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Como escreve?

Pedro Nava

“Eu procuro seguir um sistema, que é o seguinte: de manhã, que é a hora em que eu me sinto com menor capacidade criativa, procuro escrever minhas cartas, o que é sempre mais leve do que o trabalho literário propriamente dito, ou organizar o meu arquivo, que nunca está em ordem. Sou um vagatônico, e os vagatônicos sofrem de manhã, a manhã não é agradável para eles, bom mesmo é a noite afora. À tarde eu crio, de meia dúzia de linhas, uma página, até no máximo oito, nove páginas datilografadas – que eu escrevo diretamente a máquina. A produção varia, conforme a dificuldade do assunto. A noite eu deixo pra fazer a revisão, pra corrigir. Na minha idade, o sujeito deve estar pronto pra tudo: quero deixar um texto pelo menos revisto por mim... A meia dúzia de linha que estou tentando escrever do novo livro já apresenta correções, você pode ver o número de chamadas e correções que eu faço. Se você me faz agora uma revelação que interesse às minhas memórias, ao desenvolver do meu trabalho, se me conta alguma coisa lá do Ceará, geralmente eu tomo nota, saio sempre com um papel no bolso pra tomar uma notinha ou outra, às vezes até de uma palavra só – dessas que nascem como uma flor, são bonitas em si. Há palavras assim, quem mexe com as letras sabe disso. Você conhece de repente e é uma revelação – ou a maneira como ela foi dita, como foi pronunciada. Tomo nota das coisas que me importam, numa série de cadernos. Depois eu corto aquilo como fichas – tenho o cuidado de escrever só de um lado da folha, para depois cortar”.

Fonte: CAMINHA, Edmilson. Palavra de escritor. Brasília: Thesaurus, 1995.

"Eu sempre faço uma súmula do que vou escrever. Tomo nota, seguidamente, quando me ocorre umalembrança interessante, um fato curioso ou quando vejo uma combinação de duas palavras bonitas em jornais ou livros. As páginas do meu caderno de anotações acabam virando uma fichinha que vou guardando, cada uma com seu número. Quando terminei meus dois primeiros livros, joguei todas as fichas fora. Contei isso ao Drummond e ele me passou uma espinafração muito grance. Ele disse: 'Tenha respeito pelo que você escreve. Você guarde todas as notas, porque, se você for estudado mais tarde, você deixa isso como documentação". Eu passe a seguir o conselho e com isso adquiri maior respeito pelo que escrevo, porque para escrever cada página minha, eu consulto duas ou três fichas. Isso me deu certa tranquilidade, porque o que escrevo é resultado de elaboração e de notas, é um trabalho cavucado, meditado".

Fonte: D.O. Leitura, jan. 2000.  

 

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