Volta para a capa
Por que escreve?
Pedro Nava 

"Hoje eu sou escravo disso. Minha vida resumiu-se em escrever e se eu parar vou ficar infeliz. Meu instante feliz é aquele em que estou trabalhando com a intenção de fazer um livro. Farei mais um ou meio ou um quarto de livro, mas estou trabalhando nele. Sou médico e assim aplico a mim mesmo o que aplico nos outros. Na minha idade a morte está aqui com a mão no ombro, está tudo prontinho; mas a questão é aproveitar a vida, quer dizer enquanto eu estiver respirando escreverei".

Fonte: Senecta: Revista Médica, vol. 7; nº 3 - Grazia Chiarizia

"Quando senti que estava entrando nesse caminho de ficar só, analisando bem, pensei: o que é que vou fazer quando ficar velho, se estiver com a cabeça funcinando direito? Pensei em coisas de que gosto: ser mercador de livros raros e velhos, que colecionei durante muito tempo de minha vida; ser mercador de gravuras, também tenho milhares delas. Pensei em tudo isso, mas depois resolvi retomar a minha tradição de mocidade. Eu tinha cultivado a literatura quando moço. E resolvi fazer uma literatura de velho, que não tinha idéia de expandir. Escrevi como distração, para meus irmãos, coisas que eles não sabiam, mas eu sabia, sobre minha família. escrevi meu primeiro livro e resolvi mostrar os originais a algumas pessoas que viviam insistindo comigo para escrever memórias, por causa de um artigo que fiz sobre Belo Horizonte, por ocasião do cinquentenário de Carlos Drummond de Andrade. E eu tinha dentro da cabeça aquela intenção. Mandei tirar quatro cópias: dei uma ao Drummond, para saber a opinião dele; uma ao Fernando Sabino e outra ao Otto Lara Resende, amigos em quem deposito a maior confiança. O Drummond, que não faz visita a ninguém, veio pessoalmente em casa me trazer os originais. Veio e ficou conversando comigo. E o que ele me disse foi de tal maneira para me encher de orgulho que nem repito: fica mal na minha boca. De qualquer modo, fez elogios que fiquei orgulhoso de receber. O Otto aplaudiu, gostou muito. Disse que tinha de publicar, que aquele era um livro que não podia ficar apenas numa cópia de família. E o Fernando Sabino não me disse nada. Até que um dia apareceu aqui. Ele tinha uma editora nesse tempo. Chegou e falou: 'A minha opinião de seu livro é essa'. E me passou o contrato de edição. Assinei, e aí ele fez o corte de meu livro, que tinha 600 páginas. Ele falou: 'Seu primeiro volume acaba aqui, na morte de seu pai e sua volta a Minas. Esse é um ponto capital na sua vida. Você interrompe aí, porque deixa uma margem de suspense para o leitor continuar a leitura de sua obra. E você já fica com dois capítulos prontos para o segundo volume'. Tanto assim, que há um intervalo muito pequeno entre um livro e outro. Foi dessa maneira que fui para a memória".

Fonte: D.O. Leitura, janeiro de 2000 (Revista do Diário Oficial de S.Paulo) - Edina Regina Pugas Panichi

Prossiga na entrevista:

Como escreve?

Onde escreve?

O que é inspiração?

Política

Cinema

Medicina

Crítica literária

Influências literárias

Relações literárias
Acade
mia
Biografia