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Poemagem

Nesta seção vamos homenagear os escritores e artistas na forma de um poema. Solicitamos aos interessados em ocupar o espaço que enviem suas inspirações. Damos sequência com um poema de Isabel Furini dedicado ao escritor mexicano Juan Rulfo.

 

          A NOITE DE PEDRO PÁRAMO

 

                                                                                               Isabel Furini

Silencia o trovão amordaçado pelo árido deserto,
a noite macilenta
aprisionada pelas violentas gárgulas do rancor, arqueja.

Noite que alimenta sombras, matriz de espectros
que deambulam pela árida terra dos mortos.
Noite fantasiada de carranca de proa
naufraga em angustiados alfabetos.

(O abismal relato de Juan Rulfo penetra nos ouvidos
e na alma,
enquanto falanges descarnadas escavam lembranças.)

Nada se mexe no horizonte.
Nada se mexe nessa noite sem estrelas.
Noite de meninos mortos
enterrados em caixões brancos com arabescos.

Noite desabitada – sem esperanças, morta,
quase um contorno de casas em penumbra,
as portas uivam e quebram lúgubres sombras.

Sucumbe, verticalmente, a noite e impulsiona o vento
que arremete contra esse povoado poeirento e olvidado,
trancado entre paredes de espectros e de traumas.

Pedro Páramo espreita nossos passos
com seus olhos cruéis
transforma-nos em moinhos de pedra
e ficamos como estatuas avassaladas, inertes,
no árido deserto de Comala.

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ISABEL FURINI
Escritora, palestrante, poeta e educadora. É autora de O Livro do Escritor, da editora Instituto Memória de Curitiba. Edita a coluna Livros de Negócios, do jornal Indústria & Comércio, de Curitiba, e o blog "Falando de Literatura" no Bondenews. Conquistou o 1° Lugar nos Concursos Estadual de Poesia de São José dos Pinhais/ PR 2002.

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