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Como escreve?
Manuel Bandeira

"Como escrevo atualmente? Como escrevo versos? Como sempre escrevi a partir de O ritmo absoluto: não procurando fazer versos e deixando que a carga de lirismo vá engrossando, até romper a minha habitual inércia, numa necessidade fatal de desabafo".

Fonte: Província de São Pedro, nº 13, de Porto Alegre, em março-junho de 1948.

 

 

"Acontecem-me os poemas inesperadamente e à vezes mesmo fulminantemente. De tal modo que a minha impressão a posteriori é que não fiz o poema: ele é que se fez em mim. Mesmo o que parece mais composto. Assim, A última canção do beco. Repare que são sete estrofes, cada estrofe de sete versos, cada verso de sete sílabas. Não hove em mim intenção de fazer assim e só dei conta disso dias depois de escrito o poema".

Fonte: SENA, Homero. República das letras. 3ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

"A última canção do beco é o melhor poema para exemplificar como em minha poesia quase tudo resulta de um jogo de intuição. Não faço poesia quando quero e sim quando ela, a poesia, quer. E ela quer às vezes em horas impossíveis: no meio da noite, ou quando estou em cima da hora para ir dar uma aula na Faculdade de Filosofia ou sair para um jantar de cerimônia... A última canção do beco nasceu num momento destes, só que o jantar não era de cerimônia. Na véspera de me mudar da Rua Morais e Vale, às seis e tanto da tarde, tinha eu acabado de arrumar os meus troços e caíra exausto na cama. Exausto da arrumação e um pouco também da emoção de deixar aquele ambiente, onde vivera nove anos. De repente a emoção se ritmou em redondilhas, escrevi a primeira estrofe, mas era hora de vestir-me para sair, vesti-me com os versos subindo na cabeça, desci à rua, no beco das Carmelitas me lembrei de Raul de Leôni, e os versos vindo sempre, e eu com medo de esquecê-los, tomei um bonde, saquei do bolso um pedaço de papel e um lápis, fui tomando as minhas notas numa estenografia improvisada, senão quando lá se quebrou a ponta do lápis, os versos não paravam. Chegando ao meu destino, pedi um lápis e escrevi o que ainda gurdava de cor... De volta a casa, bati os versos na máquina e fiquei espantadíssimo ao verificar que o poema se compusera, à minha revelia, em sete estrofes de sete versos de sete sílabas" (Itinerário de Passárgada, pp. 115/116).

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