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Psicanálise
Rosa Montero

"Eu dividiria o amor entre o amor-paixão e o amor quotidiano, de fato, que também chamo de amor heróico, porque é muito difícil e dá muito trabalho, não é? Mas o amor-paixão, em que normalmente pensamos quando falamos de amor, é uma invenção, é imaginação, é um verdadeiro... É uma ficção absoluta, uma miragem... Eu, por exemplo, sou. Isso é uma desgraça, porque quem é muito apaixonado tem muita dificuldade para passar dessa situação, que é de vício, de vício pesado, como se você tivesse usado heroína, é muito difícil passar disso ao amor quotidiano, que é ver o outro, que consiste em ver o outro e amá-lo apesar das diferenças. É construir uma coisa lentamente, trabalhando muito, resistindo muito, concedendo muito. Quanto mais apaixonado você for, menos vai fazer isso. É o que acontece com os apaixonados. Aconteceu comigo, estou tentando aprender a viver de outro jeito, mas o que acontece quando alguém se apaixona demais é que se repete sempre o mesmo ciclo. Você se apaixona, é aquele amor para sempre e esse amor eterno dura uns dois anos mais ou menos, não dura mais que isso. Termina esse amor eterno depois de dois anos e você sai disparado, vai repetir o mesmo ciclo com outro, outro amor eterno de dois anos e assim por diante. Na verdade, não sei... Dedicar a vida a essa repetição que termina num teatro, eu acho que... Eu disse isso muitas vezes e me parece muito bem lembrado da sua parte. Escrever romances foi o que encontrei de mais parecido com a paixão amorosa, com a vantagem de você não precisar do outro. Tem sua vantagem.

Fonte: Programa Roda Viva, da TV Cultura, 10/04/2006

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