacional de seu país. No Brasil, a Lei foi instituída em 1907.

 

 

As maiores bibliotecas do mundo

 

              Local                                                     Acervo em milhões  

Library of Congress (EUA)                                          33

Biblioteca Nacional da China                                        30 

Biblioteca Nacional do Canadá                                     26   

Biblioteca Nacional da Alemanha                                 24 

British Library                                                            23 

Biblioteca Nacional da Russia                                      17

Harvard University Library  (EUA)                              16 

New York Public Library (EUA)                                 15

Yale University Library   (EUA)                                  13

Biblioteca Nacional do Brasil                                        9

 

 

 

Como pode ser visto, quatro das maiores do mundo incluindo a maior delas, encontram-se nos Estados Unidos. Foi criada em 1800 com a transferência da capital do país, da Filadélfia para Washington. Atualmente a Library of Congress (LC) vem cumprindo o desejo da Biblioteca de Alexandria: acolher todo o conhecimento existente no mundo. Em todos os recantos destacados do mundo, a LC mantêm um escritório com a finalidade exclusiva de coletar toda e qualquer publicação editada para enviá-la à sede em Washington. Os EUA têm uma consciência bastante acentuada sobre a importância das bibliotecas para a o desenvolvimento da sociedade. Foram eles que criaram a biblioteca “aberta” em contraposição à biblioteca “fechada” até então existente. Qual a diferença? Na biblioteca “aberta” o usuário tem acesso direto às estantes; enquanto na “fechada” o usuário solicita a um funcionário que lhe traga o livro desejado. Em que importa essa característica? Na biblioteca aberta, o usuário defronta-se com todos os livros referentes ao assunto procurado. Isto faz com que ele tome conhecimento, ali mesmo na estante, de diversos outros livros referentes ao mesmo assunto, enriquecendo de imediato sua busca.

 

Não é somente o governo norte-americano que prestigia as bibliotecas públicas. Além do caráter religioso protestante que privilegia o saber e a leitura, os cidadãos milionários norte-americanos mantêm a tradição de fazer grandes doações às bibliotecas existentes, ou mesmo de ajudar a instalar novas bibliotecas. Andrew Carnegie, por exemplo, em fins do século XIX, ajudou a construir 2800 bibliotecas no território norte-americano. Ao fim de sua vida suas doações foram contabilizadas em mais de 350 milhões de dólares. Costumava dizer que “ o homem que morre rico, morre desonrado”. 

 

Eles foram pioneiros, também, na organização interna das bibliotecas, no modo com os livros devem ser ordenados nas estantes. Em 1875, o bibliotecário Melvin Dewey criou o “sistema decimal universal”, onde os livros são juntados de acordo com um número/código que indica seu assunto e sua localização na estante. O sistema se espalhou rapidamente pelos Estados Unidos e chegou na Europa, onde foi modificado e ampliado dando origem à Classificação Decimal Universal-CDU. Hoje quase todas as bibliotecas do mundo adotam um destes dois sistemas de classificação temática: a CDU ou a CDD, Classificação Decimal de Dewey, como ficou conhecida e utilizada com mais freqüência do que a CDU, devido facilidade de manuseio pelos usuários.

 

 

8- 1ª Explosão da informação

 

Na década de 1980 o termo “explosão da informação” foi utilizado de modo tão exaustivo, que caiu em desuso. Queria significar o que todos já estavam cansados de saber: a quantidade de informações em qualquer ramo do conhecimento é muito superior a capacidade de absorção por qualquer pessoa. O fato é que tal “explosão” se deu numa época bem anterior. Em 1985, dois bibliógrafos belgas – Henri La Fontaine e Paul Otlet – criaram o Institut International de Bibliographie (IIB) com a finalidade de congregar esforços no sentido de estabelecer uma padronização universal na produção bibliográfica, além de realizar estudos sobre o comportamento da informação documentada. Como objetivo prático criaram o sistema de Classificação Decimal Universal em 1905, tendo como base o sistema decimal criado pelo norte-americano Melvin Dewey. Já na época a palavra “bibliografia” servia apenas em parte para designar a enorme proliferação de estudos, teses e artigos técnicos publicados em revistas especializadas e outros suportes diferenciados do livro p.p. dito. Assim, em 1930, o IIB passou a se chamar Institute Internationale de Documentation (IID). Com esta modificação ficava claro que o objeto de trabalho não era só “biblio”, era documento, o suporte da informação. O IID cresce prodigiosamente e sete anos depois se transforma na Fédération Internationale de Documentation (FID), com sede em Bruxelas. Em 1986 teve acrescentado a palavra “Informação”, sem, contudo, modificar a sigla.

 

Esta primeira a “explosão” da informação foi confirmada pelo filósofo  Ortega y Gasset na palestra inaugural do 2º Congresso Internacional de Biblioteconomia, em Madrid, em 20 de maio de 1935, intitulada “A missão do bibliotecário”. Já naquela época ele exclamava: “O livro deixou de ser uma ilusão e é sentido como um peso! O mesmo homem de ciência adverte que uma das dificuldades de seu trabalho está em se orientar na bibliografia de seu tema”. A palestra prossegue com um prognóstico: “Se cada geração continuar acumulando papel impresso na proporção das anteriores, o problema que expus, o excesso de livros, será pavoroso. A cultura que havia libertado o homem da selva primitiva joga-o outra vez em uma selva de livros não menos inextricável e afogadora”. Em sua opinião, a missão do bibliotecário consistia em se tornar um “filtro” entre o universo de livros e as necessidades dos usuários.  

 

 

9- 2ª Explosão da informação

 

Em termos de abrangência da área de estudo, o que foi alcançado pela FID em quase um século ocorreu, como vimos, de modo natural: do livro ao documento, e daí à informação. No entanto, quem primeiro percebeu e institucionalizou esta relação direta entre documentação e informação foram (de novo) os norte-americanos: O American Documentation Institute (ADI), fundado em 1937, passou a se chamar em American Society for Information Science (ASIS) em 1968. Evidentemente esta mudança ocorreu devido ao surgimento dos computadores na década de 1950 e a conseqüente revolução provocada no manuseio e no comportamento da informação. Mais tarde, no ano 2000, a ASIS incorporou, de vez, os computadores, e incluiu “and Technology” no seu nome para abranger as bases de dados online existentes em todas áreas do conhecimento e outros aspectos do profissional da informação. Atualmente a ASIS&T congrega profissionais de várias áreas, incluindo a engenharia, lingüística, biblioteconomia, educação, química, ciência da computação e medicina. Seus membros partilham “o interesse comum em desenvolver acervos públicos, recuperar, analisar, administrar arquivos e disseminar informações”. Assim surge uma nova área de atividade profissional, a “Ciência da informação”. No Brasil, os bibliotecários fizeram até plebiscito para mudar o nome da profissão para “cientista da informação”. Mas quem mais se aproveitou desta evolução foram os administradores de empresas. Criaram uma nova disciplina denominada “Gestão do conhecimento”, a qual tem originado inúmeros trabalhos de investigação e investimentos cada vez mais significativos por parte das organizações que reconhecem a sua crescente importância.

 

10- 3ª Explosão da informação

 

Por fim, chegamos na década de 1990 com a Internet, seguida pela editoração e o correio eletrônico. A partir daí toda pessoa, além de ter todas as bibliotecas a arquivos acessíveis em casa, pode também editar e divulgar o que quiser em qualquer parte do mundo. A livraria Amazon vende seus “tablets” possibilitando uma leitura confortável de qualquer livro, dispensando o uso da impressão em papel. E assim chegamos na época em que a divulgação e transmissão do conhecimento prescinde do papel. Chegou-se mesmo a se discutir seriamente no fim do livro, que é uma discussão banal. Mas não deixa de ter sua razão. Muitos livros, tais como catálogos, diretórios e alguns manuais, têm sua impressão em papel cada vez mais limitadas. A Enciclopédia Britânica, por exemplo, parou de ser editada em março de 2012 e ninguém reclamou, pois quem dispõe de espaço em casa para acomodar 30 volumes? Sua consulta agora é apenas via Internet a um custo bem mais razoável.

 

 

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José Domingos de Brito

Bibliotecário, organizador da obra Mistérios da criação literária, editor do site www.tirodeletra.com.br e Diretor de Documentação da UBE-União Brasileira dos Escritores.

Texto-base da palestra proferida no 10º SALIPI-Salão do Livro do Piauí, em 14/06/2012.

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