Volta para a capa
Por que escreve?
Roland Barthes

"Só posso responder com grandes razões, quase grandiloquentes. É preciso jogar com as palavras mais simples. A escrita é uma criação; e, nessa medida, é também uma prática de procriação. É muito simplesmente uma maneira de lutar, de dominar o sentimento da morte e da anulação intergral. Não é de modo algum a crença de que se será eterno, como escritor, após a morte. Não é esse o problema. Mas, apesar de tudo, quando se escreve, distribuem-se germes, pode-se supor que se dispende uma espécie de semente e que, por conseguinte, se é reintegrado na circulação geral das sementes."

Fonte: BARTHES, Roland. O grão da voz. Lisboa: Edições 70, 1982. (Extraido de entrevista publicada no Nouvel Observateur, 20/04/1980)

 ***

"Como escrever não é uma atividade normativa nem científica, não posso dizer por que nem para que se escreve. Posso apenas enumerar as razões pelas quais imagino escrever:


1. por necessidade de prazer que, como se sabe, não deixa de ter alguma relação com o encantamento erótico;
2. porque a escrita descentra a fala, o indivíduo, a pessoa, realiza um trabalho cuja origem é indiscernível;
3. para pôr em prática um 'dom', satisfazer uma atividade instintiva, marcar uma diferença;
4. para ser reconhecido, gratificado, amado, contestado, constatado;
5. para cumprir tarefas ideológicas ou contra-ideológicas;
6. para obedecer às injunções de uma tipologia secreta, de uma distribuição guerreira, de uma avaliação permanente;

7. para satisfazer amigos, irritar inimigos;
8. para contribuir para fissurar o sistema simbólico de nossa sociedade;
9. para produzir sentidos novos, ou seja, forças novas, apoderar-me das coisas de um modo novo, abalar e modificar a subjugação dos sentidos;
10. finalmente, como resultado de uma multiplicidade e da contradição deliberadas dessas razões, para burlar a idéia, o ídolo, o fetiche da Determinação Única, da Causa (causalidade e 'boa causa') e credenciar assim o valor superior de uma atividade pluralista, sem causalidade, finalidade nem generalidade, como o é o próprio texto."

Fonte: BARTHES, Roland.  Inéditos – vol. 1 Teoria. São Paulo: Martins Editora Livraria. s.d

Prossiga na entrevista:

Onde escreve?

Cinema

Crítica literária

Biografia