Cineminha
Pose do escritor
Está visto que os escritores - com ajuda dos fotógrafos - criaram uma pose para a posteridade. Vê-se, também, que nesta pose procuraram imitar "O Pensador", de Auguste Rodin. Após ter idade e além da voz narrativa, viram que é preciso uma pose adequada. Mas, não basta apoiar a cabeça na mão em punho ou aberta com os dedos apontando a têmpora, há nuances diversas e muitos escritores discordam desse modelo.
Apartir de uma coleção de poses recolhidas por Sergio Barcellos Ximenes, incluimos alguns colegas da UBE-União Brasileira Escritores, com uma breve explicação(?) sobre sua pose preferida. Veja centenas deles e encontre a sua.
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Luís Avelima: Sem essa de apoiar a cabeça com a mão. Quem se garante não precisa disso, basta um sorriso sem estardalhaço para contentar o fã-clube.
Djalma Allegro: Eu também me garanto, mas o apoio é fundamental, e transgredindo com o cigarro. Para completar, um leve sorriso e pinta de galã hollywoodiano dos anos 60
Joyce Carol Oates: É isso aí Djalma, com o cigarro para transgredir, mas não precisa ser tão hollywoodiano. Afinal, somos escritores.
Betty Vidigal: Calma meninos! basta um apoio de leve no queixo, um olhar complacente, e pronto.
Nicodemos Sena: Concordo com os colegas, e o apoio tem que ser no queixo, mas sem essa de sorriso para a platéia. Escritor é um cara sério, olhar fixo, perscrutando o horizonte.
Octavio Paz: Acho que meu amigo Nicodemos tem razão. Faço apenas uma retificação: o apoio tem que ser com a mão esquerda, sempre.
Eça de Queiroz: Eu também acho que é preciso perscrutar, mas não necessariamente o horizonte. Pode ser por aqui mesmo.
Lygia Fagundes Telles: Eu acho melhor perscrutar o leitor, procurar conhecê-lo melhor.
Rubem Braga: Eu também vou nessa, mas com um certo distanciamento.
Menalton Braff: Estou achando muito engraçada essa galeria de pose dos escritores, iniciada com meus colegas da UBE. Assim, minha pose vai na mesma linha: em estado de graça, sem apoio.
Monteiro Lobato: Grande Menalton!: sem pose e com pose ao mesmo tempo.
Joaquim Maria Botelho: Discordo de todos vocês, escritor tem que posar apenas escrevendo, e tenho dito.
Graciliano Ramos: É isso aí, Joaquim: apenas escrevendo, e deixemos de aleivosia.
Ricardo Ramos: Joaquim e meu pai estão certos. Mas, uma olhadinha para o público não custa nada.
Ricardo Ramos Filho: Vou seguir o conselho dos velhos, sem a olhadinha
Glauber Rocha: Eu me junto aos ramos desta àrvore, procurando imitar o velho Graça e aproveito para mostrar que também sou escritor.
Antonio Callado: Gostei da idéia, mas acho melhor incluir o ambiente onde se dá a criação literária.
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Adélia Prado: Sim, mas o ambiente da criação tem que parecer sagrado, organizado, não dispersivo.
Eder Chiodetto
Ferreira Gullar: Discordo da Adéla. O ambiente tem que mostrar a produção do poeta e deixá-lo apenas na penumbra num ar de mistério e reconhecivel apenas pelos seus leirtores.
Eder Chiodetto
Richard Matheson: Gostei da idéia de uma pose hollywoodiana. O Djalma está certo.
Augusto Boal: "Que é isso Richard?! Sem essa de Holywood! Mas o apoio é necessário, porém na têmpora direita. Por baixo dos cabelos."
Jorge Amado: "Serve para os não-cabeludos também, Boal."
Camilo José Cela: "Estão todos errados. É bem sério com as duas mãos no queixo, ó: vai encarar?"
Ignácio de Loyola Brandão: "Relaxa, Camilo. E bota a mão esquerda por cima."
Oswald de Andrade: "É isso aí Loyola: relaxado mas com alguma sagacidade.
Pietro Citati: "Polegar esquerdo. E prefira confiante a decidido."
J.D. Salinger: "Olhaí no tempo em que eu aparecia. Nada mal, saia bem na fita, né não?"
Nadine Gordimer: "Eu também prefiro o apoio no queixo, mas com a mão esquerda. Ou seja esquera na pose e na vida."
John Updike: "E eu estou me divertindo. Mais para baixo, meus colegas. A esquerda, no centro do queixo."
Carlos Monsiváis: "Não, Updike. É a direita no centro do queixo."
Vilma Arêas: "É o punho esquerdo, vindo de baixo."
Angela Becerra: "É a palma direita, vinda de baixo."
Germano Almeida: "Punho esquerdo. A mão boba é opcional."
Mario Benedetti: "Que tal esta? A mão direita na boca. Bem relaxado."
Pier Paolo Pasolini: "Radicalizemos. A mão esquerda na boca, olhando feroz."
Charles Bukowski: "Se é para radicalizar, mete logo os dedos na boca."
Rafael Sáncher Ferlosio: "Que horror! Vou de direita na boca, a mão voltada para fora."
Adélia Prado: "A esquerda de leve no centro do queixo."
Sinclair Lewis: É isso aí Adélia,no queixo e compenentrado
Marcel Proust: "Tudo bem, apoio no queixo. Porém, Mais leve, Corpo solto, languidamente, como quem sonha."
Luis Fernando Verissimo: "Firmeza, Proust, firmeza. Fazendo a base, com comprometimento ideológico."
Orhan Pamuk: "Mão direita. Estilo tentáculos-de-polvo."
James Joyce: "Que visual horrível. Mais para baixo. E tire esse sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor. Aliás, com a dor dos leitores do meu Ulisses."
James Joyce: "Mudei de ideia. É no lado do rosto, mesmo."
Rosa Montero: "Mais para baixo, mas com a esquerda."
Salvador Elizondo: "Direita. Mas cuidado para não se queimar com o cigarro."
J. K. Rowling: "Esquerda. A direita segura o braço."
Enriqueta Antolín: "Mais para baixo, ainda. A palma direita na bochecha, queixo apoiado nela."
Sergio Zavoli: "É isso aí, Enriqueta, a direita."
Donna Sharp Blaney: "Não concordo:É a esquerda."
Nuruddin Farah: "Discordo:É a direita. Vocês me cansam."
Saul Bellow: "Esquerda. Isso é muito engraçado."
L. Ron Hubbard: "Esquerda. E agradeça por eu não cobrar o conselho."
J. K. Rowling: "Direita. Apareci de novo porque sou escritora e rica."
Oriana Fallaci: "A esquerda. Sou pobre, mas sou tão infeliz quanto você."
Yukio Mishima: "A direita. É que a pose é perigosa, Oriana: entristece, faz pensar em suicídio."
Virginia Woolf: "Será que com a esquerda a gente deixa de pensar em suicídio?"
Carmen Alcayde: "Só se você ficar assim, mostrando o talento. Eu sou escritora, viu? Não isso que você está olhando: meu livro Treintañeras."
Ariano Suassuna: "Estou vendo, estou vendo... Essa degradação cultural... Só com a palma esquerda na boca, mesmo."
Jorge Luis Borges: "Eu nem olho, Ariano. Sou cego para essas coisas. Mas concordo contigo: esquerda na boca."
Carmen Posadas: "Liga não, gente. Talento a gente mostra nos livros. Mas corrijam a pose. A palma é a esquerda sim, mas quase no pescoço."
Sérgio Rodrigues: "Tô me divertindo muito. É a direita no pescoço, atrás."
Clarice Lispector: "A esquerda, rapaz endiabrado. Como a da Carmen."
Lionel Shriver: "Ele está certo, Clarice. A direita, atrás."
Truman Capote: "O Sérgio está certo. Mas é com a esquerda."
Alberto Mussa: "O certo é a palma direita embaixo do queixo. Dedos encolhidos"
Gioconda Belli: "A palma esquerda. Dedos encolhidos."
Julia Navarro: "A direita. Dedos encolhidos. E com um livro para enfeitar. Quem conhece os escritores, hoje em dia?"
Lya Luft: "A esquerda. Dedos encolhidos. Olhar perdido no mundo interior."
Susan Sontag: "A direita. Dedos encolhidos. Olhar desafiador."
Ferreira Gullar: "Palma esquerda, claro. Mas com os dedos esticados, tocando a bochecha."
Isabel Lustosa: "A direita, Gullar, a direita. A esquerda equilibra a composição."
Guiomar Cuesta Escobar: "A esquerda, inclinando a cabeça para ficar diferente."
José Saramago: "Direita (Deus me livre). Cara de tédio com essas obrigações."
Rajaa Alsanea: "Esquerda. E tire a religião dessa polêmica."
Toni Morrison: "Chega de rivalidades. As duas mãos espalmadas no rosto e não se fala mais nisso."
Ahmadou Kouruma: "Isso, Toni, as duas. Mas unidas embaixo."
Amy Tan: "Vale desajeitadas, mesmo."
Dorothy Parker: "Vale nada. Simétricas, e cara de tristeza para mostrar que somos escritores sérios."
Madonna: "Melhor dramatizando. Sou autora, viu? De livros infantis."
John Steinbeck: "É nada. Dramatizar é assim. Quem entende de drama é escritor".
Margarida Rebelo Pinto: "A mão direita femininamente nos cabelos."
Ángeles López: "A mão esquerda escondida nos cabelos."
Jeanette Winterson: "A mão esquerda masculamente nos cabelos."
Jonathan Safran Foer: "A direita. E não é na frente, é atrás. Será piolho?"
Christopher Hitchens: "Agora eu fiquei zangado. É com a esquerda!"
Jane Smiley: "Pessoal mal-humorado... A direita"
Joca Reiners Terron: "É na careca! Na careca! A esquerda!"
Salman Rushdie: "É a direita, Joca. Constrangedor, né?"
Friedrich Durrenmatt: "É a esquerda. Quedê meu cabelo? Sumiu."
Antônio Lobo Antunes: "Ainda tem um pouco aqui. É a direita."
Mourid Barghouti: "Tô fora."
Ruy Castro: "Também tô."
Marçal Aquino: "Também tô. Mas voltado para a esquerda."
João Ubaldo Ribeiro: "Também tô. Mas sou direita radical."
Iris Chang: "Então volte-se para lá, João."
Philip Roth: "Até parece que você não é escritora. É assim, rezando para o livro vender muito."
William Boyd: "Ateus rezam meio sem jeito, disfarçando. Mas rezam."
Dostoievski: "Rezem mais compenetrados. Senão Deus não responde. E aí..."
James Joyce: "Xô, religião. Arte pela arte, Dô. Compenetrado e sério, sim, mas de mãos cruzadas sem rezar."
Cristina Cerrada: "Religião e arte são tão démodés. Cruzando os braços sobre as pernas, gente, e se oferecendo no altar do mercado. Perceberam o merchandising dos calçados?"
Arthur Miller: "Nem religião, nem arte, nem mercado. Escritor que é escritor posa assim. Bebendo a danada da cachaça. E tamos conversados."
Truman Capote: "Um brinde a todos. Hic!"
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