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Cinema
Antonio Skármeta

“Cinema e literatura são linguagens diferentes desde o momento em que se escreve a primeira palavra de um romance ou um roteiro. Na narrativa se escreve para procurar o que se quer escrever. É preciso criar um magma emocional, a partir do qual brotará a história, luminosa entre as opacidades e turbulências. No roteiro é preciso saber desde o início que história vai ser contada. O final do filme exige que as partes se ordenem em função dele. Não se pode dar um passo sem saber onde se dará o seguinte... Decidi que não vou mais escrever para cinema. Caso algum diretor se interesse pelos meus contos ou minhas novelas, deve simplesmente conversar com meu agente literário e se adquirir os direitos da obra, ele mesmo deverá propor os roteiristas que farão a adaptação para o cinema. O trabalho de participar de uma produção de cinema como roteirista me parece extremamente desgastante. São muitas pessoas que intervém quando um roteiro está pronto e são muitas opiniões às quais é preciso prestar atenção para que o produtor possa conseguir os recursos necessários para fazer o filme. Eu estava com dois projetos há algum tempo, quando me contrataram para escrever duas versões da mesma história. Essa história já se decompõe em minhas mãos, perde cada vez mais energia e você percebe depois de algum tempo que a segunda versão era infinitamente superior a oitava e continua trabalhando na mesma coisa. Então, quando finalmente começa este trabalho tão exaustivo, esta combinação entre criação e indústria, característica do cinema, você já está sufocado. Eu escrevi roteiros com alegria durante um tempo, mas decidi não fazê-lo mais. Se tiver uma oferta para escrever uma história para cinema, uma adaptação da minha própria obra, prefiro mil vezes que outra pessoa a faça”.

Fonte: www.clubcultura.com (12/05/2004)    

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