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Grandes entrevistas

Inglês de Souza

Entrevista conduzida por João do Rio para compor seu livro O momento literário. Rio de Janeiro: Garnier, 1904. (formulada através de um questionário)

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- Quais os autores que mais contribuíram para sua formação literária?

Erkmann-Chatrian, Balzac, Dickens, Flauber e Daudet.

- Dentre suas obras, quais as preferidas? Ou mais especificamente, quais as cenas ou capítulos, quais os contos ou poesias mais preferidas?

Das poucas obras que publiquei, prefiro O Missionário, ainda que sua feitura não corresponda ao meu modo atual de ver e sentir a natureza. O Missionário é espesso e palavroso; tem, pelo menos cem páginas a mais. Todavia ainda hoje escreveria alguns capítulos como o da viagem do Padre, o dia do Nico Fidencio, o enterro do Totonio Bernardino.

- Lembrando separadamente a prosa e a poesia contemporânea, parece-lhe que atravessamos um período estacionário, há novas escolas (romance social, poesia de ação, etc.) ou há uma luta entre as antigas e modernas? Neste último caso, quais são elas? Quais escritores contemporâneos as representam? No seu julgamento qual deve predominar?

A este quesito só podem responder bem os que se entregam a crítica literária, coisa que Deus me defenda. Como amador de literatura penso que é o lirismo a forma que há de predominar na poesia, e ao romance já agora é impossível tirar a preocupação social que está em todos os espíritos. Para falar com franqueza, considero secundária esta questão de escolas de arte. Não chego mesmo a estabelecer outra distinção entre os trabalhos literários se não a de ter ou não ter talento o sujeito que se mete a escrever para o público.

- O desenvolvimento dos centros literários nos estados tenderá a criar literaturas à parte?

É possível, com o tempo, quando a federação tiver criado verdadeiros Estados e os Estados se tiverem tornado nações. Por enquanto não conheço nada mais parecido com o brasileiro do norte do que o brasileiro do sul. Não partilho da opinião do Sr. Assis Brasil sobre as diferenciações étnicas produzidas pela farinha de mandioca e pelo churrasco.

- O jornalismo, no Brasil, é um fator bom ou mal para a arte literária no Brasil.

Fazer literatura e fazer jornalismo são coisas diversas, como fazer arquitetura e fazer engenharia. Está demonstrado que se pode ser ótimo jornalista sem saber ler nem escrever. Em compensação, há redatores de periódicos que se contam entre os melhores literatos. Também há diretores e amanuenses de secretaria, escrivães e outros rabiscadores de papel, que são excelentes poetas e grandes romancistas. O que não quer dizer que a burocracia seja bom fator para a arte literária...
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