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Relações Literárias
D.H. LAWRENCE

por Aldous Huxley

“Ocasionalmente, reli alguns de seus livros. Como ele é bom! Principalmente nas histórias curtas. Ainda outro dia, li parte de Women in love, e isso ainda me parece mito bom. O vigor, o incrível vigor das descrições da natureza, em Lawrence, é surpreedennte. Mas, de certo modo, não se sabe o que ele pretende. Em The plumed serpent, por exemplo, glorifica os índios mexicanos, numa página, com a sua sombria vida sangrenta e, logo na página seguinte, maldiz os nativos indolentes, como o faria um coronel inglês na época de Kipling. Esse livro é uma massa de contradições. Eu apreciava muitíssimo Lawrence como homem. Conheci-o muito bem nos últimos quatro anos de sua vida. Conheci-o durante a Primeira Guerra Mundial, e o vi,então, bastante, mas não vim a conhecê-lo bem senão em 1926. Ele perturbou-me um pouco. Como se sabe, era um tanto perturbador. E, para um jovem burguês criado de maneira convencional, um tanto difícil de ser compreendido. Mais tarde, porém, vim a conhecê-lo melhor e apreciá-lo. Minha primeira esposa tornou-se muito amiga dele e o compreendeu, sendo que ambos se davam muito bem. Víamos os Lawrences com freqüência durante aqueles últimos quatro anos; ficaram conosco em Paris, depois fomos juntos para a Suíça, e os visitávamos na Villa Mirenda, perto de Florença. Minha esposa datilografou, para ele, o manuscrito de Lady Chettersley’s lover, embora fosse má datilógrafa e não tivesse paciência com a ortografia inglesa: ela era belga, como o senhor sabe. Depois, ela começou a apreciar as nuanças da linguagem em que estava datilografando. E quando ela começou a empregar, em sua conversação, algumas daquelas palavras fortes, Lawrence ficou profundamente chocado...Uma das razões pelas quais ele mudava tanto de lugar era que suas relações com as pessoas se tornavam tão complicadas, que ele tinha de partir. Era um homem que amava e odiava, ao mesmo tempo, a mesma pessoa. Ademais, como ocorre com um grande número de tuberculosos, estava convencido de que o clima exercia grande efeito sobre ele – não apenas a temperatura, mas a direção do vento e todas as espécies de condições atmosféricas. Ele inventara toda uma mitologia do clima. Nos seus últimos anos, queria voltar ao Novo México. Tinha sido muito feliz no rancho, em Taos. Mas não se achava suficientemente forte para fazer a viagem. De acordo com todas as normas da medicina, ele deveria estar morto; mas continuou a viver, apoiado em alguma espécie de energia que parecia ser independente de seu corpo. E continuou a escrever até o fim. Estávamos lá, em Vance, quando ele morreu... Morreu, com efeito, nos braços de minha primeira esposa”.

Fonte: COWLEY, Malcolm. Escritores em ação: as famosas entrevistas à Paris Review. R.Janeiro: Paz e Terra, 1968, p. 213-235. 

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