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Música
Carlos Fuentes

“A música é uma influência cada vez maior na minha obra. Aprendi, com o tempo, a ouvir. Neste último romance (Terra Nostra, 1975) há muito dos trios e quartetos de Haydn e Schubert”.

Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/1983 – Bella Josef

 

No caso de Instinto de Inez, havia uma obsessão pendente pela ópera, estilo do qual sempre fui amante desde o tempo em que morei em Buenos Aires. Assim, como no ano passado se comemorou o centenário de Hector Berlioz, que considero um músico que viveu à frente de seu tempo, fiquei ainda mais motivado para escrever esse romance. Berlioz introduziu uma série de novidades sonoras, preocupando-se com a acústica das salas, com o poder direcional dos instrumentos, com a repartição e equilíbrio das massas sonoras, enfim, por ser um músico revolucionário, à  frente de Stravinski e Carl Orff, que resumiu todas essas qualidades em A danação de Fausto, a ópera que é a peça central do  romance.. por que é a opera ideal para dividir o romance em dois tempos: o presente, no qual vivem os personagens, e o tempo retroativo, para o qual os personagens são levados por meio da interpretação musical. E nenhuma outra ópera traz, de forma tão perfeita, o conceito da origem dramática da linguagem... (Para equilibrar a melodia com a prosa) eu me inspirei na história de uma maestro romeno, Sergiu Celibidache, que viveu no México no fim dos anos 1940. Era um homem muito tempestuoso, apaixonado, e que não gostava que gravassem suas execuções. Ele inspirou o maestro do meu romance, Gabriel Atlan-Ferrara, que se apaixona por uma cantora que se transforma em uma diva, Inez Prado. A relação acontece unicamente por meio da música; socialmente, eles quase não se encontram. Pois bem, a relação musical é tão intensa que remete Inez a um tempo distinto, justamente ao da ópera A danação de Fausto. Portanto, quero ressaltar que a música é, para mim, uma inflexão da paixão, que me remete tanto ao primeiro som sentido por um humano (talvez algum grunhido para espantar um animal) até o ruidoso final representado pela hecatombe nuclear. Ouvir música é, para mim, escutar os sons da nossa origem, dos nossos antecedentes”.

Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2004 – Ubiratan Brasil

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