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USINA DE LITERATURA
3ª Divisão - Seção 2

 

Teoria Literária

Gerardo Mello Mourão

"Um poeta não se rege por teorias literárias. Isto é coisa de literatos e de literatura, não de poetas e da poesia. O que a poesia pede ao poeta é que tenha um conhecimento profundo de cada letra e de cada palavra, e com a letra e a palavra conheça os músculos, os ossos, o pulmão e o sangue de sua língua. Mas é preciso distinguir a língua da linguagem. A língua é o campo de trabalho da comunhão dos homens. O poeta, o escritor, é aquele que inventa, não uma língua, equívoco de Guimarães Rosa, mas uma linguagem. Lembro sempre Borges: "minha língua é a língua de Góngora, Cervantes e Quevedo, mas minha linguagem é a linguagem dos compadritos dos arrabaldes de Buenos Aires." Pois assim minha língua: é a língua de Camões e de Vieira; mas minha linguagem é a linguagem dos plantadores de cana e de mandioca no pé-da-serra da Ibiapaba. O escritor que não tem sua própria linguagem, sua linguagem ctônica - telúrica e pessoal, não é um escritor. Vira um acadêmico. E quando tenta forjar uma língua ou mesmo uma linguagem artificial, também deixa de ser escritor e cai na mediocridade do texto acadêmico. O texto acadêmico é o texto que obedece a uma fôrma preestabelecida. Por exemplo: os concretistas. Criaram um molde, uma fôrma, uma fórmula. Isto é: fazem exatamente o que faz o acadêmico".

Fonte: www.gargantadaserpente.com (8/11/1012)

Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão

João Gilberto Noll

"Teoria mesmo não leio muito. Mas admiro escritores como Octavio Paz, que não suspendem o registro poético quando escrevem sobre literatura. Gosto muito do Paz como pensador, até mais como pensador que como poeta. Admiro um livro como Signos em rotação. Eu me identifico com esse chamamento à ambigüidade, à imprecisão, aos aspectos mais escorregadios da palavra poética. O relâmpago, o inesperado, a coisa esfogueada são muito importantes para mim... Gosto muito, também, de ler os ensaios do José Guilherme Merquior, um sujeito que sabia falar sobre a expressividade poética. Bem, eu li muito também os livros de Luckas. Eu tive uma formação marxista muito forte. Até os 30 e poucos anos, eu me considerava uma marxista, pelo menos no que dizia respeito à visão cultural do mundo. Eu via a arte como um reflexo dos embates sociais. Só bem depois aprendi a entendê-la como uma liturgia, como uma atividade autônoma”.  

Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/1997 – José Castello  

 

José J. Veiga

“Eu acho que a diferença entre língua falada e língua escrita foi invenção de gramáticos”

Fonte: Correspondência, de 24/03/1981

Helder Macedo

"Quem domina uma matéria, é claro. Só quem não domina precisa, no fundo, de esquemas. Essa fase estruturalista foi muito importante, mas estou bem contente que tenha passado. Aconteceu várias vezes que estudantes de Portugal ou do Brasil, que iam a Londres fazer o doutoramento e me procuraram como orientador, apresentavam um esquema, muito elaborado. Eu pedia então: senhores, traduzam-me isto em duas ou três páginas. Muitas vezes não conseguiam. Por terem sido habituados a pensar em termos de esquemas. Mas, se não conseguiam traduzir em linguagem, esse esquema estava sem substância. Não devemos nunca esquecer que, se estamos a estudar literatura, é porque gostamos de literatura. Literatura existe para significar. Ora, um crítico tem de ter a humildade de saber que pode servir de veículo apenas, mas nunca de substituto”.

Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/1987 – Nilo Scalzo e Teresa Monteiro Otondo 

Ledo Ivo

"Vivemos numa época em que com essa história de teoria literária, de análise exaustiva dos textos, etc a literatura para o jovem estudante virou um suplíco... Da página 3 eu não consigo passar de nenhum livro sobre teoria literária. Inclusive eu não sei em que língua eles são escritos".

Fonte: Entrevista com Geneton Moraes Neto na TV Globo News, em 8/5/2010.