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Jornalismo
Luis Turiba

"Antes de falar da minha literatura, queria falar do jornalismo. Sou apaixonado pelo jornalismo, extremamente apaixonado por essa profissão. Não tenho a menor dúvida de que fui feliz por tudo que eu fiz nessa área e tudo que o jornalismo me deu. Meu pai, Alderico Toríbio, foi jornalista e é uma referência pra mim, a mesma que quero ser para os meus filhos. Com ele descobri Drummond: primeiro o cronista do Jornal do Brasil, depois o poeta. Meu pai às vezes me levava na redação, então sempre vivi muito no ambiente jornalístico. Mesmo assim, fui preparado, empurrado para ser engenheiro. Passei em 1967 para o curso de Mecânica, na Escola Técnica Nacional. Foi no primeiro mês da faculdade, em 1968, que tudo passou a acontecer na minha vida. Dia 29 de março de 68, participei da minha primeira passeata, contra a ditadura que tinha matado o Edson Luiz. Eu era menino, magrinho, carequinha, pisciano, mal tinha feito 18 anos. Mesmo assim, entrei na onda de “Todos no enterro do Edson Luiz” e participei. Três meses depois desse episodio, eu estava jogando coquetel molotov na polícia, participando de manifestações, deixando o sonho da família de engenheiro de lado. Em dezembro de 1968, a ditadura baixou o AI-5. Fechou tudo, todo mundo passou a ser inimigo. E eu, que amava os Beatles e os Rolling Stones, já era quase revolucionário. Hoje, 40 anos depois, eu retomo toda essa história e as marcas do ano de 1968 em um poema que faz parte de um livro patrocinado pela Funarte, chamado “meiaoito”. Para um menino que nasceu em Pernambuco, foi criado no Rio e viveu no meio da revolução, aquilo foi uma doideira na cabeça. É um poema longo, de 25 páginas, fragmentado, com tensão o tempo todo, escrito na primeira pessoa, como se representasse toda uma geração e não só aqueles que já falaram sobre o assunto, que eram os lideres da época... O poema não é histórico, é um pouco ficção, uma peça para levantar idéias na cabeça do leitor com fatos históricos e, portanto, jornalísticos. Usei nele técnicas cinematográficas e jornalísticas também. Ele é importante pra mim porque foi em 1968 que comecei a ter contato com a poesia (Vinicius de Morais, Neruda), com os alucinógenos, com a Leila Diniz. No fim de 68, fui expulso da escola Técnica – por causa do AI-5. Um ano depois vivi na clandestinidade no Rio, cassado pela polícia. Me mudei para SP, onde conclui o curso secundário. Em 1972, em SP, fiz vestibular para comunicação. Quis desligar um pouco da cabeça a questão da militância. Consegui um emprego dos jornais, fazendo notas. Nos primeiros dias da faculdade, fui preso e fiquei um ano na prisão. Lá, fiz uma reflexão e decidi que o que eu queria mesmo era o jornalismo. Quando sai, trabalhei no jornal Diário da Manhã, no RJ. Cobri esportes, fui construindo uma carreira e meu registro profissional virou prática. A comunicação sempre me deu desafios e, hoje, no sistema de comunicação do SESC, a mesma coisa acontece. Nisso tudo, a poesia foi me acompanhando. Fiz uma revista, a Bric-a-Brac com outros colegas e meu grande encantamento na publicação foram as entrevistas, que eram muito boas mesmo. Quase todas são referência ainda hoje. A revista era poética, mas tinha um peso jornalístico. Quando eu digo que amo o jornalismo, é porque foi ele que me levou a conversar com Cora Coralina, com Jorge Luiz Borges, a ser assessor do Gilberto Gil, a ganhar prêmios. Estou em Brasília desde 1979. E é com o jornalismo que eu construo meu patrimônio, pago minhas contas, crio meus três filhos, meus netos. O jornalismo foi quem me levou ao Oriente, ao Ocidente, a guerrilha, a presenciar terremotos. Contribui com esportes, política e cultura...A poesia sempre esteve como atividade de criação na minha vida, nunca como profissão. E a literatura é muito ligada ao jornalismo mesmo. Às vezes o poema nasce na redação de jornal. Poemas são acontecimentos jornalísticos também, até porque a poesia é tão livre que cada um cria a sua própria metodologia. A história depois vai nos dizer se agimos corretos ou não. Mas meu novo hobby agora é fazer letra de música, gravar sambar. Apesar que, de uns tempos pra cá, estou pensando em me dedicar mais a poesia, porque ando gostando muito dessa coisa de recital".

Fonte: ANDRADE, Marcela Heitor. Jornalistas podem ser escritores?: 21 entrevistas brasilienses. Monografia apresentada à Faculdade de Comunicação da UnB, como requisito para a graduação em Comunicação Social. Brasilia: UnB, 2008.

 

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