Volta para a capa
Poesia
Mario Quintana

A RUA DOS CATAVENTOS

VI

Na minha rua há um menininho doente.

Enquanto os outros partem para a escola,

Junto à janela, sonhadoramente,

Ele ouve o sapateiro bater sola.

Ouve também o carpinteiro, em frente,

Que uma canção napolitana engrola.

E pouco a pouco, gradativamente,

O sofrimento que ele tem se evola...

Mas nesta rua há um operário triste:

Não canta nada na manhã sonora

E o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamente

E está compondo este soneto agora,

Pra alminha boa do menino doente...

XVI

Triste encanto das tardes borralheiras

Que enchem de cinza o coração da gente!

A tarde lembra um passarinho doente

A pipilar os pingos das goteiras...

A tarde pobre fica, horas inteiras,

A espiar pelas vidraças, tristemente,

O crepitar das brasas na lareira...

Meu Deus... o frio que a pobrezinha sente!

Por que é que esses Arcanjos neurastênicos

Só usam névoa em seus efeitos cênicos?

Nenhum azul para te distraíres...

Ah, se eu pudesse, tardezinha pobre,

Eu pintava trezentos arco-íris

Nesse tristonho céu que nos encobre!...

- Link1
- Link2
- Link3