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Jornalismo
Anderson Braga Horta

"Eu entrei para a Câmara dos Deputados em 1957, no Rio de Janeiro, como datilógrafo. Dois anos depois, fui trabalhar no jornal O Globo. Vim para Brasília em 1960 e continuei no Globo, como copydesk, e na Câmara, como redator. Aí chegou uma hora que tive que escolher entre um ou outro. E não dava para optar pelo jornalismo, porque o que eu ganhava bem mais na Câmara. Por isso, depois da experiência em mais dois ou três jornais, larguei o jornalismo. Agora, a minha história com a literatura é mais antiga. Comecei a escrever em Biopoldina – MG, aos 15 anos. E em 1971 publiquei meu primeiro livro, quando tinha 37 anos.. Acho que foi mais um conflito entre jornalismo e serviço público. ficou difícil conciliar as duas coisas, a compatibilidade de horários ficou complicada. Eu aprendi muito na época ue estive no jornal, coisas válidas para toda a vida. Uma delas foi ser mais direto e econômico na escrita - esse que é o preceito básico do jornalismo e também da literatura moderna. Essa postura de 'escrever é contar palavras' ajuda muito na literatura... O jornalista que tem que trabalhar diariamente para o jornal tem o proble de tempo e de paciência para escrever de novo quando chegar em casa - agora, sem a pressão do chefe. Mas aquele jornalista que tem coluna em jornal, que se dedica mais a pautas literárias ou culturais, esse sim consegue tempo e jeito para escrever em casa. E, geralmente, o escritor atua mais em colunas de jornais. Temos vários exemplos de escritores que foram jornalistas, por isso não vejo incompatibilidade entre as duas áreas. São coisas diferentes, é verdade, mas escrever para jornal pode ou não ser diferente do que escrever literatura. Os cronistas estão aí para provar que isso é possível...O trabalho no jornal ajuda a divulgar e projetar o autor. Drummond e Bandeira foram grandes poetas, mas o que eles mais vendiam eram crônicas, que implicam num contato diário ou semanal com o público. Isso dá mais visibilidade ao escritor. Com o Carlos Heitor Cony foi a mesma coisa: a projeção veio reforçada pelo jornal. Mas a literatura hoje está muito diversificada. Com a internet, então, fica mais fácil dar publicidade ao trabalho literário. E isso é bom, porque o jornalismo e a tecnologia permitem que mais gente publique literatura. Com tanta diversidade, os que se destacam são minoria. Mas, quanto maior o número de gente se dedicando às palavras, mais chance de aparecer um grande nome por aí.

Fonte: ANDRADE, Marcela Heitor. Jornalistas podem ser escritores?: 21 entrevistas brasilienses. Monografia apresentada à Faculdade de Comunicação da UnB como requisito para a graduação em Comunicação Social. Brasilia: UnB, 2008.

 

 


 

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