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A UBE fazendo História

 

CONGRESSO BRASILEIRO

DOS ESCRITORES

                                                                                                      J.D. Brito

  

   Os escritores brasileiros raramente se reúnem para discutir os problemas e avanços da Literatura, do livro ou de sua profissão. O I Congresso, ocorrido em 1945, não teve a finalidade precípua de discutir estes temas.  Foi mais um grito de alerta no processo de redemocratização do Brasil ao fim da Segunda Guerra Mundial. Conforme o historiador Carlos Gulherme Mota, “criou-se com nitidez um divisor de águas na história da cultura contemporânea no Brasil, em que a perspectiva política passa a estar presente nos diagnósticos sobre a vida cultural. Amplia-se, também nesse sentido, a idéia de ‘cultura brasileira’”. E quem participou deste Congresso, de modo a produzir tal efeito?: Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Manuel Bandeira, Caio Prado Júnior, Antônio Cândido, Cruz Costa, Fernando de Azevedo, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Sergio Milliet, Aníbal Machado, Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda, Astrojildo Pereira, Fernando Sabino, Viriato Corrêa, José Honório Rodrigues, Prado Kelly, Pontes de Miranda, Godofredo Rangel, Helio Pelegrino, Raul Ryff, Otto Lara Resende, Álvaro Lins, Luis da Câmara Cascudo, José Américo de Almeida, Wilson Martins, só para citar os mais conhecidos até hoje, além de escritores estrangeiros como Roger Bastide, Pierre Monbeig e Jaime Cortesão, sem faltar dezenas de telegramas de solidariedade, um deles de Albert Einstein.

 

    A Carta de Princípios extraída do Congresso demonstrava claramente seu teor político expresso em apenas três itens: 1- A legalidade democrática como garantia de completa liberdade de expressão... 2- O sistema de governo eleito pelo povo mediante o sufrágio universal... 3- Só o pleno exercício da soberania popular em todas as nações torna possível a paz e.... (ver texto completo no site www.ube.org.br). Com isto explica-se o marco histórico brasileiro fincado pelos escritores.

 

     O II Congresso, só viria ocorrer 40 anos depois, em 1985, e teve características semelhantes. Outra vez os temas específicos da categoria ficaram em segundo plano. O País estava saindo de um longo período de ditadura militar, carente de vozes firmes e atuantes, dispostas a protagonizar um novo período na história da política brasileira. Teve a participação dos principais escritores de todo o País, contando com a abertura do escritor e vice-presidente da República José Sarney, representando o presidente Tancredo Neves, que se encontrava hospitalizado perto dali. Seu encerramento se deu, não por acaso, em 21 de abril, um dia marcante na história da independência do Brasil. Em termos políticos, a Carta de Princípios extraída do 2º Congresso não foi diferente do 1º: expressava, de novo, as liberdades democráticas, a livre expressão do pensamento, livre acesso à informação etc.

 

     O III Congresso ocorreu agora há pouco, em Ribeirão Preto, de 12 a 15 de novembro de 2011, e contou com a participação de 500 escritores de todos os recantos do País. A temática do Congresso, agora com o País estabilizado em termos democráticos, dirigiu-se aos problemas mais específicos da categoria, tais como a profissionalização do escritor, direitos autorais, programas de leitura e cobrou do Governo mudanças nas leis de incentivo à cultura. Todas as atividades do Congresso ocorreram em perfeita harmonia e num clima descontraído de encontro entre amigos. O encerramento do Congresso se deu com uma solenidade de entrega do Prêmio Juca Pato à Aziz Ab'Sáber e uma magnífica palestra do agraciado. O nível de relacionamento entre os participantes motivou a Diretoria da UBE a tomar uma decisão que foi ao encontro do desejo de todos: realizar, a partir de agora, o evento a cada dois anos. Assim teremos o IV Congresso em 2013. Desse modo, os escritores não passarão a se reunir apenas quando o País atravessa períodos de crise institucional, e sim com a regularidade bianual, como todas as profissões, e poderão tratar de temas mais ligados à sua categoria, sem esquecer temas fundamentais como liberdade de expressão e acesso à informação, sem os quais a existência do escritor não faz sentido. Interessante é que esta decisão não estava sendo cogitada anteriormente, mas havia uma premonição no slogan da UBE criado para anunciar o Congresso: "a escrita é um ato isolado, mas o escritor não precisa estar isolado".

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José Domingos de Brito

Bibliotecário, editor do site www.tirodeletra.com.br, organizador da obra "Mistérios da criação literária" e Diretor de Documentação da UBE-União Brasileira dos Escritores