Volta para a capa
Cinebio

Mario Schemberg

                                     Cine

                           https://www.youtube.com/watch?v=8KwqLyV-_fI

                      Biografia

 

Nasceu no Recife, em 02/07/1914. Porém há informação segura que nasceu em 1916. A data foi alterada visando a entrada na escola mais cedo do que o permitido. Físico, crítico de arte, político, pacifista e fotógrafo. Concluído os cursos primário e secundário, entrou na Faculdade de Engenharia do Recife em 1931. No 3º ano foi transferido para a Escola Politécnica, em São Paulo, sob a influência de seu professor Luís Freire, notável instigador de talentos. Em 1935 formou-se em engenharia elétrica e, no ano seguinte, em matemática na recém fundada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras-FFCL.Neste período esteve em contato com os professores Giuseppe Occhialine, Giacomo Albanese, Luigi Fantappié e Gleb Wataghin que o convidou para desempenhar a função de preparador de física geral e experimental da Escola Politécnica. Em 1937 deixou esse cargo para se tornar assistente de física teórica da FFCL.

 

A diversificação de interesses data de sua infância e foi influenciada pelas viagens feitas com seus pais à Europa. Desde cedo mostrou também notável capacidade para a matemática, encantando-se com a geometria, que teve forte influência em seus trabalhos posteriores. O interesse pela política, e particularmente o marxismo, começou também na adolescência.

 

Como pode uma pessoa ter se destacado em áreas tão distintas como a ciência, as artes e a política? Para saber sobre o “físico que estudava as artes com o olhar de cientista e pesquisava a física com a criatividade da arte”, uma historiadora realizou uma pesquisa de fôlego  sobre sua produção na área científica e nas artes. A conclusão a que chegou é que a arte surgiu primeiro em seu horizonte. “Quando o jovem Schenberg abriu seus horizontes para a geometria, era pela razão de o auxiliar na utilização de suas percepções visuais”.(1)

 

Em 1939 partiu para a Europa, onde passou uma breve temporada trabalhando no Instituto de Física da Unversidade de Roma o físico italiano Enrico Fermi; em Zurique, com WOlfgang Pauli e em Paris com Frédéric Joliot-Curie no Collège de France. Em 1940, já de volta ao Brasil, obteve uma bolsa da Fundação Gugenheim para passar uma curta temporada nos EUA, junto ao astrofísico George Gamow. Aí fez uma de suas principais descobertas: o "Processo Urca", um estudo para entender o colapso de estrelas supernovas.

 

Outra de suas descobertas recebeu o nome de “Limite Schenberg-Chandrasekhar”, realizada num trabalho junto com o físico indiano Subrahamanyan Chandrasekhar. Schenberg calculou, em 1942, a massa que pode ter o núcleo de uma estrela em que não mais ocorram reações de fusão nuclear, mas que consiga suportar o peso das camadas mais externas. Para um núcleo de hélio, valores típicos desse limite são de 10% a 15% da massa da estrela. Devido a tais descobertas, Albert Einstein o apontou como um dos dez mais importantes cientistas de sua época. É considerado, ainda hoje, o maior fisico teórico do Brasil.

 

Em 1944 já exercia a crítica de arte de modo regular; mais dois anos é contratado para inaugurar a cadeira de Mecânica Racional e Celeste da FFCL, atual instituto de Física da USP. Isto confirma o modo simultâneo como exercia ambas as atividades. Anos mais tarde, dirigiu por oito anos o Departamento de Física da Universidade de São Paulo-USP (1953-1961). Seu curriculum na área científica é extenso: Trabalhou com mecânica quântica, termodinâmica e astrofísica. Publicou mais de uma centena de trabalhos em física teórica, física experimental, astrofísica, mecânica quântica, mecânica estatística, relatividade geral, teoria quântica do campo, fundamentos de física, além de escrever muitos trabalhos em matemática.  Foi membro do Institute for Advanced Studies de Princeton e do Observatório Astronômico de Yerkes. Em Bruxelas, trabalhou em raios cósmicos e mecânica estatística. Criou o Laboratório de Estado Sólido da USP, instalou o primeiro computador da universidade, criando o curso de computação, e presidiu a Sociedade Brasileira de Física de 1979 a 1981.

 

Em 1969 foi o único latino-americano convidado para um congresso internacional sobre física de altas energias, em Kioto, Japão. Neste mesmo ano foi aposentado compulsoriamente pelo Governo, através do Ato Institucional nº 5. Na área política seu envolvimento não foi menos intenso, sendo eleito duas vezes deputado estadual de São Paulo (1946 e 1962) Partido Comunista Brasileiro-PCB. Em 1947, sob a liderança do economista e empresário Caio Prado Jr., a bancada aprovou o Artigo 123 da Constitução do Estado de São Paulo, instituindo os fundos de amparo à pesquisa no estado para impulsionar o seu desenvolvimento científico e tecnológico. Esse projeto levou mais tarde à concepção da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo-fFAPESP. Era considerado um orador influente, chegando a mudar a orientação da bancada por diversas vezes. Devido a tais atividades, foi cassado e preso mais de uma vez pela ditadura militar.

 

Depois da aposentadoria compulsória foi proibido de frequentar a USP e passou por um período de isolamento e cerceamento de qualquer atividade política-social. Este período é compartilhado com sua amiga e conterrânea Clarice Lispector numa carta: "Desde 1970, minha situação geral se modificou bastante, em consequência do isolamento em que passei a viver, como resultado de minha aposentadoria e da impossibilidade de exercer a crítica de arte militante. Foi um desafio tremendo, mas creio que pude reagir de um modo criativo, não só retomando com maior energia as pesquisas anteriores sobre teoria da Gravitação e o problema das relações entre Física e Geometria, como também fazendo estudos filosóficos mais sistemáticos. Publiquei três  trabalhos longos de Física, e aprofundei bastante o meu pensamento sobre Arte. Agora estou escrevendo um pequeno ensaio sobre a crise atual das artes plásticas, que talvez seja um ponto de partida para um ensaio mais longo".

 

Como crítico de arte mantinha grande interesse por artes plásticas, tendo convivido com artistas brasileiros como Di Cavalcanti, Lasar Segall, José Pancetti, Mario Gruber, Cânidido Portinari, Antonio Bandeira, Carlos Scliar etc. e também estrangeiros, como Bruno Giorgi, Marc Chagall e Pablo Picasso. Escreveu diversos artigos sobre artistas contemporâneos brasileiros como Alfredo VOlpi, Lygia Clark, Hélio Oiticica etc.

 

Era considerado um “mecenas das artes” não no sentido de financiar artistas, pois não era rico; e sim de aconselhá-los e ampará-los num período difícil da política brasileira. Foi casado com Julieta Bárbara Guerrini, ex-mulher de Oswald de Andrade e com a artista plástica Lourdes Cedran. Teve uma única filha, a geneticista Ana Clara Guerrini Schenberg. Em 1979, com seus direitos políticos reabilitados com a abertura que se nciava, voltou para a USP e lecionou alguns cursos. Recebeu o título de Prof. Emérito em 1982 e, em 1984, foi homenageado com um Simpósio Internacional, no Instituto de Física, e a publicação de um número especial da Revista Brasileira de Física pelos 70 anos. Pouco depois, os sintomas de uma doença degenerativa acentuaram-se. Faleceu em 10 de novembro de 1990.

 

 

 

 

- Link1
- Link2
- Link3