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Resgate poético

Nesta seção vamos resgatar a memória de alguns poetas esquecidos da mídia e dos meios literários de um modo geral. Iniciamos com Leandro Gomes de Barros, um grande poeta popular do século retrasado, lembrado por Ariano Suassuna no programa de TV "Dossiê (GNT), em 14/06/2013, entrevistado por Geneton Moraes Neto. Solicitamos aos leitores enviar outros nomes merecedores de um "Resgate Poético".

 

Por que Existem o Mal e o Sofrimento Humano?

 

                                                                       Leandro Gomes de Barros

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando se chega pra cá?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que é que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Vivemos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?


Sobre o autor:
Leandro Gomes de Barros

                                           Descrição: http://4.bp.blogspot.com/_qtrNsoytyj8/TIOeSo84z6I/AAAAAAAAERI/U24AUWyUiKQ/s320/barros.jpg

BIOGRAFIA À MODA DA CASA


Leandro Gomes de Barros, paraibano nascido em 19/11/1865, na Fazenda da Melancia, no Município de Pombal, é considerado o rei dos poetas populares do seu tempo. Foi educado pela família do Padre Vicente Xavier de Farias, (1823-1907), proprietários da fazenda, e dos quais era sobrinho por parte de mãe. Em companhia da família "adotiva" mudou-se para a Vila do Teixeira, que se tornaria o berço da Literatura Popular nordestina, onde permaneceu até os 15 anos de idade tendo conhecido vários cantadores e poetas ilustres.

Do Teixeira vai para Pernambuco e fixa residência primeiramente em Jaboatão, onde morou até 1906, depois em Vitória de Santo Antão e a partir de 1907 no Recife onde viveu de aluguel em vários endereços, imprimindo a maior parte de sua obra poética no próprio prelo ou em diversas tipografias. Vale a pena transcrever o aviso no final de um poema, A Cura da Quebradeira, que demonstra suas constantes mudanças e o grande tino comercial:
"Leandro Gomes de Barros, avisa que está morando em Areias, Recife, e que remetterá pelo correio todos os folhetos de suas produções que lhe sejam pedidos”.

Sua atividade poética o obriga a viajar bastante por aqueles sertões para divulgar e vender seus poemas e tal fato é comentado por seus contemporâneos, João Martins de Ataíde e Francisco das Chagas Baptista:


"Voltando João Athayde
De Vitoria a Jaboatão
Quando chegou em Tapéra

Que saltou na estação
Encontrou Leandro Gomes
Entraram em conversação"

"Estava em Lagoa dos Carros,
O grande Chagas Batista,
Quando trouxeram-lhe à vista
Leandro Gomes de Barros,
que para comprar cigarros
tinha descido do trem (...)"


Foi um dos poucos poetas populares a viver unicamente de suas histórias rimadas, que foram centenas. Leandro versejou sobre todos os temas, sempre com muito senso de humor. Começou a escrever seus folhetos em 1889, conforme ele mesmo conta nesta sextilha de A Mulher Roubada, publicada no Recife em 1907:

Leitores peço-lhes desculpa
se a obra não for de agrado

Sou um poeta sem força
o tempo me tem estragado,
escrevo há 18 anos
Tenho razão de estar cansado.


Caboclo entroncado, de bigode espesso, alegre, bom contador de anedotas: este é o retrato que dele faz Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores. Casou-se com Venustiniana Eulália de Barros antes de 1889 e teve quatro filhos: Rachel Aleixo de Barros Lima, Erodildes (Didi), Julieta e Esaú Eloy, que seguiu a carreira militar tendo participado da Coluna Prestes e da Revolução de 1924. De Leandro só possuímos fotos de meio-busto e uma de corpo inteiro, que colocava em seus folhetos para provar a autoria de seus versos; de sua família, o que ficou para a história foram os folhetos assinados com caligrafia caprichada, sobretudo os de Rachel.

Na crônica intitulada Leandro, O Poeta, publicada no Jornal do Brasil em 9 de setembro de 1976, Carlos Drummond de Andrade o chamou de "Príncipe dos Poetas" e assinala:

"Não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro". E diz mais: "Leandro foi o grande consolador e animador de seus compatrícios, aos quais servia sonho e sátira, passando em revista acontecimentos fabulosos e cenas do dia-a-dia, falando-lhes tanto do boi misterioso, filho da vaca feiticeira, que não era outro senão o demo, como do real e presente Antônio Silvino, êmulo de Lampião".


Mas não foi só Drummond, nosso poeta maior, que reconheceria em Leandro a majestade dos versos. Em vida era tratado por seus colegas como o poeta do povo, o primeiro sem segundo (Athayde) e verdadeiro Catulo da Paixão cearense daqueles ásperos rincões (Gustavo Barroso).

Após o seu falecimento, em 4 de março de 1918, no Recife, o poeta e editor João Martins de Ataíde, em seu folheto A Pranteada Morte de Leandro Gomes de Barros, escreveu:

Poeta como Leandro
Inda o Brasil não criou
Por ser um dos escritores
Que mais livros registrou
Canções não se sabe quantas
Foram seiscentas e tantas
As obras que publicou.

 

Leia mais sobre o poeta no site da Casa de Rui Barbosa, que possui um excelente acervo sobre poetas cordelistas


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