Volta para a capa
Poesia

PASSOS DA CRUZ

 

Fernando Pessoa

XI

Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela

E oculta mão colora alguém em mim.

Pus a alma no nexo de perdê-la

E o meu princípio floresceu sem Fim. 

Que importa o tédio que dentro em mim gela,

E o leve Outono, e as galas, e o marfim,

E a congruência da alma que se vela

Como os sonhados pálios de cetim? 

Disperso... E a hora como um leque fecha-se...

Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...

O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se... 

E, abrindo as asas sobre Renovar,

A erma sombra do vôo começado

Pestaneja no campo abandonado...

- Link1
- Link2
- Link3