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Crônica canina

              O Vigilante Rodoviário

                                                                                            João Labrador

Como os menores de 50 anos dificilmente saberão quem foi o Vigilante Rodoviário, é preciso que se fale a respeito para que a história permaneça no "no ar". Trata-se do primeiro seriado de televisão apresentado pela TV Tupi nos anos 1961 e 1962, com direção e roteiro de Ary Fernandes e participação de Alfredo Palácios. A série foi vencedora do prêmio Roquete Pinto de melhor filme para TV em 1962.

A bordo de sua moto Harley-Davidson ou de seu Simca Chambord, o Vigilante Rodoviário Carlos enfrentava todos os tipos de criminosos. Em seu trabalho, o vigilante era acompanhado pelo pastor alemão Lobo (King, morto em 1971 com 15 anos). Um cachorro muito esperto no combate ao crime, cuja missão era manter a lei nas rodovias de São Paulo. Era uma dupla que transmitia muita simpatia, inspirando proteção e segurança, além de veicular mensagens educativas. A série, patrocinada pela Nestlé, teve apenas 36 capítulos, mas fez tanto sucesso junto ao público infanto-juvenil (e adulto também) que até hoje existem fãs do herói espalhado pelo Brasil. Ainda em 1961, o sucesso do programa foi alargado para o gibi O Vigilante Rodoviário, da editora Outubro. Foi uma das primeiras histórias em quadrinhos inteiramente brasileira, ilustrada por Flavio Colin e Oswaldo Talo, com roteiro de Gedeone Malagola, seguindo o mesmo curso do seriado na TV.   

Mais de 200 atores se candidataram ao papel do herói no piloto da série, mas nenhum agradou ao produtor e diretor Ary Fernandes. Até que num momento de desespero, resolveu testar um de seus assistentes de produção, Carlos Miranda. O resultado foi melhor que o esperado. O ator fez tanto sucesso, foi tão convincente e ficou tão marcado pelo papel que quando abandonou a carreira artística tomou-se um vigilante rodoviário na vida real até se aposentar como tenente da Polícia Rodoviária.

Muitas foram as dificuldades enfrentadas pela produção da série idealizada para concorrer com os enlatados americanos. A equipe não tinha dinheiro para comprar os negativos de uma só vez, pois recebiam o apoio financeiro após a exibição de cada capítulo. Assim, iam comprando na Kodak aos poucos. As dificuldades eram muitas: não havia vídeo-tape, as filmagens eram feitas em filmes de 35mm, copiadas, montadas, dubladas e reproduzidas em 16 mm para serem transmitidas pela TV. Para piorar as coisas, três dias após a assinatura do contrato com a NestIé, Jânio Quadros assume a Presidência da República e taxou todos os produtos importados em 400%. Com isso a verba da Nestlé já não era suficiente, uma vez que a maioria dos materiais eram importados, inclusive o filme. Nesta época já havia inflação e valor do contrato era fixo. Mesmo assim o projeto seguiu por mais um ano.

O seriado terminou, por falta de dinheiro, quando mudou a Diretoria da Nestlé, que não quis arcar com os custos para dar continuidade à série, que custava dez vezes mais que as produções estrangeiras. Passados mais de 20 anos, o Curso de Cinema da UFF-Universidade Federal Fluminense filmou O Vigilante Rodoviário, um curta de 16mm com 36 minutos de duração. O filme teve a direção de Felipe Borges, Flavio Candido e Paulo Pepê Halm e foi patrocinado pelo DNER-Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Pouco depois, em janeiro de 2001, o tenente-coronel aposentado Carlos Miranda foi contratado pela Prefeitura de Rio Claro (SP) para iniciar um serviço de consultoria com o objetivo de reduzir o alto índice de acidentes de trânsito na área urbana da cidade.

Para testemunhar o sucesso atingido pela série, apresentamos nesta seção dois relatos de quem, de uma forma ou de outra, participou desta incrível aventura. 

Nós e o cão Lobo- Vania Fernandes Pesce

Lobo, herói de quatro patas - Paulo Boccato