Euclides Dourado

     Não conheço a fundo a literatura e a filosofia de Jean-Paul Sartre para me atrever a fazer esta especulação. Por isso gostaria que alguém com mais bagagem viesse em meu socorro. Enquanto o socorro não vem, vamos alinhar alguns fatos que realçam o aspecto literário de sua obra. Antes de tudo, é preciso dizer que não estou só nessa empreitada. Alguns críticos literários consideram que Sartre foi mais literato do que filósofo. A Academia Sueca certamente levou isto em consideração quando lhe conferiu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1964. Mas ele recusou, não para fazer um protesto político como foi alardeado nos anos 60. Mas para não se desfazer do caráter filosófico que ele se achava imbuído. Se aceitasse o prêmio seria como atestar o caráter literário de sua obra.

     Ele mesmo, numa entrevista a uma revista portuguesa, declarou: “Desejei escrever alguns romances e teatro, muito tempo antes de saber o que era a filosofia. Ainda desejo isso e desejarei toda a vida”. Na infância escrevia histórias que eram cópias de romances de aventura. Era incentivado a seguir a carreira literária pela mãe, pela avó e pelo tio (que o presenteou com uma máquina de escrever) e pela sua professora, a sra. Picard, que via nele a vocação de escritor profissional. Apenas seu avô o desencorajava da escrita e o incentivava a seguir carreira de professor de letras. Sem enxergar nele o talento que os demais viam, mas conformado com o fato de que seu neto "tinha a bossa da literatura".

     Para uma conclusão preliminar, gostaria de fazer uma pergunta: das obras de Sartre, quais permanecem na história da filosofia e quais permanecem na história da literatura? Dito de outro modo: sua contribuição maior é dirigida à Filosofia ou à Literatura. É uma pergunta que gostaria de fazê-la à quem quiser botar lenha nessa fogueira especulatória.

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