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Lançamento

Neca Faloônica

Livro de poesias revê gênero e sexualidades

 

 

O livro de poesias Neca Faloônica do roteirista mineiro Moisés Guimarães (com três curtas metragens lançados em 2008) recém lançado pela Editora Íbis Libris (RJ) revê gênero e sexualidades através do falo. Seus poemas discorrem sobre a nulidade da mulher e dos homossexuais numa sociedade falocêntrica. Apesar de uma poesia que traz temas tabus para a sociedade, o autor consegue apresentar de forma irreverente questões nevrálgicas para se pensar gênero e sexualidades nos tempos atuais.

 

O livro de estreia de Guimarães, Neca Faloônica, brinca com a linguagem usada por travestis para nomearem o falo – neca-, propondo assim, um jogo entre a representação do falo na sociedade e a existência do não-falico. Os versos salientam vozes que foram silenciadas pela invisibilidade, pela não aceitação, pelo descaso, pela exclusão do direito de ser-se: “Na noite, suas formas delineiam,/ Incitam!/ Salientes mastros buscam liberdade/ em calças jeans sem calibragem.” (Divinas da Noite). Segundo o autor, “o barato da poesia é você desconstruir estereótipos sociais através das palavras e ressignificá-las com a intenção de aproximar o leitor de um público que, muitas vezes, foi subjugado às migalhas sociais de uma subjetividade considerada marginal. O falocentrismo impõe isso, e essas regras sociais estigmatizantes são avassaladoras na vida de muita gente.”. E complementa: “por incrível que pareça, a invisibilidade está nas entrelinhas dos discursos, e as maiores vítimas ainda continuam sendo todas as representantes do não-falico”.

 

O livro tem prefácio assinado pela travesti espanhola, Dália Von Monfort, e conta ainda com comentários do Prof. da Escola de Biblioteconomia da UniRio, Fabrício Silveira. Polêmica entre seus pares, Monfort aceitou o convite para o livro por ser uma “bandeira dos direitos humanos”. Num dos trechos do prefácio, Monfort afirma que esse fascínio que o falo exerce sobre os povos foi apropriado por diversos estudiosos para entender como nos constituímos enquanto seres humanos dentro de uma centralidade de valores e desejos. Monfort possui longa trajetória de amizade com o autor e acredita que seu trabalho poderá ser apreciado por diferentes públicos que se interessam por uma poesia engajada, que não somente a estética que a obra pressupõe.

 

Deus Príapo, rogai por nós!

Censura da obra por ilustração de falo em riste na capa

 

Neca Faloônica, antes mesmo de ser lançada já passou por censura. Para ilustração do livro, foi convidado o jovem carioca Thiago Oliveira (25 anos), estudante de Desenho Industrial, que foi responsável pelos desenhos que o leitor poderá apreciar. Até então, os desenhos foram apreciados pela equipe de editoração e aprovados. Após negociações, uma editora de São Paulo resolveu retirar a sua logo da capa do livro sem justificar as motivações pelas quais levaram-na a essa ação. Ao tomar conhecimento, o autor autorizou que não fosse interrompida a produção do livro na gráfica e após um encontro com a editora Ibis Libris(RJ), fechou-se a negociação com a editora carioca, “graças à Deus Priapo!” que propôs um capa “alternativa” (copos de leite) para aqueles leitores mais pudicos, concluiu Guimarães. Em janeiro de 2013, Neca Faloônica foi lançado no Rio de Janeiro e tem calendário para lançamentos em outras 5 capitais brasileiras. No dia 12 de abril será a vez de Recife (PE) ver as necas do autor (Livraria Saraiva Megastore no Shopping Recife) e no dia 17, as necas aterrizam em Belo Horizonte no Sesc Palladium para alegria dos mineiros. O calendário conta ainda com sessões de autógrafos em São Paulo, Brasília no mês de maio, e em junho, Porto Alegre.

 

 

Fragmentos do livro:

Provisório

Do provisório do que sou, me encaixo

Menina de faz de conta

Suave apronta

Na delícia do devir

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Verbo Dar

Deram-me numa emboscada.

Caroço de manga,

Pulso e braçada,

Tigela de barro.

 

Deram-me o que prescrevia!

Nabo, toco, sopapo na cara

“Toma seu viado!”

 

Corpo ainda transpassado

e o mato servindo a agrura.

Voltaram-se todos

E seus desejos

E sua cobiça!

 

Nudez crua destemperada,

apanhada na noite emprenhada.

 

Deram-me adeus, e ainda,

antes mesmo do último gorfo,

desvencilhado,

esporraram-me,

azedo tempero dos Tebas.

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A Neca Odara

 

Oh, Neca Odara!

Eis-me aqui

Serva de ti!

 

De todas, és a soberana

A que fala sem palavras

 

Não há estupidez,

Astúcia e desdém

Em quem não te enxerga

Insanos!

 

Dona do volume harmonioso

Capitura sede,

Roga quem lhe é servil.

 

Sirva-me!

Sirva-nos! Conclamo a todos

Oh fonte de inesgotável prazer!

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