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Grandes entrevistas

                                      Luiz Berto

Há exatamente nove anos, em 2009, eu dei uma entrevista para a página Interpoética, que era dirigida por minha querida amiga Cida Pedrosa, grande intelectual, poeta e ativista  política pernambucana, atualmente Secretária da Mulher da Prefeitura do Recife, na administração Geraldo Júlio. Desmantelado do jeito que sou, não salvei em meus arquivos a íntegra desta entrevista. A página Interpoética foi desativa, saiu de ar e eu fiquei na mão…Aline, meu braço direito na edição desta gazeta escrota e futucadora incansável da internet, descobriu a entrevista reproduzida numa página potiguar intitulada Mediocridade Plural.

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Dá pra se fazer uma grande biografia de alguém que já foi vendedor de fósforos, sargento do Exército, professor de matemática, funcionário público e ainda, segundo o próprio, fotógrafo, gigolô e mágico. Mas se em todas essas referências a gente acrescenta a atividade de escritor, o caldo engrossa, e se a gente anuncia que esse escritor é o autor do Besta Fubana, o caldo vira um maná dos deuses para os leitores do Interpoética.

Temos a honra e o enorme prazer de apresentar uma entrevista histórica com Luiz Berto, este pernambucano de Palmares, merecedor da admiração da crítica literária nacional e dos leitores desses muitos Brasis.
O bate-papo transcorreu num pingue-pongue via email, com a participação, além dos editores do Interpoética (Cida Pedrosa e Sennor Ramos) de Alberto Oliveira, Allan Salles, Cyl Gallindo, Jorge Filó, José Honório, Meca Moreno e Raimundo de Moraes. Com este elenco de entrevistadores, só poderia ter pergunta boa.
Agora confiram as respostas.
CIDA PEDROSA: A Besta Fubana é um marco do realismo mágico na literatura nordestina e do Brasil. Ariano marcou sua vida e a literatura com a Pedra do Reino, Gabriel Garcia Marques com Cem Anos de Solidão. Os dois já falaram muito sobre o peso dessas obras na sua carreira. Para você, como é superar a si mesmo depois de escrever um romance que lhe referencia o tempo todo?
Luiz Berto: Minina, tu me botou num balaio muito grande pra minha pequenez. Além de elevar meu romance às culminâncias de “marco”. É uma merecendência da bixiga lixa. Mestre Ariano e Gabriel García Marquez são duas figuras que muito venero e admiro. De modo que fico todo ancho com a comparação. A palavra certa é essa mesma que você usou: peso. Só que eu não me aperreio e não considero este peso como sendo alguma coisa que vai ofuscar o restante do que já escrevi ou que venha a escrever daqui pra frente. Aproveito o peso do sucesso d’O Romance da Besta Fubana pra fazer reclame dos demais trabalhos que já dei a público. Ser referenciado, eu ou minha obra, por apenas um dos meus títulos, não é razão pra ficar arretado ou menosprezar as outras crias. Você fala em “superar a si mesmo”. Na verdade, o que eu preciso superar pra valer é a falta de vergonha na cara pra me organizar e ajeitar meu tempo disponível pra escrever tudo que tenho na cabeça e ainda não botei no papel.
JOSÉ HONÓRIO: Na sua opinião, qual dos personagens de sua obra poderia ser considerado o seu alterego, o que carrega mais o "jeito Luiz Berto de ser"?
A resposta mais fácil seria dizer que me pareço com todos. Porque criei todos eles. A mais difícil é responder objetivamente e caçar um que tenha o meu jeito. Se depender de uma análise criteriosa, eu acho que não conseguiria chegar a uma conclusão. Se depender de vontade, eu gostaria muito de ser o General Presidente Natanael ou o cego Chico Folote, ambos personagens d’O Romance da Besta Fubana: poderosos, destemidos, mandões, tesudos, obedecidos pelos homens e amados pelas mulheres, o que é o ideal de qualquer macho. Ou, então, eu gostaria de ser Diogo de Paiva, personagem central de Memorial do Mundo Novo, que vive por séculos e séculos e consegue engalobar todo mundo. Do romance A Guerrilha de Palmares eu gostaria de ser o cego Anísio, devido à grande admiração que tenho pela arte da penitência cantada, acompanhada por uma sanfona ou por um ganzá. Mas, talvez eu fosse mais venturoso se viesse a ser o personagem narrador de A Serenata, que morre e parte pro infinito, cantando e encantando, sem ter consciência de que já não mais pertence ao mundo dos vivos.
ALLAN SALES: Luiz Berto, que leitura você faz do panorama da cultura no Recife contemporânea, que caminhos você descortina na afirmação de nossa identidade, preservando a tradição sem perder a perspectiva de um diálogo com a contemporaneidade e o cosmopolitismo, que sempre deram à cidade o status de um centro pensante e formador de opinião?
Pra responder sobre “cultura contemporânea do Recife” eu precisaria estar a par do que acontece nesta área. Além de morar relativamente há pouco tempo na cidade, não acompanho ou não participo dos eventos do setor, recluso que vivo no meu canto, criando menino novo, falando mal do governo, tomando cachaça, editando o Jornal da Besta Fubana e trabalhando nos meus projetos ficcionais. Pelo que leio no noticiário, desconfio que seja uma área em ebulição e com inúmeras atividades. Eu só posso dizer é que brinco o Carnaval e o São João. E num deixo nunca de torcer pelo Encarnado nos pastoris infantis do ciclo natalino. Mas, estas três coisas, Carnaval, São João e Pastoril, desconfio, nada têm a ver com o que você chama de cultura contemporânea. Quanto à “contemporaneidade e o cosmopolitismo” será que têm a ver com o fato de um colunista do Jornal do Commercio ter escrito, em uma matéria sobre o carnaval do Recife, que “Fat Boy Slim também é carnaval”?
CYL GALLINDO: Sem desconhecer a importância do Romance da Besta Fubana, que o coloca, sem favor algum, entre os melhores escritores brasileiros, prefiro indagar o que você tem a dizer sobre o livro Nunca Houve Guerrilha em Palmares, no qual é posta em questão a propalada Reforma Agrária Brasileira. Por que um livro tão forte, tão denso e tão documento quanto belo não é estudado nas universidades brasileiras? A reforma agrária não é mais necessária? Os efeitos danosos do golpe de 1964 já foram curados? Tudo isso está lá retratado com todas as tintas.
Cyl é um malassombrado da gôta serena que goza da minha estima e que só poderia mesmo vir com essa história de estar “entre os melhores escritores brasileiros” e botando meu romance lá nas alturas. Ele segue à risca a máxima que orienta nossa confraria: “Amigo meu não tem defeito; e inimigo, se não tiver defeito, eu boto na hora”. Além disso, Cyl é logradouro na coleção existente na parede do meu escritório, onde está afixada uma placa na qual se lê: “Avenida Cyl Gallindo”.
Eu desconfio que o livro seja “forte, denso e documentado”, como você generosamente o classifica, por se tratar, mais que uma obra de ficção, de um relato apaixonado, um depoimento pessoal meu, tendencioso, expressando meu ponto de vista e não passando, na verdade, de um memorial do que vivi na minha adolescência, estudante fedelho, militante do Partido Comunista Brasileiro na Zona da Mata pernambucana. E tudo isto num tempo em que o mundo vivia a tensão da Guerra Fria e onde só dois lugares existiam pra gente se abrigar: esquerda ou direita. Se o livro não é estudado nas universidades brasileiras, a culpa não é do autor. Ou, por outra, pode ser do autor, por conta de insignificância da obra, já que o tema nele tratado, ou melhor, os temas nele tratados, entre os quais a reforma agrária e os efeitos danosos do golpe de 64, continuam atualíssimos e cada vez mais ocupando estudiosos ou simples comentaristas.

JORGE FILÓ: Seu Romance da Besta Fubana, já citado em outras perguntas como sua grande referencia literária, escrito ainda num tempo em que não se tinha a grande rede de comunicação, é hoje um dos blogs mais lidos na internet. Como se deu esse caminho do autor do livro para o editor do blog e da obra literária para veículo de comunicação interativo na net?
Veja bem: O Romance da Besta Fubana é uma coisa. Outra coisa, bem diferente, é o Jornal da Besta Fubana.  Neste último caso, eu apenas tomei emprestado o nome do meu romance pra batizar o blog que criei na internet (detesto esta palavrinha blog, mas usa-a, por enquanto, à falta de outra melhor). Assim como fundei a Troça da Besta Fubana pra vadiarmos no carnaval do Recife. Pode ser que, no futuro, seja criada a Quadrilha da Besta Fubana, pra brincarmos o São João no Sítio da Trindade. Ou, ainda, o Pastoril da Besta Fubana, pra gente fazer a arenga entre o Azul e o Encarnado nas noites estreladas de dezembro.
Na verdade, olhando direitinho, eu estou apenas botando mais matéria pra aumentar aquele “peso” de que Cida Pedrosa falou lá na primeira pergunta. Enfim, a Besta virou marca ou, como dizem os moderninhos, virou griffe. Eu só sei é que a Besta Fubana apadrinhou o blog que leva o seu nome e a iniciativa cresceu de um modo tão assustador que vem batendo recordes de audiência a cada mês. Já está começando a me preocupar. Não por conta do sucesso, mas por conta do tempo que me toma durante o meu dia pra me ocupar com a sua editoração. Quase não tenho mais espaço na minha agenda pra cuidar dos livros que ainda preciso escrever.

RAIMUNDO DE MORAES: A República Rebelada de Palmares tem todos os argumentos para se transformar num bom filme: ação, personagens fortes, história insólita. Você já pensou sobre o assunto? Algum diretor (ou roteirista) já te propôs transpor o Besta Fubana para o cinema?
Primeiro foi o meu amigo e irmão Vladimir Carvalho, cineasta paraibano, renomado documentarista, premiado e reconhecido no mundo todo. Ele mandou pra sua ex-aluna de cinema na UnB, Tizuka Yamazaki, uma cartinha - da qual ele me deu uma cópia -, enviando um exemplar do livro pra ela e fazendo uma apreciação muito carinhosa. A carta é esta que vou transcrever agora:
Brasília, 9 de junho de 1988
Querida amiga Tizuka,
Quem é vivo sempre aparece.
Há muito não nos vemos, mas sigo-lhe os movimentos e atuações com grande interesse do seu torcedor fanático, como sabe.
Agora lhe escrevo para dar uma penada por um grande amigo e quase conterrâneo meu, Luiz Berto. Trata-se do autor de um romance interessantíssimo chamado justamente "Romance da Besta Fubana". Escrito nordestinamente num estilo arisco e debochado, é, para mim, uma obra prima do picaresco, a além de tudo – e principalmente, muitíssimo cinematográfico. À época do seu lançamento obteve excepcional acolhida da crítica, conquistando prêmio importante.
Quando li a primeira vez pensei imediatamente que poderia resultar em excelente rapsódia cinematográfica, mas também pensei num especial de TV, como fizeram com algumas coisas de Ariano Suassuna. Porém, você sabe, a ficção não é a minha praia. Por isso, tenho enorme satisfação de ajudar a encaminhar o livro do Berto à sua apreciação. Não se arrependerá de sua leitura.
Como no samba, "faça por ele como se fosse por mim".
Com um abraço do seu admirador de sempre
Vladimir Carvalho
Tempos depois, ele, Vladimir, me ligou dizendo que Tizuka tinha lido o texto, estava empolgada com o livro e tinha planos de botar em prática um projeto a partir do seu enredo. Nunca mais perguntei pra ele em que pé estavam as coisas. Tenho um pudor intransponível pra vender o meu peixe e pra tratar dos meus interesses no que diz respeito à minha obra. Vinte e um anos se passaram e eu não tenho a menor idéia de como está atualmente o interesse de Tizuka pelo projeto de botar na telinha ou na telona o meu romance. O tal pudor de que falei há pouco não me permite especular sobre o fato.
Passados alguns anos desde a carta pra Tizuka, Vladimir me liga novamente e me pede que eu mesmo envie um exemplar do livro pra uma pessoa que ele conhecia e cujo endereço ele me forneceu. Lembro-me que era um endereço do Rio de Janeiro, no bairro da Tijuca, embora o cidadão fosse pernambucano. Não me recordo do nome, mas sei que era o diretor de um filme chamado “O Baile Perfumado”, que fez muito sucesso à época do seu lançamento. Mandei o livro via Sedex, morrendo de vergonha, apenas pra atender ao pedido-ordem de Vladimir. Não só nunca tive resposta como não sei nem mesmo se o livro chegou ao destinatário.
Depois, quando eu já morava no Recife, me disseram que tinha um cidadão aqui na cidade, também diretor de cinema, que andava com um exemplar da Besta enfiado debaixo do sovaco pra tudo quanto é canto onde fosse, dizendo que o livro daria um enredo arretado e que iria transformá-lo em filme. Foi assim que me disseram, não posso garantir se é verdade ou mentira. Também não conheço este cidadão, nem me lembro do seu nome, mas me lembro do nome do seu filme que fez muito sucesso, uma fita chamada “Manga Amarela” (será que esse mesmo o nome?...)
Por fim, no começo deste ano corrente de 2009, recebi telefonema do meu amigo Edgar, da alta administrância estadual, me garantindo ser verdade a seguinte história: um membro da família Barreto, o clã dos geniais cineastas nacionais, não sei se Bruno ou seu pai, afirmara para alguém que havia comprado os direitos de filmagem d’O Romance da Besta Fubana. O Cardeal Zelito estava ao lado dele, Edgar, por ocasião deste telefonema. Uma coisa é certa: de mim é que não compraram nada. Nem de Arnaldo, meu editor e diretor da Bagaço (a não ser que Arnaldo tenha negociado secretamente para não pagar minha parte...).
Edgar ficou de me encontrar pessoalmente pra dar detalhes da história e me convencer de que o que ele sabia passava tudo na verdade. Mas o cabra safado não só nunca mais voltou a me ligar como, pior ainda, não compareceu ao encontro que marcamos na minha casa pra tomar cana e pra ele me detalhar o assunto. (...mas Zelito compareceu...). O constrangimento de tratar dos meus interesses literários me impede de ligar pra Edgar e fazer cobranças.
Eu só sei é que fico besta com tanto boato.
ALBERTO OLIVEIRA: Gabriel Garcia Marques é um dos seguidores do realismo mágico na literatura, como sabemos. Já você aborda em toda a extensão de sua obra literária o pé no chão e o cotidiano das pessoas simples. E nem por isso seu trabalho intelectual é menos denso e gratificante. Seria uma constatação de que a literatura, como a poesia, está bem pertinho de nós e que só é preciso a mente aberta e ouvidos atentos, além é claro, de saber tecer a rede para se chegar aos excelentes resultados de sua obra literária?
Meu cardeal: eu lamento não ser apetrechado dos arsenais teóricos pra dar uma bela resposta a esta sua pergunta. Embora possuído por uma grande vontade de entender, sou profundamente ignorante em, passe a expressão, teoria literária e o estudo da literatura de um modo geral. Se já li três ou quatro ensaios literários em toda minha vida, foi muito.
Adoro ver os acadêmicos nos programas de televisão discorrendo sobre livros, teorizando, soltando ipicilones e falando dificultosamente; eu acho lindo mas, ao cabo, num entendo porra alguma. Escreveram uma Tese de Mestrado sobre um romance meu e eu já li-a bem uma dúzia de vezes e, acredite, ainda tem umas partes que não consegui botar no meu juízo. De modo que, esta resposta que você me pede, foge à minha competência e eu deixo a questão pra quem entende do assunto.
Até mesmo porque, quando você usa a expressão “a literatura, como a poesia”, me deixa a impressão, se entendi direito, que literatura e poesia são coisas distintas, ou que a poesia não é literatura, ou, mais ainda, que literatura é apenas prosa, o meu campo de atuação. Se você tivesse falado que “a prosa, como a poesia, está bem pertinho de nós”, eu não ficaria tão confuso como estou agora.
Mas, aproveitando que você falou num dos meus ídolos, Gabriel García Marquez, me veio à lembrança o que um crítico do Rio de Janeiro, por nome de Eduardo Francisco Alves, escreveu na extinta revista Manchete, ao fazer uma apreciação sobre O Romance da Besta Fubana. Vou copiar o que ele escreveu, do jeito que está salvo aqui nos arquivos do meu computador, e colar na resposta dessa sua pergunta.
“Quando se fala no boom do “realismo fantástico latino-americano”, comete-se um sutil erro de colocação. Seria mais preciso dizer “hispano-americano”, pois a literatura brasileira definitivamente não se enquadra nesse específico criativo veio que o mundo descobriu com os Cem Anos de Solidão, de García Márquez. Como é indiscutível que a arte se movimenta num espaço delimitado pelas condicionantes sócio-político-culturais (ufa), o que é bom para a literatura latina em língua espanhola não funciona em português do Brasil. Nossa realidade própria exige um tipo de fabulação mais linear, tamanha é a vastidão do que há por ser compreendido, e o fantástico é, mais, uma (arrepiante) sensação vagando pelo ar, do que um fenômeno mágicamente incorporado à realidade. É nesse sentido que este maravilhoso Romance da Besta Fubana, de Luiz Berto, deve ser lido. Como um dos mais criativos e verídicos (se é que me entendem)romances brasileiros dos últimos anos”
MECA MORENO: Durante o golpe militar de 1964, você era um daqueles tantos estudantes, ainda adolescentes, envolvidos de corpo e alma com as causas sociais e políticas do país, mesmo vivendo em Palmares, uma pequena e ainda decente cidade do interior pernambucano. Logo depois você teve que sair “as pressas” e sumir do mapa por algum tempo, fugindo da Polícia do Exército e sendo obrigado a, mais tarde, integrar-se as forças armadas, ressurgindo no estado de Goiás e depois no Distrito Federal, onde você ficou por mais de 30 anos na Câmara Federal, convivendo diretamente com políticos e todo tipo de política. Lá, também atuou como professor de matemática. A partir de Brasília, na primeira metade dos anos 80, o mundo toma conhecimento do espetacular “A prisão de São Benedito e outras histórias”, que teve 4 edições. Depois veio o seu livro de maior sucesso “O Romance da Besta Fubana”, com vários prêmios, está na 3ª edição, seguido de “A Serenata”, minha novela preferida. Depois “Nunca Houve Guerrilha em Palmares” e a sua primeira experiência como dramaturgo, com “Peibufo, etc. e Coisa e Tal”, num espetáculo teatral de grande sucesso, dirigido por Ângelo Meyer. Em seguida fui surpreendido com a pujança dos personagens e a fidelidade histórica do romance “Memorial do Mundo Novo” e uma nova edição de “A Guerrilha de Palmares”. Conte um pouco dessa trajetória, para que os leitores conheçam um pouco mais sobre o homem e o escritor Luiz Berto.
Eu tinha 17 anos, fazia o Curso Ginasial, participava ativamente do grêmio escolar e fui “recrutado” por Severino Aguiar, secretário da prefeitura municipal de Palmares, antigo e calejado militante do Partido Comunista Brasileiro. Morreu com quase cem anos de idade, há poucos anos, e era pai do meu amigo Ivan Aguiar, o primeiro mártir do golpe, metralhado no dia 1º de abril de 1964 numa manifestação no centro do Recife. Pai também de Danúbio Aguiar, nosso querido Tubinho, que recentemente foi meu vizinho na Casa Forte. Pai de Nadir Aguiar, que reencontrei há uns cinco ou seis anos, através da internet, e nos encontramos pessoalmente pra matar as saudades no centro de compras Tacaruna.
Até que um dia, com o senso de humor característico de todo militante esquerdista, ela se arretou com a denominação de “bovina” que dei a Rita Lee num texto que escrevi na rede, e me mandou uma mensagem recriminando a minha incorreção política e a minha falta de respeito para com a luta feminista. Coisas que, segundo escreveu, havia aprendido com seu amado pai. Ela, da minha geração e um pouco mais velha que eu, já havia passado dos 60 mas, contrariando a recomendação do Presidente Lula, continuava esquerdista e, certamente, comunista aguerrida. Não cheguei a responder pra lhe dizer que eu amava seu pai tanto quanto ela. O tempo me ensinou que nós, os politicamente incorretos, malhamos em ferro frio quando arengamos com a tribo dos politicamente corretos.
Tive vontade de contar pra Nadir que, no início de 1963, eu fui à Prefeitura de Palmares pedir para imprimir, num mimeógrafo a álcool, uma propaganda da minha chapa que concorria ao Grêmio Joaquim Nabuco, do Ginásio Municipal, sendo eu candidato a presidente. Severino Aguiar, pai dela, ou “Seu Severino”, como era mais conhecido, responsável pelo mimeógrafo da prefeitura, escutou meu envergonhado pedido e, ao saber que minha candidatura era de oposição e que desafiava a candidatura “chapa branca” da situação, sob o comando do Professor Amaro Matias, uma figura que a esquerda palmarense tinha na conta de “direitista”, me tratou na maior deferência, imprimiu uma quantidade maior de cópias do que a que eu pretendia e gastou um bom tempo fazendo uma preleção sobre “a péssima influência de um professor retrógrado e reacionário sobre a juventude idealista”. E, assim, eu tive meu primeiro contato com o que se chamava então de “técnicas de aliciamento” dos comunistas...
Naquela mesma semana, eu estava na sala da casa de Seu Severino, na Rua Viúva Luzia Pedrosa, numa boca de noite, junto com meu amigo Pedro Leão (que no futuro viria a ser dono de um banco aqui no Recife), escutando sua filha Nadir tocar violão e cantar a versão em português de “Somewhere Over the Rainbow”, a música tema do filme “O Mágico de Oz”. Ao final, Seu Severino nos entregou, a mim e a Pedro Leão, um folheto de capa amarela intitulado “O que é o comunismo”, em forma de perguntas e respostas e, a partir daquele momento, me tornei um jovem comunista orgulhoso, participativo, militante, entusiasmado e.... quem quiser saber mais leia “A Guerrilha de Palmares”, pois tá tudo lá relatado com abundância de detalhes e pormenores.
Menos de um ano depois, o sonho de implantarmos uma outra Sierra Maestra nas matas do Engenho Japaranduba ruiu fragorosamente, o golpe militar caiu como um raio sobre as nossas cabeças e eu fui gentilmente convidado a me retirar de Pernambuco pelo glorioso exército nacional. Dei uma carreira tão grande que fui parar no distante Goiás. Lá eu atingi a maioridade e precisei tirar um documento chamado Certificado de Alistamento Militar e, por conta disso, fui recrutado para o serviço militar obrigatório. No ano em que incorporei, 1965, o exército fez um concurso interno pra formar graduados burocratas e, ao invés de ser licenciado ao completar um ano de serviço, fui mandado pra Brasília fazer um curso de sargento.
De modo que, pouco tempo depois de sair fugido como “perigoso subversivo comunista”, eu ostentava as divisas de terceiro sargento do mesmo exército que me botara pra correr no meio do mundo. Uma coisa que seria impossível nos dias atuais, com as comunicações instantâneas e a capilaridade dos serviços de informações. Naquele tempo, uma carta que eu mandava pra meus pais em Palmares levava 15 dias pra chegar, e um telefonema interurbano era solicitado à telefonista às 7 da manhã para ser completado, com sorte, lá pelo meio-dia. Não existia DDD.
Em Brasília eu estudei, casei, tive filhos e netos, graduei-me em Matemática e passei uma década lecionando esta disciplina, fiz um largo círculo de amigos, fiz concurso para a Câmara dos Deputados (quando ainda havia isto..), no parlamento passei mais de 30 anos e por lá me aposentei. Entre a fugida em 1964 e a minha mudança pro Recife em 2000, tem um mundo, uma vida. Disso vocês irão saber com detalhes no meu livro de memórias.
SENNOR RAMOS: Sua Santidade, quando, como e onde surgiu o pontificado do Papa Berto I e a Igreja Católica Apostólica Sertaneja?
Eu fui eleito Papa da Igreja Sertaneja num concílio memorável que teve lugar no Bar Largura, aos fundos da matriz da Casa Forte, aqui no Recife. Foi uma festa grandiosa, com direito a espetáculo de Irah Caldeira e Jessier Quirino e a presença de muitos dos hoje cardeais (Meca Moreno chegou a fazer um discurso). Rolou cana até umas horas e, a partir daquele dia memorável, eu adotei o nome pontifício de Berto I.
Mas, antes de chegar ao pontificado, eu vou contar como surgiu a Igreja Sertaneja. Para tanto, vou apenas transcrever um texto que distribui para os meus amigos pela internet, em novembro de 2005, um modo de me comunicar do qual eu lançava mão rotineiramente antes de criar o Jornal da Besta Fubana.
O texto é este:
Caros e Caras:
Eu estava aqui vendo as pompas e os rituais coloridos da eleição do meu ídolo Ratzinger, enquanto meditava sobre uma mensagem que recebi de Paulo Carvalho, convocando um encontro do "Movimento Bebendo Pela Paz", e me lembrei da minha própria ascensão à condição cardinalícia há muitos anos passados....
Explico-me.
Corria a década de 70 e nós, nordestinos que morávamos em Brasília, constituíamos um grupo solidário e coeso, unidos no amor e na saudade comum da nossa terra.
Num belo domingo de sol, comendo uma buchada no Mercado do Núcelo Bandeirante, me veio a idéia de fundar a Igreja Católica Apostólica Sertaneja que, de imediato, ali mesmo na mesa do bar, se tornou um organismo vivo e do qual assumi a direção e me auto-ordenei sacerdote, para sacro júbilo dos amigos cachacistas que me cercavam.
Num se passou nem um mês e baixei um decreto canônimo me elevando à condição episcopal, assumindo o título de Dom Berto, Bispo Diocesano de Brasília.
No mesmo decreto, estabeleci que as paróquias da igreja seriam constituídas por todos os bares existentes: os de Brasília, os do Brasil e os do restante do mundo. Incorporei-os todos ao patrimônio da instituição, de tal sorte que a minha igreja já começava com um número de paróquias infinitamente superior ao da igreja romana.
À guisa de mitra comecei a usar um chapéu de couro, comprei um anelão com uma pedra colorida numa feira hipie e, como se batina fosse, passei a usar uma capa preta nas celebrações litúrgicas. Ordenações, batizados e casamentos foram feitos aos montes e se constituiam em festas monumentais e ruidosas. Tudo regulado por um "Manual de Ritos" que, anos depois, reaproveitei no meu "O Romance da Besta Fubana".
A igreja passou a editar um jornal chamado "O Gole", cuja página de abertura era um editorial intitulado "A Palavra do Pastor", assinado por mim mesmo, fundador, diretor, orientador, ditador, chefe e único bispo da Igreja Católica Apostólica Sertaneja! O jornal trazia o roteiro dos bares, nomes dos garçons, tira-gosto de cada estabelecimento, o que prestava e o que não prestava nos meios cachacísticos, de tal sorte que a tiragem foi aumentando e a publicação foi ganhando prestigio e graças a ela eu bebia de graça e era recebido com reverência em todos os botecos da capital federal.
Irmã Maria José, uma freira da igreja romana que era minha colega de faculdade, me ameaçou denunciar ao então Arcebispo de Brasília, Dom José Newton de Almeida Batista, pois, afirmou, eu estaria cometendo um sacrilégio. Eu disse a ela que ficaria torcendo pra que ela denunciasse mesmo e que o bispo tomasse alguma providência contra mim, pois assim a minha igreja alcançaria uma notoriedade que ainda nem merecia. A irmã, num gesto de inteligência - que não é comum numa freira -, desistiu da queixa, me pediu desculpas e aceitou receber um número de "O Gole".
Por fim, convoquei um concílio, ao qual dei o nome de Concílio Vai ter Cana e, por unânime votação dos meus padres, fui eleito Cardeal, num conclave que durou exatamente dois dias, um sábado e um domingo, no quintal da casa da minha irmã, com tudo patrocinado pelo meu cunhado, que alimentava o secreto desejo de ser bispo e me puxava muito o saco.
Elevado às culminâncias do cardinalato, comecei imediatamente a sagrar os meus bispos, de tal sorte que a Igreja passou a contar com bispos em Brasília, Goiás, Porto Alegre, Teresina, Uberlândia, Bruxelas, Paris e Toronto. Com o tempo, vieram muitas e muitas outras mais dioceses, inclusive Recife e Palmares.
Governei a igreja como de praxe: despoticamente e sem qualquer democracia, mas com muita magnanimidade e benemerência, fazendo ascender aos principais postos da hierarquia eclesiástica os cachacistas que mais me chaleiravam.
Com minha mudança pro Recife, as atividades da igreja, organizadamente, arrafeceram um pouco, embora permeneça intensa a celebração litúrgica da roda do bar e do balcão do mercado.
Em breve, logo, logo, divulgarei documento eclesiástico convocando os cachacistas, do Recife e do mundo, Urbi et Orbi, para um grande concílio no Mercado da Madalena, a fim de nos reorganizarmos e enviarmos um documento saudando a escolha do irmão Ratzinger, meu colega romano.
E, quem sabe, no mesmo concílio eu venha a ser eleito Papa e me iguale hierarquicamente a Bento XVI....


CARDEAL PAULO CARVALHO: Sua Santidade declarou através do JBF que: Quem permanece comunista depois dos 60 anos é louco. Pergunta. O que VS sugere para pessoas como eu, Oscar, Niemmeyer, Natanael Rodrigues, Luciano Siqueira, e tantos outros. Internar num hospício, e colocar os referidos em camisa de força, ou ressuscitar a OBAN e eliminar os velhinhos marxistas na cadeira do dragão ou no pau de arara.
A última opção que me foi oferecida “ressuscitar a OBAN e eliminar os velhinhos marxistas” é um abuso de linguagem que só mesmo a sagrada instituição da Amizade permite que seja formulado. Claro. É uma gozação. E é assim que deve ser encarada. Quem me conhece, e me conhece de veras, sabe que eu não cogitaria, nem de brincadeira, esta alternativa. Mas, já que a frase foi escrita, e antes de responder sobre a questão central, a de “permanecer comunista depois dos 60 anos”, eu quero fazer as seguintes considerações:
1 - Eu morava em Brasília no Lago Norte e, num domingo, compareci ao Clube do Congresso, perto da minha casa, onde estava sendo realizada a eleição para a escolha da chapa que iria dirigir a Prefeitura Comunitária do bairro, um órgão extra-governamental, que cuidava, sobretudo, das atividades culturais, recreativas e esportivas da comunidade. Em lá chegando, verifiquei que na chapa na qual eu iria votar, a pedido de um vizinho (o famoso voto de cabresto...), constava o nome de um notório e famoso coronel, célebre supliciador de prisioneiros indefesos, que atuou na OBAN, esta sigla contida na sua pergunta. Não só não votei na chapa, como fiz questão de deixar registrada, por escrito, minha indignação e meu protesto pela participação de um torturador num evento de uma comunidade civilizada. Os arquivos da Prefeitura Comunitária do Lago Norte, se não são cuidados por burocratas relapsos, devem ainda ter o documento que eu lavrei de improviso.
2 – Quem já leu o meu romance “A Guerrilha de Palmares” sabe o lancinante relato, minucioso e apaixonado, que fiz da inominávelVia Crucis a que foi submetido o Herói Gregório Bezerra, o homem “feito de ferro e de flor”, pelas ruas da Casa Forte. Um gigante com quem tive o privilégio de conviver na adolescência e de quem guardo inesquecíveis exemplos de humanismo, de honestidade, de coerência e de bravura. Louvo e admiro a sua dedicação à causa que abraçou, embora, hoje em dia, enxergue perfeitamente quão equivocada era, e continua sendo, a sua ideologia. Teve a felicidade de morrer antes de testemunhar o ruidoso fracasso do Comunismo ao redor do mundo, a inescondível derrocada na prática de todos os ideais que ele cultuara durante sua longa vida. Minha admiração por este mito exclui, de pronto, desejar “cadeira do dragão ou pau de arara” pra qualquer pessoa, mesmo as que pensam diferente de mim.
3 – Em setembro de 2005, por ocasião do falecimento do líder comunista Apolônio de Carvalho, mandei pra todos os meus amigos, inclusive pra você, Paulo, via internet, uma mensagem que começava assim: Me sinto pequeno e de vocabulário parco pra dizer o tanto de admiração que sentia por Apolônio de Carvalho. Tanto quanto sentia por Gregório Bezerra. São duas coisas mutuamente excludentes: admirar estas duas figuras, como eu admiro, e pensar em ressuscitar a OBAN.
Dito isto, vamos à sua pergunta, que começa assim: “Sua Santidade declarou através do JBF que: Quem permanece comunista depois dos 60 anos é louco”
Eu nunca declarei isto no JBF. Nem no JBF, nem em qualquer outro lugar. E quem fez a declaração não falou em “comunista”. Falou em “esquerdista”.  Todavia, em 1920, Lênin escreveu um texto que tinha este título: “Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo”. Um texto que virou um clássico na história política do mundo. De modo que, posso concluir sem medo de errar, os comunistas, citados por você, são padecentes da doença infantil do esquerdismo.
Agora vamos aos fatos:
Em evento promovido pela revista IstoÉ, no dia 11 de dezembro de 2006, o Presidente Lula fez um discurso para uma platéia, formada quase na totalidade por grandes empresários. Neste discurso, de improviso, o Presidente pronunciou a seguinte frase:
“Se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas. Tem um parafuso frouxo”.
Repito: o autor da frase é o Presidente Lula. Eu apenas a repeti no Jornal da Besta Fubana. E, para seu conhecimento, ele complementou seu pensamento com esta afirmação:
“Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também tem problemas. Então, quando a gente está com 60 anos é a idade do ponto de equilíbrio. A gente se transforma no caminho do meio".
A filósofa Marilena Chaui, que tinha 65 anos de idade quando o Presidente Lula pronunciou a frase, é uma esquerdista e petista histórica que, numa entrevista, fez a seguinte declaração: “Quando Lula fala, o mundo se ilumina". Fiquei curioso pra saber a opinião dela sobre a afirmação do Presidente Lula e lhe mandei várias mensagens, querendo saber o que ela tinha a dizer. Mas não obtive qualquer resposta.
A opinião do comunista-esquerdista Oscar Niemeyer - citado por você -, sobre o que Lula falara a respeito dos esquerdistas, saiu publicada nos jornais da época. Vou transcrever pra você ficar sabendo:
“O arquiteto Oscar Niemeyer completa hoje 99 anos decepcionado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em quem votou e em quem recomendou o voto na eleição deste ano. A declaração de Lula de que ‘uma pessoa idosa de esquerda deve ter problemas’ surpreendeu o arquiteto, comunista desde a juventude. Embora, em entrevista por telefone à Folha, tenha dito que não gostaria de fazer comentários sobre a fala do presidente, Niemeyer deixou escapar o quanto ficou surpreso com o que leu nos jornais de terça-feira passada. ‘É, que remédio... Surpreendeu todo mundo’, afirmou ele. Aos amigos que estiveram com ele nos dois últimos dias, o arquiteto afirmou ter sentido decepção com a declaração do presidente. Disse que não esperava algo do tipo de uma pessoa de origem humilde, que militou no sindicalismo e na política com discurso e posicionamento esquerdistas.” 
E, para sua avaliação, vou transcrever o que pensa sobre o assunto o renomado intelectual esquerdista Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, professor do Departamento de Política e Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele falou sobre o assunto numa revista que deu à também esquerdista (e bota esquerdista nisso...) Revista Sem Terra, edição 37, Jan/Fev-2007.
Veja só:
Pergunta: Recentemente Lula disse que nunca foi de esquerda e que quem o é depois dos 60 anos é ruim da cabeça. O que você pensa desta posição do presidente?

Resposta do Professor: O discurso do Lula não tem novidade alguma. É o discurso típico da direita, que reduz a esquerda a um arroubo juvenil. É bom prestar a atenção no que ele falou, porque trata-se é um político muito competente. Mas Lula realmente cometeu um equívoco muito grande. Isso foi uma “velhataria”. Ele ignorou Marx, Engels, Florestan Fernandes, João Amazonas, Apolônio de Carvalho, Paulo Freire, Paul Sartre, Pablo Neruda, Oscar Niemeyer, Carlos Mariguella, Antônio Cândido, Hebe Bonafini, Roberta Menchú, entre outros. Foi um atentado contra a história e contra o que boa parte destas pessoas produziu de melhor, que são sexagenários de esquerda, muito ativos e inteligentes, aos quais a política e a cultura mundiais e brasileira devem muito.

Imaginem quem freqüenta a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), do MST, ouvindo o Lula dizendo que se você tem 60 anos e é de esquerda está ruim da cabeça. É realmente uma complicação muito grande da parte do presidente da República.
Ele já falou várias vezes que não é de esquerda, mas é bom que os movimentos sociais e as esquerdas em geral anotem o recado. Brincando de uma maneira leve e ligeira, ele está dando um recado político. Se está dizendo que não é de esquerda e quem é de esquerda não está bem da cabeça, cuidado com algumas políticas que podem vir por aí. Depois não digam que ele não avisou. Isso é fundamental em uma análise política, quando se trata de uma declaração como essa. O campo da esquerda é mais amplo do que o campo da esquerda revolucionária, então existe uma série de pessoas que se consideram da esquerda, mas nem por isso são socialistas e marxistas. Isso torna mais grave ainda o que o Lula falou. 
Eu fiquei aqui pensando numa das alternativas que você colocou na sua pergunta. Esta aqui:
“Internar num hospício, e colocar os referidos em camisa de força.”
E por que eu pensei nesta alternativa? Porque uma das figuras que você citou, que tem “mais de 60”, o festejado arquiteto Oscar Niemeyer, escreveu um artigo para o Jornal do Brasil em outubro de 2008, no qual ele disse o seguinte:
A revolução soviética representa 70 anos de vitória. A ela devemos a destruição do nazismo. As histórias de Kruchev sobre Stalin nunca me convenceram.”
Após o mundo ter tomado conhecimento, através da insuspeita palavra de Kruchev, que Stalin exterminou 10 vezes mais pessoas do que Hitler, (um massacre que Niemeyer chama de “histórias) eu pensei mesmo em levar a sério esta alternativa que você ofereceu de interná-lo num hospício. (Não esqueça que Hitler exterminou judeus, e Stalin exterminou compatriotas). Talvez, devido a ele já ser centenário, eu só não o obrigasse a vestir a camisa de força...
Pra terminar, quero registrar que, entre os “com mais de 60” que você citou, está o grande Luciano Siqueira que, como é do seu conhecimento, assina uma coluna no Jornal da Besta Fubana e é uma figura pública pela qual eu tenho o maior respeito e consideração. Um homem de reputação ilibada e cujo nome nunca foi envolvido em falcatruas com dinheiro público. Todavia, a admiração que lhe devoto, como homem público e como pessoa humana, exclui o seu posicionamento político, pois eu jamais poderia apoiar uma pessoa filiada a um partido cujo modelo de governo e regime era a putrefata Albânia, tiranizada durante anos pelo corrupto Enver Hoxha. Na minha cabeça de “reacionário”, a convivência civilizada entre pessoas que pensam diferentes é fundamental pra cidadania. Eu jamais seria partidário de um sistema político que eliminasse fisicamente ou prendesse num cárcere uma pessoa que pensasse diferente dos governantes no poder. Sangra meu coração de homem civilizado saber que ainda existem presos por crime de pensamento em alguns paises do mundo. Que nós dois sabemos quais são.
Finalmente, vou emitir agora a minha opinião pessoal sobre o fato de uma pessoa permanecer esquerdista depois dos 60 (ou direitista, ou ligada a qualquer outra ideologia):
Eu creio, firmemente, que são poucas as pessoas que a velhice premia com o bom senso. Como acho, adiando a modéstia, que é o meu caso.
CARDEAL PAULO CARVALHO: Luiz Berto é conhecido como escritor, poucos sabem da sua capacidade de fazer versos. Pois é, o Papa é poeta e um bom poeta! Deveria publicar seus poemas porque não faz isso?
Bem queria eu fazer jus a esta sua afirmação de que sou poeta. Eu me considero mesmo é prosador. E, dentro da Prosa, pelejo pra ser romancista. Nem mesmo fazedor de versos, ruins, eu me considero. Você tá dizendo isto por conta de dois ou três “poemas” que cometi e que, imprudentemente, caíram em mãos alheias. A poesia é uma arte muito séria, muito profunda que, além da vocação e do talento, eu acho que precisa, indispensavelmente, de muito preparo. Um preparo que passa, sobretudo, pelo conhecimento e pela leitura dos grandes poetas, brasileiros e portugueses, e de suas obras. Eu posso até admitir que já li quase tudo neste campo. Mas me falta o principal: o talento, o talento específico pra poesia. Além do quê, a praça já está tão cheia, tão congestionada de poetas que eu tenho certeza que não faço falta alguma. A Prosa, coitada, tão dificultosa, tão árida, exigindo enredo, fabulação, começo, meio, fim, pé e cabeça, suor e trabalho braçal, precisa mais da minha modesta ajuda.
E você abra o olho e tome cuidado, pois no começo da sua pergunta você diz que eu sou conhecido como “escritor” mas que poucos sabem que eu sei fazer versos. Dá a entender que poeta não é escritor, se é que não estou errado. Se a União Brasileira de Escritores tomar conhecimento de que você anda espalhando que os vates não são escritores, a entidade vai processar você. 99% dos filiados são escritores poetas, restando uma fatia de espaço bem pequeno para nós, escritores prosadores.


CIDA PEDROSA é poeta, advogada e editora do INTERPOÉTICA
JOSÉ HONÓRIO é poeta e membro fundador da UNICORDEL
ALLAN SALES é poeta cordelista, animador cultural, compositor e músico
CYL GALLINDO é poeta e contista
JORGE FILÓ é poeta, produtor musical e mantém o blog No pé da parede
RAIMUNDO DE MORAES é poeta, cronista, jornalista e colunista do INTERPOÉTICA
ALBERTO OLIVEIRA é poeta cordelista e coordenador da Livraria Expressa
MECA MORENO é poeta cordelista, compositor e membro da UNICORDEL
SENNOR RAMOS é webmaster e editor do INTERPOÉTICA
PAULO CARVALHO é médico e apologista da cultura popular

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