João Cabral de Melo Neto
"Ah, eu gosto de futebol! Mas, agora, como não vivo no Brasil, não vou a futebol. A grande vantagem do futebol brasileiro é que é o único futebol que você assiste sem estar interessado na vitória de um clube. Você assiste porque é um espetáculo bonito. Com futebol europeu não acontece. Você não vê uma jogada maliciosa, não vê um gesto harmônico, não vê elegância. Só aquela correria. E correria não me interessa. Só consigo me interessar pelo futebol brasileiro. Há os que gostam de ver futebol porque gostam de ver o time predileto ganhar. Mas acontece que meu clube é o América. Ganha tão pouco... Então, gosto de futebol não para ganhar. Gosto pelo espetáculo. Eu era América no Recife. Quando voltei para o Rio, era normal que fosse América também. Joguei um campeonato pelo América, no Recife. O Santa Cruz tinha chegado ao fim do campeonato empatado com o Torre, um clube que nem existe mais. O Santa Cruz não tinha center-half. Então, descobriram que a minha mãe era fanática pelo Santa Cruz, embora nunca tenha ido a um jogo de futebol. A diretoria do Santa Cruz, então, foi pedir à minha mãe que me fizesse jogar pelo Santa Cruz. Joguei. Disputei o campeonato com o Torre e fui campeão juvenil pelo Santa Cruz, em 1935"
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Fonte: Entrevista concedida à Geneton Moraes Neto, em 1986, e postada em seu site em 10/06/2007
Futebol & Diplomacia & Poesia
O titular da cadeira número 37 da Academia Brasileira de Letras é um caso único de jogador de futebol que deu certo como diplomata e se consagrou como poeta e, seguramente, o único acadêmico que pode ostentar glórias tão díspares - como a de ter sido campeão pelo Santa Cruz Futebol Clube e autor dos versos de um clássico da literatura brasileira, o poema "Morte e Vida Severina". João Cabral de Melo Neto é um exemplo em carne e osso de que a força física do futebol pode conviver sem grandes traumas, em uma só pessoa, com um extremo apuro intelectual.
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Fonte: WWW.jornaldepoesia.jor.br
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