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Como escreve?
Marianne Moore

"Uma frase feliz surge na cabeça - às vezes uma palavra ou duas - em geral ao mesmo tempo que algum pensamento ou objeto igualmente atraente: 'Its leaps should be set/ to the frigolet'; 'Katydidwing subdivided by sun/ till the nettings are legion'. Gosto dessas rimas leves. Rimas inconspícuas e também das rimas conspícuas não pomposas: Gilbert and Sullivan

                                        Yet, when the danger's near,

                                        We manage to appear

                                        As insensible to fear

                                        As anybody here.

Tenho paixão por pronúncia e ritmo, tão mal usadas na versificação. Considerando a stanza e a unidade, acabei arriscando hífens no final da linha, mas descobri que os leitores se distraem do caminho pelos hífens, então procuro não os usar. Meu interesse por La Fontaine se originou de um modo inteiramente independente do conteúdo. Então sucumbi a sua cortesia de tipo cirúrgico:

              I fear thar appearances are workshipped thtoughout France

              Whereas pre-eminence perchance

              Merely meets a pushing person.

Gsoto das sílabas não acentuadas e da rima sem sílabas próximas:

                                       By love and his blindness

                                       Possibly a service was done,

                                       Let lovers say. A lonely man has no criterion

... Nunca me ocorreu que o que escrevia era algo para ser definido. O que me governa é o peso da frase, assim como o peso de uma estrutura é governado pela força da gravidade. Gsoto da frase que termina no fim da linha e não gosto da ordem inversa das palavras ; gosto da simetria... Nunca 'planejo' uma stanza. As palavras se agrupam como cromossomas. Elas determinam o procedimento. Posso modificar um arranjo, ou diminuí-lo, e então experimentar stanzas sucessivas, idênticas à primeira. A originalidade espontânea inicial - digamos, o ímpeto - parece difícil de reproduzir conscientemente mais tarde. Como Stravinski diz a respeito do tom, 'Se o mudo por alguma razão, corro o risco de perder a frescura do primeiro contatoe terei dificuldade de recapturar seu encanto'. Não, nunca 'desenho linhas'. Faço uma rima conspícua, que para mim é num olhar, sublinhado com lápis vermelho, azul ou de outra cor - tantas cores quantas rimas tenho para serem diferenciadas. Entretanto, se as frases se valem de uma arquitetura incoerente - graficamente - percebo que as palavras, como melodia, não soam bem. Pode ser que eu comece um poema, ache que ele está complicado, deixe-o um pouco de lado, e não o complete durante um ano, ou anos, pois sou econômica. Guardo tudo que pode servir e anoto num caderninho".

Fonte: Escritoras e a arte da escrita: Entrevistas da Paris Review. Rio de Janeiro: Gryphus, 2001.

         

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