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Política
Roger Vailland

"Se o escritor não se encontra ligado aos problemas da sua época, nada tem a contar. Mesmo que queira, não se pode encerrar numa torre de marfim. Não existe qualquer torre de marfim. O homem que se fecha, não poderá contar-se a si mesmo indefinidamente e, como não fará nada, terá muito pouco para dizer de si próprio... De outro modo, reflete-se eternamente a si mesmo, refletindo-se... O escritor, como homem, está necessariamente comprometido com qualquer coisa, mesmo quando não acredita. Mas como criador existe uma maneira bastante particular de agir e reagir. A obra de arte tem as suas próprias exigências. Não se pode fabricar sob encomenda, mesmo se for o artista a fazê-la a si mesmo. Ou, então, o artista faz batota com a encomenda, toma o exemplo da Madona para pintar a sua patroa. Uma obra de arte – romance, quadro ou sonata – não é um instrumento nem uma arma, não se pode fabricá-la afiada de um lado para corte e redondo de outro para que bata. Não é verdadeiramente obra de arte, dado que a parte cortante e a parte redonda são necessárias uma ligada à outra, e não em função da forma como podem servir. Uma obra de arte é como um ser vivo: é a unidade da multiplicidade, cada parte assume o seu valor apenas em função do todo, e este não existe sem que cada parte se encontre organicamente ligado; se a obra de arte é bem-sucedida, começa a viver por si mesma. A partir desse momento exerce uma função sobre o mundo, como qualquer ser vivo, cuja definição é a de perpetuamente transformar o mundo por inteiro, sendo transformado por ele. Mas o autor não pode, de modo nenhum, prever que espécie de ação a sua obra exercerá".

Fonte: CHAPSAL, Madeleine. Os escritores e a literatura. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1967.

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